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Foto: Nascente do São Francisco Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011) |
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Foto: Nascente do São Francisco Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011) |
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Foto: Nascente do São Francisco Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011) |
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Foto: Nascente do São Francisco Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011) |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
O cerrado
brasileiro é um dos biomas mais antigos do mundo. Suas fitofisionomias são o
resultado da combinação de uma série de fatores que evoluíram ao longo do tempo
geológico em função de condições climáticas adversas, as quais alternavam
períodos extremamente secos, seguidos por períodos extremamente chuvosos.
Então, as formações climáticas que incidiram sobre as condições evolutivas do
cerrado compreendiam épocas de clima úmido e quente com fases de clima quente e
seco.
É importante
salientar que os estudos sobre o bioma cerrado têm demonstrado que o
ecossistema apresenta peculiaridades e particularidades que fazem dele um
ambiente ímpar, que demonstra grande estabilidade, pois, é resultante de um
processo evolutivo determinado por condições especiais de pluviosidade,
temperatura, características geomorfológicas e condições climáticas, ao longo
de um amplo período geológico (estimado em milhares de anos) que o fazem um
ambiente ímpar, diferente dos demais ecossistemas brasileiros.
Por ser um bioma
altamente especializado e adaptado às adversidades climáticas com grandes
amplitudes térmicas, sua vegetação, solos, relevo, enfim suas particularidades
deram as condições favoráveis para a acomodação de grandes aquíferos
subterrâneos além das condições necessárias para a formação de importantes
corpos d’água de superfície (rios) e configuração de relevantes bacias
hidrográficas. Estas condições especiais do cerrado fizeram dele a grande caixa
d’água do continente sul americano. Das doze maiores bacias hidrográficas da
América do Sul, dez atravessam o cerrado brasileiro e dessas dez, oito possuem
seus principais rios nascendo no interior do bioma. Isto sem mencionar o aquífero
Guarani, um dos maiores reservatórios de águas subterrâneas confinadas do
mundo.
A política
agrícola traçada para a ocupação do cerrado brasileiro fez do bioma a grande
cobaia da indústria agroquímica e seus experimentos visando à produção de
insumos agrícolas, agrotóxicos, pesticidas e herbicidas. Isto, combinado com as
estratégias de ocupação do bioma, levou a práticas extremas de desflorestamento
de sua vegetação original, destruição das áreas de nascentes e recargas de rios
e aquíferos, queimadas para a abertura de pastagens e plantio de monoculturas
de exportação. Este conjunto de fatores vem afetando o bioma cerrado desde os
anos de 1960, levando-o ao declínio total. Por se tratar de um ecossistema que
já atingiu seu clímax evolutivo, o cerrado pode ser considerado, atualmente, um
bioma já em estágio de extinção praticamente definitivo. O desequilíbrio
socioambiental do bioma já atingiu um estágio de não retorno.
Diante dessa
série de impactos socioambientais, as condições de preservação e conservação
dos aquíferos e de seus principais corpos d’água de superfície também
acompanham o processo de extinção do cerrado. As pesquisas científicas mais
sérias demonstram que o rebaixamento do níveis dos lençóis e dos aquíferos
subterrâneos, uma vez consolidados, sob estas condições de forte agressão
ambiental, não voltam a atingir seus níveis normais de produção de água. Estas
evidências nos levam a afirmar que com a extinção do bioma cerrado e a perda
total de suas particularidades e peculiaridades, a grande caixa d’água do
continente sul americano está literalmente secando. As águas do bioma cerrado,
definitivamente, estão migrando para localidades e áreas onde podem fluir de
forma natural sem as condições de desequilíbrio ambiental impostas ao, outrora
imponente, bioma do Sudeste e planalto central do Brasil.
*
Escritor. Geógrafo, mestre
e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador
da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas
“Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.
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