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domingo, 28 de setembro de 2014

S.O.S. H2O: O “VELHO CHICO” CHORA!

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca     Fonte: Arquivo do autor (2014)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
Estamos presenciando a pior estiagem dos últimos 50 anos. Normal? Não! Absolutamente não é normal! A mídia tem dado amplo destaque na terrível seca que toma conta da maior parte do país. Muitos insistem na tese de que esta “louca” estiagem é absolutamente normal. Falam em nome dos supostos fenômenos naturais que o planeta azul tem que enfrentar em seu ciclo geológico, geomorfológico e biogeoquímico. Até pode ser! Mas, se queremos realizar uma pesquisa científica séria, faz-se necessário que avaliemos todas as variáveis presentes no nosso objeto de investigação (no caso em questão, a seca que faz parte da gama de problemas decorrentes das alterações climáticas).  E, neste caso como em todos os outros que vieram após o domínio tecnológico do homem sobre a natureza e seus recursos, a ação antropogênica é mais uma das variáveis que fazem parte do escopo de hipóteses presentes na pesquisa sobre quaisquer das consequências decorrentes do espectro das “Alterações Climáticas”. Portanto, a ação humana sobre os recursos naturais não deve jamais ser desconsiderada, muito ao contrário, ela carrega por si mesma um enorme peso sobre o grande mosaico de problemas que compõem a teia das “Alterações Climáticas”.
Então, o homem é o grande vilão da seca? Não! O Homem, por si só, não é capaz de causar tamanho desequilíbrio ambiental que atinja amplas e consideráveis áreas do planeta. Ele, por si só não é capaz de tal desequilíbrio, no entanto, a alta tecnologia produzida por ele e incorretamente utilizada pode ser uma das maiores responsáveis por tal desequilíbrio. Assim, indiretamente, o homem pode ser um dos principais responsáveis pelo monstruoso problema decorrente da forte estiagem, pela qual estamos passando.
Vamos aos fatos! Pela primeira vez registou-se a seca da nascente do Rio São Francisco, na Serra da Canastra. O “Velho Chico” chora! A serra da Canastra está inserida no grande mosaico fitofisionômico do domínio dos cerrados brasileiro. Enquanto estamos pensando neste gravíssimo problema da falta de água potável, basta que trafeguemos em alguns trechos de nossas estradas de terra (as chamadas vias secundárias) para que observemos incontáveis trechos pontuados por imensos “Pivôs” que retiram a água pura do lençol freático e a joga a uma altura de 1,2 ou 3 metros. Tudo em nome da “Santa Soja” ou da “Santa cana-de-açúcar”, com vistas a abastecer os profundos bolsos do Tio Sam e seus apadrinhados. E, ainda tem gente que defende a tão propalada “Transposição do São Francisco”, um rio quase que totalmente morto, pontuado por inúmeras hidrelétricas e, agora com sua principal nascente morta. Onde nasce o São Francisco, afinal? O fato é que não é mais na Serra da Canastra.
Somente a título de ilustração, das doze principais Bacias Hidrográficas que cortam o território brasileiro, 08 (oito) delas ou nascem ou cortam o domínio dos cerrados. Então, o bioma cerrado se constitui na grande caixa d’água da América do Sul. E nós estamos retalhando todo este riquíssimo mosaico de recursos naturais e de biodiversidade. O São Francisco chora, o Rio Cantareira chora, a Serra da Canastra a chora! Aliás, eles já não podem mais chorar, pois, as lágrimas são produzidas a partir das águas e as águas potáveis estão deixando de existir. E nós, até quando existiremos?    

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