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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

QUEREM MATAR MAIS UM RIO DO CERRADO!

Fonte: UOL (2015)

Fonte: UOL (2015)

Fonte: UOL (2015)

Fonte: UOL (2015)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
A mídia tem colocado em evidência mais um caso de insensatez do poder público para com os recursos naturais, em particular para com os recursos hídricos. Trata-se do absurdo da proposta do governo de São Paulo, em acordo com os governos do Rio de Janeiro e de Minas gerais, de transposição das águas do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira, reservatório que abastece a maioria da população paulistana.
Em artigo anterior a este afirmei que o rebaixamento dos níveis dos lençóis freáticos e dos aquíferos subterrâneos se devem ao conjunto de impactos ambientais deferidos sobre o bioma cerrado desde o início da tão propalada “Revolução Verde” que, a pretexto de combater a fome no planeta (embasada na equivocada Teoria Malthusiana) transformou este valoroso bioma em um autêntico laboratório para efetivação de políticas inconsequentes de ocupação agrícola, com o auxílio de um verdadeiro derrame de insumos agrotóxicos, pesticidas e herbicidas sobre o cerrado brasileiro. Tudo isto veio acompanhado de práticas agrícolas edificadas sobre desflorestamentos, queimadas, assoreamentos dos corpos d’água (rios, riachos, córregos e ribeirões), retiradas de vegetações ciliares, destruição de parques de veredas e zonas de recargas dos aquíferos subterrâneos.
O bioma, um exemplar fitofisionômico ímpar que já atingiu seu clímax evolutivo como um dos ecossistemas mais antigos do mundo, entrou em exaustão e em fase irrevogável de extinção de suas características próprias de solos, de potencial florístico e faunístico, determinado, também em caráter irrevogável, o rebaixamento do nível das águas de seus lençóis freáticos e de aquíferos subterrâneos. Então, o que menos necessita o agonizante cerrado é de técnicas simplistas de engenharia como se o bioma fosse um canteiro de obras de engenharia civil. Neste sentido, a intenção perniciosa de transposição do Rio Paraíba do Sul trata-se de mais um atentado sem escrúpulos sobre um bioma em vias de extinção.
O Rio Paraíba do Sul já quase não possui vegetação ripária (matas ciliares), se encontra em estágio de intenso assoreamento, com bancos e ilhas de areia em grande parte de seu percurso. As águas de sua bacia de drenagem vem sendo reduzidas ano após ano, devido a intervenções antrópicas em seu leito, suas margens e sua vegetação ciliar. Trata-se de um rio praticamente morto. O tecnicismo inconsequente sobre o qual se funda esta proposição chega a beirar o ridículo. Os secretários de meio ambiente dos três estados envolvidos desconsideraram totalmente os estudos de impactos socioambientais realizados recentemente sobre as condições de saúde ambiental desse corpo d’água.
Desta forma tentam criar soluções técnicas e/ou artificiais para o conjunto monumental de impactos ambientais decorrentes da ação do homem sobre o bioma cerrado desde a década dos anos 1960 marcados fundamentalmente pela política de ocupação irresponsável e incorreta deste outrora magnífico bioma. Diante deste pacote de medidas “técnicas” irresponsáveis (elaboradas por aqueles que sequer devem saber o significado de meio ambiente) que visam à transposição das águas do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira só um resultado pode ser vislumbrado num prazo máximo de dez anos (um pouco mais ou um pouco menos): a morte definitiva e irreversível do outrora magnífico Rio Paraíba do Sul.     


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.

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