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Foto: Comemoração popular eleições francesas Fonte: noticias.pt.msn.com |
Valter Machado
da Fonseca
No
domingo de 06 de maio de 2012 o resultado das eleições na França lança uma
série de elementos altamente significativos e que vem reafirmar que a classe
trabalhadora europeia não esqueceu suas lutas e, consequentemente, suas
conquistas ao longo história do movimento operário mundial.
Estas
eleições apresentam, basicamente, duas vertentes importantes que precisam ser
analisadas à luz dos principais acontecimentos que demarcam a conjuntura
política mundial, em especial, a crise estrutural do capitalismo que varre a
Europa de ponta a ponta. Diante disso, as eleições francesas colocam em pauta
dois aspectos extremamente significativos para a análise do atual momento
político mundial. Por um lado, a vitória nas urnas de François Hollande do
Partido Socialista Francês (PSF) aponta um rumo interessante que precisa ser
interpretado corretamente. Em que pese toda a distância que o PSF se encontra
das origens e das lutas históricas da classe trabalhadora francesa e europeia,
e ainda, seu alto grau de degeneração, sua vitória nessas eleições tem um
importante significado simbólico.
Diferentemente
da eleição de François Miterrand que dirigiu o Estado francês no período de
1981/1995, num outro contexto político, a eleição de Hollande ocorre no ápice
de um período marcado por crises nunca dantes experimentadas na Europa, a crise
estrutural do capital que se manifestou de forma contunde desde 2008, atingindo
nos dias atuais nos dias atuais seu estágio mais avançado. Diante disso, se
coloca a indagação central para o entendimento desse momento político: o que
significa a vitória do Partido Socialista Francês em pleno ápice da crise
econômica europeia, considerada a pior de toda sua história? Este é o primeiro
elemento que precisa ser analisado.
A
opção dos trabalhadores franceses pelo Partido Socialista demonstra que mesmo
sabendo do estado de degeneração deste partido, eles o escolheram pela
identificação com algo que tem uma ligação simbólica com as lutas e trajetória
histórica do movimento operário europeu. É preciso entender também que os
trabalhadores europeus foram os grandes protagonistas na construção do
movimento operário mundial, das lutas históricas que resultaram nas conquistas
heroicas do movimento dos trabalhadores em nível mundial. A participação
efetiva na história do movimento da classe trabalhadora reflete nas gerações
mais novas dos trabalhadores uma série de experiências de luta e de resistência
da classe operária europeia. Assim, mesmo diante do processo de entreguismo
histórico configurado na desarticulação do chamado “socialismo real”
configurado e desconfigurado na extinta URSS, os trabalhadores não perderam o
norte de sua orientação histórica. Então, a vitória do PSF significou uma
rejeição à política de fraudes, de entreguismo das conquistas dos trabalhadores
aos agentes do capital de Nicolas Sarkozy, ao mesmo tempo em que apontam a
saída da crise, exatamente, para sua auto-organização, por intermédio dos
instrumentos históricos de lutas da classe trabalhadora (vide grande greve
geral em defesa dos direitos previdenciários).
No mesmo dia da eleição da eleição
francesa, os trabalhadores também dão sua resposta nas eleições legislativas da
Grécia. A eleição grega demonstrou que os trabalhadores rejeitaram
categoricamente, os partidos que dão sustentação à Troika (União Europeia,
Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Os dois partidos
pró-austeridade e pró-europeus gregos, o Pasok (socialista) e a Nova Democracia
(direita), que governam juntos desde o fim de 2011, sofreram uma grande
derrota, conseguindo apenas 32,4 por cento dos votos nas eleições legislativas.
O segundo aspecto das eleições
europeias (França e Grécia) que necessita de análise, refere-se à ascensão de
setores aparentemente inexpressivos e/ou adormecidos como os partidos
nazifascistas da ultradireita. A ascensão destes setores reacionários
derrotados historicamente pelo movimento das massas trabalhadoras volta à cena
política para preencherem as lacunas deixadas pela crise estrutural do capital e
dos planos de austeridade dos governos dos Estados europeus que defendem a
política de entrega das conquistas históricas da classe trabalhadora em
detrimento de salvaguardar as instituições podres do Estado europeu falido,
como os grandes grupos econômicos e banqueiros. A frágil estrutura montada pelo
FMI para a Grécia cambaleia após as eleições nesse país da Eurozona, na qual o
povo expressou sua forte rejeição aos “ajustes” econômicos.
Para ilustrar o avanço das
organizações nazifascistas na Europa é importante destacar um trecho de Martins
(2012) em matéria do “Correio do Brasil”:
Assim como Jean-LucMélenchon
eletrizou parte da esquerda francesa adormecida e desencantada com sua nova
leitura do socialismo, revivendo comícios dignos da Revolução Francesa, da
Comuna de Paris ou da vitória do Programa Comum da esquerda que levou
Mitterrand à vitória, em 1981, é certo que a derrota da direita de Sarkozy, em
franco adultério com a extrema-direita de Le Pen, despertará os ideais
socialistas nos eleitores europeus. Os
ventos vão mudar a partir de domingo, mas um espectro ressuscitado por Sarkozy,
na louca tentativa de conseguir obter mais votos, ficará rondando à espera de
intervir e de transformar a vitória de domingo numa catástrofe. Sarkozy no seu
desespero diante da derrota fez como Fausto um pacto com o Diabo e, pela
primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ressurgiu na boca de uma
presidente francês a linguagem do marechal Pétain, colaborador de Hitler após a
ocupação da França. No afã de conquistar
os votos da extrema-direita francesa do Front National, liderada agora pela
filha de Le Pen, Marine, o já quase ex-presidente deu legitimidade e tornou
compatível o discurso racista, ante estrangeiros e nacionalista popular dos
neonazistas franceses. Mas tudo em vão,
porque Marine Le Pen, que promete restabelecer a pena de morte, expulsar os
estrangeiros e branquejar a França, tem outro plano – fragmentar e destruir a
direita francesa para reconstituí-la como um forte partido híbrido de
extrema-direita. (CORREIO DO BRASIL, 2012). Disponível em: http://correiodobrasil.com.br/sarkozy-perde-mas-ressuscita-a-besta/445632/.
Acesso em: 11 de abril de 2011.
O ressurgimento dessas organizações
nazifascistas na cena política do velho continente é fruto da podridão das
estruturas enferrujadas da máquina produtiva capitalista que abre espaços agora
para a reprodução das mazelas que levam as populações pobres à penúria e
sofrimento extremos. Estes atores decadentes voltam ressurgem das cinzas como
sintomas do estado de barbárie que já se anuncia, em função da ineficiência do
Estado capitalista em responder a quaisquer anseios dos setores explorados e
marginalizados da sociedade moderna, devido ao esgotamento total das forças
produtivas da humanidade.
Então, a crise estrutural do capital
nos Estados capitalistas europeus abre duas possibilidades no cenário político
e econômico mundial: ou a reorganização do movimento operário combinado com uma
releitura dos princípios marxistas para os tempos modernos, abrindo a via para
a superação (em prazo indefinido) da crise estrutural deste modelo econômico
ou, a humanidade estará sujeita a amargar a volta do terror, miséria e sofrimento
decorrentes de um paradigma econômico cujas engrenagens estão completamente
corroídas e enferrujadas. O sistema capitalista, em crise estrutural descortina
uma crise gigantrsca de projetos de homem e de natureza.
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