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quinta-feira, 29 de março de 2012

REPENSANDO O PENSAMENTO!

Fonte: memoriasdaliravelha.blogspot.com

Valter Machado da Fonseca*
O que é o ato de pensar? O que é o ato de pensar senão a prática de dialogar conosco mesmos? Pensar significa realizar uma introspecção dentro de nossos próprios devaneios, em nossa própria angústia. Pensar talvez seja remexer em nossos sentimentos, em nossas emoções mais íntimas, mais profundas. Pensar talvez seja a recusa, insistente, persistente de aceitar as incongruências, o óbvio, a verdade mentirosa da realidade profana do cotidiano. Pensar talvez seja a ousadia de dizer um retumbante, um sonoro “não” para nossas próprias verdades consagradas universalmente ao longo da história humana em sua efêmera existência.
Pois bem! Meus (minhas) caros (as) leitores (as)! Definir o ato de pensar talvez seja uma tarefa das mais penosas. Talvez, ao tentar defini-lo estejamos de fato desconstruindo o próprio pensamento. Certa vez, um amigo me disse que o ato de pensar talvez seja uma maneira suave e dissimulada, até mesmo covarde de negar nossa própria essência enquanto seres humanos inacabados, imperfeitos. Que talvez este ato seja uma maneira discreta de desconstruir a nós mesmos. Talvez seja uma forma, uma expressão consciente de um processo inconsciente. Um processo interno de tentar falar de nosso estágio de incompletude humana, sem que seja preciso dizer as palavras, sem que seja preciso se submeter ao olhar e ao julgamento alheio.
Pensar, meus camaradas! Talvez seja tirar um “sarro” silencioso, escondido, de nossa própria imperfeição. Imperfeição que a prepotência humana acredita ser alguma forma de supremacia de nossa espécie sobre os demais seres vivos, tanto da Terra como de outros planetas e outras galáxias. Aliás, o ser humano tem a hipocrisia, a prepotência “suprema” de se achar superior à sua própria espécie. Ele tem a ousadia de, em seu completo estado de inacabamento, se achar um individuo pronto, acabado, irrefutável, definitivo.
Quando repensamos o nosso “pensar”, chegamos à dolorosa conclusão de nossa condição de incompletude. Principalmente ao constatar que atacamos nossa própria espécie, matamos outros indivíduos, ceifando-lhes impiedosamente a vida. E fazemos isso, covardemente, em troca de que? De nada, absolutamente nada! Muitas das vezes [para não dizer a maioria delas] em troca de um pedaço medíocre de papel que chamamos de dinheiro. Será que esta é uma atitude de quem realmente pensa? Se isto é fruto do pensamento, talvez seja prudente que abominemos o próprio pensamento.
Quando levantamos, pela manhã, pensamos o que faremos naquele dia. Pensamos no trabalho, cuja finalidade máxima é ganhar dinheiro. Ganhar dinheiro para que? Para comprarmos coisas, a maioria delas inúteis. Mas, o nosso pensamento ordena que compremos. É preciso comprar para fazer o dinheiro [papel, virtual ou não] circular e gerar mais dinheiro. E, para que gerar mais dinheiro? É preciso gerar mais dinheiro para enriquecer alguém, que em 99,9 % das vezes não somos nós. Mas, o nosso pensamento insiste que compremos. Meu deus! Nosso pensamento nos ordena que consumamos produtos, em sua maioria inúteis, descartáveis. Mas a ordem é comprar para enriquecer alguém e, esse alguém não somos nós. Afinal, quem manda em nós?
Assim, meus caros amigos, é preciso tomar cuidado com nossos pensamentos! É necessário que saiamos da mediocridade de nos escondermos dentro de nós mesmos. É urgente que abandonemos a comodidade de nossa intimidade, em detrimento de interpretarmos a realidade concreta do mundo, das coisas do mundo. Como disse o “velho” Marx para os filósofos alemães: vocês pensaram o mundo, agora cabe a nós transformá-lo. É preciso que abandonemos o campo das ideias e do pensamento para intervir em nossa própria realidade, caso contrário, correremos o sério risco de atingirmos o estágio de pensar que realmente somos algo que jamais chegaremos a ser! 


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutorando pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (Uniube). machado04fonseca@gmail.com

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