Total de visualizações de página

sábado, 28 de novembro de 2020

PARTE NEGRA DE UMA CLASSE

 

                                                     Foto: Prof. Valter Machado da Fonseca (2020.    Créditos da foto: Carmen Lucia Ferreira Silva

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca

Do seio da mãe África surgem os homens imponentes 

Pele de bálsamo, lábios carnudos, rostos afinados

Demonstrando o tom da raça de guerreiros onipotentes

Da nação sofrida, perseguida pela desigualdade

Onde habitam homens que perseguem o sonho de liberdade

 

No porão empoeirado dos navios mal cheirosos

Eles se amontoam, sem destino, separados pela dor

Remam com orgulho, entoam cantos de união

Cabeça erguida, guardam lembranças da terra mãe

Não sabem que o lucro, a ganância e exploração

Colocam em seus ombros a árdua tarefa, outra batalha

De noutras terras construir outra nação

  

São meses, sem sol, sem dia, sem noite e sem luar

Alguns perecem, outros ao mar vão se jogar

Quando, enfim, chegam ao destino no além mar

Jogados ao solo como bichos maltrapilhos

Ainda trazem no peito, o orgulho nobre de não chorar

 

Vão pra fazenda do homem branco, sinhô patrão

Adubar a terra com o suor trazido da velha nação

A noite chega vão pra senzala lamentar

A perda dos filhos, dos irmãos sumidos na terra distante

No ar, apenas o eco do som triste dos tambores

Que estalam como chicotes nos ouvidos dos opressores

 

De madrugada, na calada da noite, vêm os filhos dos doutores

Violentar suas mulheres, suas filhas como num circo de horrores

Por puro instinto de um desejo animalesco

Enchem o ventre das mocinhas que relutam com ousadia

Com o sêmen turvo, manchado com o sangue da covardia

 

Depois de décadas de martírio e sofrimento

Eles resistem nos quilombos construindo a liberdade

Retumbam os tambores com a esperança da igualdade

Depois de muita batalha vem a navalha de fio cortante

Através da pena no papel do homem branco

São expulsos das terras que fecundaram com seu suor

 

Jogados nas periferias das cidades embrutecidas

Onde crescem o ódio, o preconceito e a dupla exploração

Sem ter o que fazer, o que comer, são marginais

Ganham migalhas na “liberdade” da privação

 

Hoje, os descendentes da mãe África continuam imponentes;

Continuam a luta em busca da liberdade

Mal sabem eles que são parte dos explorados,

Da força, de trabalho que dão quase de graça pro patrão

Vão descobrir que o preconceito, o medo e traição

Serão a semente sombria de uma classe que porá fim a opressão.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário