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Fonte: UOL (2015) |
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Fonte: UOL (2015) |
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Fonte: UOL (2015) |
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Fonte: UOL (2015) |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
A
mídia tem colocado em evidência mais um caso de insensatez do poder público
para com os recursos naturais, em particular para com os recursos hídricos. Trata-se
do absurdo da proposta do governo de São Paulo, em acordo com os governos do
Rio de Janeiro e de Minas gerais, de transposição das águas do Rio Paraíba do
Sul para o Sistema Cantareira, reservatório que abastece a maioria da população
paulistana.
Em
artigo anterior a este afirmei que o rebaixamento dos níveis dos lençóis
freáticos e dos aquíferos subterrâneos se devem ao conjunto de impactos
ambientais deferidos sobre o bioma cerrado desde o início da tão propalada
“Revolução Verde” que, a pretexto de combater a fome no planeta (embasada na
equivocada Teoria Malthusiana) transformou este valoroso bioma em um autêntico
laboratório para efetivação de políticas inconsequentes de ocupação agrícola,
com o auxílio de um verdadeiro derrame de insumos agrotóxicos, pesticidas e
herbicidas sobre o cerrado brasileiro. Tudo isto veio acompanhado de práticas
agrícolas edificadas sobre desflorestamentos, queimadas, assoreamentos dos
corpos d’água (rios, riachos, córregos e ribeirões), retiradas de vegetações
ciliares, destruição de parques de veredas e zonas de recargas dos aquíferos
subterrâneos.
O
bioma, um exemplar fitofisionômico ímpar que já atingiu seu clímax evolutivo
como um dos ecossistemas mais antigos do mundo, entrou em exaustão e em fase
irrevogável de extinção de suas características próprias de solos, de potencial
florístico e faunístico, determinado, também em caráter irrevogável, o
rebaixamento do nível das águas de seus lençóis freáticos e de aquíferos
subterrâneos. Então, o que menos necessita o agonizante cerrado é de técnicas
simplistas de engenharia como se o bioma fosse um canteiro de obras de
engenharia civil. Neste sentido, a intenção perniciosa de transposição do Rio
Paraíba do Sul trata-se de mais um atentado sem escrúpulos sobre um bioma em
vias de extinção.
O
Rio Paraíba do Sul já quase não possui vegetação ripária (matas ciliares), se
encontra em estágio de intenso assoreamento, com bancos e ilhas de areia em
grande parte de seu percurso. As águas de sua bacia de drenagem vem sendo
reduzidas ano após ano, devido a intervenções antrópicas em seu leito, suas
margens e sua vegetação ciliar. Trata-se de um rio praticamente morto. O
tecnicismo inconsequente sobre o qual se funda esta proposição chega a beirar o
ridículo. Os secretários de meio ambiente dos três estados envolvidos
desconsideraram totalmente os estudos de impactos socioambientais realizados
recentemente sobre as condições de saúde ambiental desse corpo d’água.
Desta
forma tentam criar soluções técnicas e/ou artificiais para o conjunto
monumental de impactos ambientais decorrentes da ação do homem sobre o bioma
cerrado desde a década dos anos 1960 marcados fundamentalmente pela política de
ocupação irresponsável e incorreta deste outrora magnífico bioma. Diante deste
pacote de medidas “técnicas” irresponsáveis (elaboradas por aqueles que sequer
devem saber o significado de meio ambiente) que visam à transposição das águas
do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira só um resultado pode ser
vislumbrado num prazo máximo de dez anos (um pouco mais ou um pouco menos): a
morte definitiva e irreversível do outrora magnífico Rio Paraíba do Sul.
*
Escritor. Geógrafo, mestre
e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador
da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas
“Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) –
UNIUBE/CNPq.
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