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terça-feira, 3 de abril de 2012

CHICO ANYSIO: AS MIL E UMA FACES DE UM GÊNIO

Foto: Personagem Prof. Raimundo.               Fonte: onordeste.com

Valter Machado da Fonseca*
Para falar de Chico Anízio é preciso, em primeiro lugar perceber a genialidade de uma vastíssima obra, que vai do erudito ao popular. É preciso ter sensibilidade para perceber as diferentes faces do povo brasileiro, as entrelinhas de uma obra que percorre todas as vias e todas as tramas da vida de nosso país. Chico conseguiu percorrer, com maestria, todos os labirintos e os bastidores da vida política de nosso país. Por intermédio de uma crítica direta, muitas vezes até sarcástica, conseguiu tirar um “sarro” dos generais nos tempos de chumbo, por meio da ironia direta da “Salomé”.
Podemos dizer que Chico, às vezes com um humor ácido, outras vezes com nostalgia, romantismo e ironia, soube discutir como ninguém as questões políticas do país e os principais problemas de nosso povo. Foi dono de um humor que realçava, às vezes em um único personagem, todas as nuances culturais do povo brasileiro. Sabia, como ninguém, escavar a realidade cruel das vidas das diversas “gentes” desse Brasil. Seu humor, muito longe da superficialidade, ia fundo, embora com uma linguagem captada por todos, nas questões mais complexas do drama e da trama da vida de diversos setores da população do país. Era genial, na mais completa extensão da palavra!
Atuando, beirava a perfeição na personificação de suas criações. Seus personagens eram reais, tinham sensibilidade extrema, riam, sentiam raiva, ridicularizavam, tiravam “sarro” da vida e dos homens, amavam e eram amados. O conjunto de sua obra conseguiu reconstruir na totalidade a memória e a identidade de nossa gente. Soube representar, com harmonia e perfeição, o povo do Nordeste, os miseráveis e mendigos, a juventude, as tendências musicais, a corrupção política e econômica, a nostalgia, o homem do campo, a ficção formatada de realidade, enfim, construiu efetivamente, as milhares de faces que fazem o “todo” da identidade do povo de nosso Brasil. Sua obra reflete as angústias, as alegrias, o descontentamento, a linguagem, os simbolismos e a essência de nossa cultura. Isto fica muito claro nos seus personagens como o Prof. Raimundo, o Pantaleão, o Jovem, Azambuja, Salomé, Bento Carneiro, Roberval Taylor, “Seu Popó”, Justo Veríssimo, Alberto Roberto, Bozó, Coalhada, Gastão, Haroldo, Nazareno, Painho, Véio Zuza, Profeta, dentre inúmeros outros.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que Chico Anízio reinventou o humor com uma fórmula nunca dantes experimentada. Diante disso, o humor brasileiro passou a se constituir de duas fases distintas, uma antes do Chico e outra depois dele. Sua forma irreverente de fazer humor influenciou e vai continuar influenciando inúmeras gerações [de crianças a adultos]. Sua marca registrada mostra uma improvisação esplendorosa, marca indelével que somente pode ser constatada nas “tiradas” dos grandes gênios da humanidade.
Por fim, a obra de nosso querido Chico é de uma riqueza incalculável e inestimável que com certeza, jamais será esquecida pelo povo brasileiro. Com toda a certeza, a nossa telinha ficará mais sem graça e mais triste, pois existirá, sempre, uma eterna lacuna a ser preenchida no humor brasileiro e mundial. Obrigado “grande” Chico Anízio! Obrigado por dar, de graça, um pouco de alegria para o nosso povo tão sofrido!


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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