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Árvore Isolada em desmatamento no Pará Foto: Raphael Alves/AFP (2014) |
Por NTV
O pesquisador Antônio Nobre, do
Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), braço do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) analisou mais de 200 artigos científicos sobre a
Amazônia e sua relação com o clima e as chuvas no Brasil, e concluiu que o
desmatamento dessa região influencia a falta de água sentida nas regiões mais
populosas do país, incluindo o Sudeste.
A diminuição da quantidade de árvores
no bioma impede o fluxo de umidade entre o Norte e o Sul do país, aponta o
estudo divulgado nesta quinta-feira (30). O relatório “O Futuro Climático da
Amazônia”, encomendado pela Articulação Regional Amazônia, rede composta por
várias associações sul-americanas, tenta explicar as possíveis causas e efeitos
da bagunça climática recente e apresenta soluções que minimizariam os impactos
negativos dessas alterações.
De acordo com o pesquisador, a falta
de precipitação, sentida principalmente no Sudeste, em especial no estado de
São Paulo, seria consequência indireta do desflorestamento amazônico. Desde o
início da década de 1970 até 2013, a exploração madeireira e o desmatamento
gradual retiraram do bioma 762.979 km² de floresta, área equivalente a duas
Alemanhas. Os dados referem-se ao desmate total (chamado de corte raso). A
retirada da cobertura vegetal interrompe o fluxo de umidade do solo para a
atmosfera. Desta forma, os “rios voadores”, nome dado a grandes nuvens de umidade,
responsáveis pelas chuvas, que são transportadas pelos ventos desde a Amazônia
até o Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiros, não “seguem viagem”, causando a
escassez hídrica.
“A estação seca está se estendendo
por maior tempo nas regiões mais desmatadas e as nuvens de chuva dos rios
aéreos não estão chegando, a partir da floresta ainda existente, em áreas que
anteriormente chegavam. Esse efeito tem conexão direta com o desmatamento”,
disse Nobre ao G1. "As regiões mais desmatadas são a
saída dos rios aéreos da Amazônia para o resto da América do Sul
Meridional", complementou. Segundo a investigação, por dia, a Amazônia
libera na atmosfera 20 trilhões de litros de água transpirada. Nobre compara a
força das árvores aos gêiseres, nascentes termais que lançam periodicamente
jatos de água quente para o alto. Essa transpiração, segundo o estudo, torna
ainda mais valiosa a floresta (além da sua vasta biodiversidade).
Tendência de mais
desmatamento
Uma das soluções apresentadas pela
pesquisa para evitar a descontinuidade no fluxo de umidade, e, desta forma,
reduzir o agravamento da seca no Brasil, é zerar o desmatamento na Amazônia. No
entanto, isso parece longe de acontecer. Levantamento apresentado este
mês pela organização Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
apontou aumento de 191% no desmate da floresta em agosto e setembro de 2014, em
relação ao mesmo bimestre de 2013.
Apesar de o dado ser paralelo ao
divulgado pelo governo, que usa os sistemas Deter e Prodes, as informações mais
atualizadas do próprio Deter, referentes a junho e julho, apontaram aumento de
195% na perda de vegetação na comparação desses períodos entre 2014 e 2013. Outro
ponto alarmante é que o Brasil não assinou na Cúpula do Clima, realizada pelas
Nações Unidas em setembro, um acordo criado para reduzir pela metade a perda de
florestas até 2020 e zerá-la até 2030.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella
Teixeira, disse na ocasião que o país não foi “convidado a se engajar no
processo de preparação” da declaração. Em vez disso, segundo ela, o país
recebeu uma cópia do texto da ONU, que pediu para aprová-lo sem a permissão de
sugerir qualquer alteração. O Itamaraty acrescentou que o documento não é da
ONU, mas dos países que o assinaram, e que o texto necessitava de melhorias,
por isso o Brasil optou por não assinar.
Nobre acredita que o governo
brasileiro, ao não assinar a declaração das florestas, desconhecia os termos
presentes no atual relatório e tem “a esperança de que tais argumentos serão
absorvidos pelos negociadores".
No trabalho, ele cita outras soluções
para reverter a situação de crise na Amazônia e suas consequências drásticas:
popularizar os fatos científicos que explicam a importância do bioma para o
clima; reduzir as queimadas que atingem a região; recuperar as áreas desmatadas
com replantio de novas florestas; e contar com "esforços de guerra"
do governo e da sociedade para financiar ações de preservação e conter o avanço
da degradação. “O diagnóstico é muito sério, as ameaças são reais e as soluções
ainda estão ao alcance para reverter este quadro”, finaliza o pesquisador.
Disponível
em: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2014/10/novo-estudo-liga-desmatamento-da-amazonia-seca-no-pais.html
Acesso em 02 de novembro de 2014.
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