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sábado, 21 de novembro de 2020

20 DE NOVEMBRO: DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E DE LUTA CONTRA NOSSA PRÓPRIA TIRANIA

 

                                                                                          Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2018)

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca

Caras (os) amigas (os)!

Sinceramente, meus caros (as) amigos e amigas, eu não iria postar neste dia 20 de novembro de 2020, pois, ando infinitamente triste com os atos fascistas de todos os matizes que assolam nosso povo e nosso país. Porém, não me contive diante das monstruosidades, frutos de um sistema em estágio de barbárie, e isto me obriga a fazer esta postagem. Na esteira do assassinato cruel de George Floyd nos EUA, que sacudiu o planeta, assistimos agora (ontem) em nosso país e em pleno dia da consciência negra ao monstruoso assassinato de João Alberto Silveira de Freitas em um supermercado da rede Carrefour em Porto Alegre (RS).

E, na esteira das forças fascistas, do preconceito e da barbárie, é chegado mais um dia 20 de novembro. Data nacional dedicada à consciência negra. Mas, além de refletirmos simplesmente sobre a consciência negra, talvez se faça urgente refletirmos sobre nossa própria consciência. É bom, vez em quando, fazermos, pelo menos uma breve visita à nossa própria consciência! É bom, vez em quando, procurarmos dialogar conosco mesmos, com nosso próprio pensamento! Existe uma grande distância entre o que se diz e o que, de fato, se faz. Como diria o saudoso professor Paulo Freire “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática”. É sob esta orientação do nosso grande educador que, ora, construo esta singela homenagem, não somente à consciência negra, mas também ao conjunto de todas as consciências dos oprimidos do mundo.

Alguma vez na vida paramos para consultar, para visitar nossa consciência? Realmente sabemos quem mora, quem habita dentro de nossas consciências? Quem realmente habita dentro de nós? É deveras fácil dizer-se contra o preconceito, contra a discriminação, contra a tirania. Até os piores ditadores, vez em quando, consultam sua vil consciência. Mas, isto não é suficiente. É deveras fácil dizer-se contra a opressão e em favor dos oprimidos. Mas, repetindo a indagação: você sabe quem mora em nossa consciência? Será o oprimido ou será o opressor? Muitas vezes criticamos atitudes alheias em nome da luta contra a tirania e a opressão, mas, de fato, nossa prática não passa da encarnação da própria tirania, da própria opressão.

Por isso, meus (minhas) caros (as) amigos (as), muitas vezes precisamos revisitar nossa consciência branca, eurocêntrica, machista, preconceituosa e hipócrita para tentarmos compreender, pelo menos, o significado de ter uma consciência. Aliás, para que serve uma consciência, afinal? Será que serve para comentarmos o mundo, as atitudes alheias, as práticas alheias? Ou será que possuímos uma consciência apenas para ser apaziguada nas datas de natal, de ano novo, nos dias de velório? Não! Meus caros, minhas caras! Essa tal de consciência tem que servir para alguma coisa, tem que servir para intervirmos concretamente neste mundo desigual, no sentido de modificá-lo de transformá-lo.

A história da cultura africana no Brasil foi contada, até os tempos d’agora, pelas elites intelectualizadas que têm o papel (delegado por elas próprias) de contar a história do Brasil, da ocupação e delimitação das fronteiras de seu território, isto é, a história oficial do país é reinventada pelas elites intelectuais representantes das ideias de civilização da sociedade ocidental. Mesmo após a balela da dita “abolição” da escravatura, a história continua a ser inventada pela elite política e econômica do país. Aos setores populares do país são negados o direito de opinar sobre sua própria história e sua própria cultura.

Neste sentido, é preciso voltarmos nossos olhos para nossa própria consciência e indagarmos: de onde vieram as origens de nosso povo? Elas brotaram do mesmo solo avermelhado, regado com o mesmo sangue dos antepassados africanos que edificaram esta nação e consolidaram sua riqueza. Vamos transformar o dia “20 de novembro” em data realmente histórica, de nossa libertação diante do mundo e das coisas do mundo. Assim, neste dia da consciência negra (e do conjunto de todas as consciências dos oprimidos do mundo) vamos abrir nossas algemas e soltar as amarras e os grilhões que nos fazem prisioneiros de nós mesmos. Que nos mantém aprisionados ao preconceito, à discriminação, à tirania. Vamos tomar posse, de uma vez por todas, de nossas próprias consciências, libertando os milhares de Zumbis (e Dandaras), para que eles ganhem o mundo e nele edifiquem quantidades incontáveis, intermináveis e eternas de Palmares. Basta de discriminação e preconceito! Basta de opressão!   

Créditos da fotografia: Carmen Lucia Ferreira Silva (2018)

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