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sábado, 3 de março de 2012

8 DE MARÇO: quem é esta “figura” chamada mulher?

 Rev. Francesa: Mulher como símbolo da liberdade. Fonte: historiadecifrada.blogspot.com

Valter Machado da Fonseca
Nos diversos modelos de sociedade que perpassam a história das civilizações, a “disputa” entre homens e mulheres tem sido um ingrediente marcante da história da luta de classes em todo o mundo. Embora nos tempos modernos a maioria desconheça o fato, em diversos modelos de sociedades pretéritas houve longos períodos históricos em que a supremacia não era masculina, mas sim feminina: eram as denominadas sociedades matriarcais.
Desde o início da gestação da sociedade capitalista, isto é, na dita Idade Média ou Período Medieval, que surgiu a necessidade imperiosa da imposição do domínio masculino sobre o feminino. Embora a bandeira da revolução burguesa destaque a figura justamente de uma mulher ostentando o pavilhão da revolução [uma mulher imponente, bela e com os seios nus], é exatamente nesta época que a mulher é subjugada com o domínio machista beirando a mais completa violência e crueldade. Neste modelo de sociedade é que vai imperar a divisão social e sexual do trabalho, como forma de dominação plena do capital sobre o trabalho.
A partir daí, a figura da mulher passou a desempenhar importante papel nos anais da luta de classes em todo o mundo. O dia 8 de março foi institucionalizado como o “Dia Internacional da Mulher” a partir de uma importante marca histórica contra a exploração do capital sobre o trabalho. A origem da data se vincula à revolta das tecelãs de Nova Iorque contra a exploração capitalista. Neste mesmo dia, no ano de 1857, as tecelãs [operárias] de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque realizaram uma greve heróica contra a monstruosa e impiedosa jornada de 16 horas ininterruptas de trabalho. Na repressão ao movimento grevista os “donos do capital” atearam fogo à fábrica, queimando vivas cerca de 130 operárias/tecelãs. Nascia, assim, o dia internacional da mulher. A data foi institucionalizada em 1910, durante uma conferência na Dinamarca, por iniciativa de Clara Zetkin, uma ativista feminista e foi referendada pela ONU somente no ano de 1975.  
Mas, quem é a mulher dos dias atuais? 
O século XX, em especial, foi marcado por significativas vitórias do movimento feminista [ou feminino] em nível mundial. Aqui vale relembrar o movimento intitulado de “A queima dos sutiãs”. Este movimento retratou a queima simbólica dos sutiãs por cerca de 400 ativistas do WLM (Women’s Liberation Movement), durante o concurso de Miss América em 1968. A simbologia deste movimento significou o “basta” das mulheres de todo o mundo contra o preconceito e a discriminação sexual e profissional em todo o planeta. A partir daí, as mulheres têm conseguido conquistas significativas tanto no que se refere às liberdades individuais, de direitos humanos, como no próprio mundo do trabalho.
Hoje, milhares de organizações, entidades e ativistas que se reivindicam da luta em defesa dos direitos e conquistas da mulher se multiplicam e proliferam pelos quatro cantos do planeta. Centenas de mulheres também se destacaram ao longo da história recente da humanidade na luta contra o preconceito e a discriminação, enfim, contra a exploração capitalista. Aqui vale destacar alguns nomes como Joana D’Arc, Dandara [mulher de Zumbi], Rosa de Luxemburgo, Leila Diniz, Zilda Arns, Dorothy Stang, Clarice Lispector, Raquel de Queiroz, Violeta Parra, Mercedes Sosa, Olga Benario dentre inúmeras outras.
O que significa o dia internacional da mulher nos tempos modernos?
Hoje, como de costume, o capital transforma tudo que é possível em mercadoria. Assim, ele se apossa, cada dia mais, do Dia Internacional da Mulher como, apenas mais uma data para fortalecimento do mercado de consumo. As raízes desse dia têm se perdido em meio à sedução e ao fetiche da sociedade que reduz o “tudo” ao quase “nada”, o “substancial” ao “irrisório”, o “significativo” ao “superficial”. Ou seja, esta data de extrema significação em sua origem tem se tornado, nos dias atuais, apenas mais um instrumento de dominação burguesa, de comércio de flores e de bombons, enfim de trocas de supérfluos e banalidades entre homens e mulheres donos da mais valia capitalista.
Cabe a homens e mulheres repensarem as raízes sobre as quais se edificou a simbologia desta data. Cabe a homens e mulheres repensarem o verdadeiro sentido da luta contra a opressão e contra a dominação do capital em todas as esferas. Cabe às mulheres e aos homens refletirem sobre a sociedade de classes. Afinal, a exclusão a miséria e a pobreza não possuem sexo, raça ou cor. Homens e mulheres devem ocupar o mesmo lado da trincheira na luta contra o preconceito e a discriminação. Assim, homens e mulheres, enfim, os trabalhadores devem lutar em favor da consciência de pertencimento de classe, pois, somente assim, estaremos dando passos significativos pela libertação do jugo e da ganância do capital. Somente neste sentido estaremos combatendo, efetivamente, a alienação do trabalho. Assim, nesta direção, retomaremos o caráter classista do Dia Internacional da Mulher, fazendo com que o sacrifício das vidas ceifadas das mártires/tecelãs de Nova Iorque não tenha sido em vão, mas em prol da luta de libertação de todos os oprimidos e marginalizados.

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