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sábado, 12 de maio de 2012

Os trabalhadores e as eleições na França e na Grécia

Foto: Comemoração popular eleições francesas      Fonte: noticias.pt.msn.com

Valter Machado da Fonseca
No domingo de 06 de maio de 2012 o resultado das eleições na França lança uma série de elementos altamente significativos e que vem reafirmar que a classe trabalhadora europeia não esqueceu suas lutas e, consequentemente, suas conquistas ao longo história do movimento operário mundial.
Estas eleições apresentam, basicamente, duas vertentes importantes que precisam ser analisadas à luz dos principais acontecimentos que demarcam a conjuntura política mundial, em especial, a crise estrutural do capitalismo que varre a Europa de ponta a ponta. Diante disso, as eleições francesas colocam em pauta dois aspectos extremamente significativos para a análise do atual momento político mundial. Por um lado, a vitória nas urnas de François Hollande do Partido Socialista Francês (PSF) aponta um rumo interessante que precisa ser interpretado corretamente. Em que pese toda a distância que o PSF se encontra das origens e das lutas históricas da classe trabalhadora francesa e europeia, e ainda, seu alto grau de degeneração, sua vitória nessas eleições tem um importante significado simbólico.
Diferentemente da eleição de François Miterrand que dirigiu o Estado francês no período de 1981/1995, num outro contexto político, a eleição de Hollande ocorre no ápice de um período marcado por crises nunca dantes experimentadas na Europa, a crise estrutural do capital que se manifestou de forma contunde desde 2008, atingindo nos dias atuais nos dias atuais seu estágio mais avançado. Diante disso, se coloca a indagação central para o entendimento desse momento político: o que significa a vitória do Partido Socialista Francês em pleno ápice da crise econômica europeia, considerada a pior de toda sua história? Este é o primeiro elemento que precisa ser analisado.
A opção dos trabalhadores franceses pelo Partido Socialista demonstra que mesmo sabendo do estado de degeneração deste partido, eles o escolheram pela identificação com algo que tem uma ligação simbólica com as lutas e trajetória histórica do movimento operário europeu. É preciso entender também que os trabalhadores europeus foram os grandes protagonistas na construção do movimento operário mundial, das lutas históricas que resultaram nas conquistas heroicas do movimento dos trabalhadores em nível mundial. A participação efetiva na história do movimento da classe trabalhadora reflete nas gerações mais novas dos trabalhadores uma série de experiências de luta e de resistência da classe operária europeia. Assim, mesmo diante do processo de entreguismo histórico configurado na desarticulação do chamado “socialismo real” configurado e desconfigurado na extinta URSS, os trabalhadores não perderam o norte de sua orientação histórica. Então, a vitória do PSF significou uma rejeição à política de fraudes, de entreguismo das conquistas dos trabalhadores aos agentes do capital de Nicolas Sarkozy, ao mesmo tempo em que apontam a saída da crise, exatamente, para sua auto-organização, por intermédio dos instrumentos históricos de lutas da classe trabalhadora (vide grande greve geral em defesa dos direitos previdenciários).
No mesmo dia da eleição da eleição francesa, os trabalhadores também dão sua resposta nas eleições legislativas da Grécia. A eleição grega demonstrou que os trabalhadores rejeitaram categoricamente, os partidos que dão sustentação à Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Os dois partidos pró-austeridade e pró-europeus gregos, o Pasok (socialista) e a Nova Democracia (direita), que governam juntos desde o fim de 2011, sofreram uma grande derrota, conseguindo apenas 32,4 por cento dos votos nas eleições legislativas.
O segundo aspecto das eleições europeias (França e Grécia) que necessita de análise, refere-se à ascensão de setores aparentemente inexpressivos e/ou adormecidos como os partidos nazifascistas da ultradireita. A ascensão destes setores reacionários derrotados historicamente pelo movimento das massas trabalhadoras volta à cena política para preencherem as lacunas deixadas pela crise estrutural do capital e dos planos de austeridade dos governos dos Estados europeus que defendem a política de entrega das conquistas históricas da classe trabalhadora em detrimento de salvaguardar as instituições podres do Estado europeu falido, como os grandes grupos econômicos e banqueiros. A frágil estrutura montada pelo FMI para a Grécia cambaleia após as eleições nesse país da Eurozona, na qual o povo expressou sua forte rejeição aos “ajustes” econômicos.
Para ilustrar o avanço das organizações nazifascistas na Europa é importante destacar um trecho de Martins (2012) em matéria do “Correio do Brasil”:
Assim como Jean-LucMélenchon eletrizou parte da esquerda francesa adormecida e desencantada com sua nova leitura do socialismo, revivendo comícios dignos da Revolução Francesa, da Comuna de Paris ou da vitória do Programa Comum da esquerda que levou Mitterrand à vitória, em 1981, é certo que a derrota da direita de Sarkozy, em franco adultério com a extrema-direita de Le Pen, despertará os ideais socialistas nos eleitores europeus.  Os ventos vão mudar a partir de domingo, mas um espectro ressuscitado por Sarkozy, na louca tentativa de conseguir obter mais votos, ficará rondando à espera de intervir e de transformar a vitória de domingo numa catástrofe. Sarkozy no seu desespero diante da derrota fez como Fausto um pacto com o Diabo e, pela primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ressurgiu na boca de uma presidente francês a linguagem do marechal Pétain, colaborador de Hitler após a ocupação da França.  No afã de conquistar os votos da extrema-direita francesa do Front National, liderada agora pela filha de Le Pen, Marine, o já quase ex-presidente deu legitimidade e tornou compatível o discurso racista, ante estrangeiros e nacionalista popular dos neonazistas franceses.  Mas tudo em vão, porque Marine Le Pen, que promete restabelecer a pena de morte, expulsar os estrangeiros e branquejar a França, tem outro plano – fragmentar e destruir a direita francesa para reconstituí-la como um forte partido híbrido de extrema-direita. (CORREIO DO BRASIL, 2012). Disponível em: http://correiodobrasil.com.br/sarkozy-perde-mas-ressuscita-a-besta/445632/. Acesso em: 11 de abril de 2011.

O ressurgimento dessas organizações nazifascistas na cena política do velho continente é fruto da podridão das estruturas enferrujadas da máquina produtiva capitalista que abre espaços agora para a reprodução das mazelas que levam as populações pobres à penúria e sofrimento extremos. Estes atores decadentes voltam ressurgem das cinzas como sintomas do estado de barbárie que já se anuncia, em função da ineficiência do Estado capitalista em responder a quaisquer anseios dos setores explorados e marginalizados da sociedade moderna, devido ao esgotamento total das forças produtivas da humanidade.
Então, a crise estrutural do capital nos Estados capitalistas europeus abre duas possibilidades no cenário político e econômico mundial: ou a reorganização do movimento operário combinado com uma releitura dos princípios marxistas para os tempos modernos, abrindo a via para a superação (em prazo indefinido) da crise estrutural deste modelo econômico ou, a humanidade estará sujeita a amargar a volta do terror, miséria e sofrimento decorrentes de um paradigma econômico cujas engrenagens estão completamente corroídas e enferrujadas. O sistema capitalista, em crise estrutural descortina uma crise gigantrsca de projetos de homem e de natureza.      

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