![]() |
Fonte: iatidadepressao.blogspot.com |
Prof. Dr. Valter Machado da
Fonseca*
Este
título da obra clássica de Glauber Rocha serve perfeitamente para ilustrar o
que vem ocorrendo no planeta Terra em função das alterações climáticas as quais
são, sistematicamente, aceleradas pelas ações antropogênicas (humanas). Verificamos
nestas últimas décadas o deslocamento das forças naturais que atuam sobre a
Terra, em decorrência das ações desorganizadas do ser humano, em especial sobre
as formações vegetais e os recursos hídricos.
Na
mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba este desequilíbrio das forças
naturais que atuam sobre o planeta pode ser constatado pelas forças de reação
caracterizadas pelo atual desequilíbrio climático, pelo rebaixamento do lenções
freáticos e pela quase extinção de importantes corpos d’água de superfície
(rios, riachos, córregos e ribeirões). O exemplo mais ilustrativo é o caso do
Rio Cantareira (SP), onde já podemos observar o fundo da calha do rio e as
rochas expostas que compõem o seu leito natural.
Estes
eventos de desequilíbrio climático vêm em função de um amplo processo de
desflorestamento do cerrado brasileiro, visando à expansão da fronteira
agrícola, objetivando atender à ganancia da agricultura de exportação, em
especial o plantio exaustivo da cana-de-açúcar, com imensos despejos de
toneladas de insumos e agrotóxicos que se infiltram no solo e acabam atingindo
os lençóis que abastecem os corpos d’água de superfície. Isto sem mencionar os
gigantescos volumes de vinhoto (vinhaça) produzido pela cadeia produtiva da
cana.
O
cerrado brasileiro (a grande caixa d’água da América do Sul) vem sendo
bombardeado pelos pacotes tecnológicos deste os anos dourados das décadas de
60/70 visando ao cultivo das monoculturas tipo exportação, para o atendimento
dos mercados norte americano e europeu. Este violento ataque aos recursos
naturais do nosso cerrado tem provocado também violentos impactos
socioambientais sobre o bioma com o consequente deslocamento das forças naturais
que mantêm o frágil equilibro deste ecossistema. Neste sentido, a diminuição da
evapotranspiração (pela remoção das formações vegetais), o descarte gigantesco
de imensos volumes de agrotóxicos e insumos (de forma direta ou indireta) acaba
por contaminar as principais fontes de água potável à disposição do consumo
humano. Por outro lado, a intervenção antropogênica desordenada sobre os
recursos dos diversos biomas brasileiros, força o deslocamento das forças
naturais que regulam o equilíbrio climático do planeta, promovendo, desta
forma, os gravíssimos processos de alterações climáticas, para os quais existem
limitados números de soluções minimizadoras. Diante disso, o “Deus natureza” trava
uma batalha com o diabo (homem) na terra do sol. Esta talvez seja a derradeira
guerra que o ser humano consiga travar neste planeta ainda azul.
*
Escritor. Geógrafo, mestre
e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia. Professor e pesquisador das
temáticas “Alterações Climáticas” e “Impactos socioambientais sobre os
ecossistemas terrestres e aquáticos”. E-mail: pesquisa.fonseca@gmail.com