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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A SUPEREXPLORAÇÃO DO CERRADO LEVOU À EXTINÇÃO DO BIOMA

Foto: Cerrado/Peirópolis           Fonte: Arquivo V. M. da Fonseca (2012)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Para se entender a “escassez” ou migração hídrica da região Sudeste é necessário que compreendamos o que é o bioma cerrado e como está se concretizando o seu processo de extinção enquanto ecossistema natural, uma vez que nos localizamos no centro do bioma.
Pois bem! O cerrado, ou seja, suas principais fitofisionomias começaram a se encaixar enquanto vegetações que se constituem como características essenciais do bioma há cerca de 65 milhões de anos e vieram a se firmar como vegetações permanentes do bioma há aproximadamente 45 milhões de anos. Na verdade, o cerrado começou a se constituir enquanto bioma com propriedades e características particulares, logo após o Cretáceo Superior, ou seja logo após a extinção das espécies vegetais que marcaram a vida dos gigantescos répteis (dinossauros) que habitaram o planeta neste importante período geológico.
Devido a estas particularidades e características essenciais, as fitofisionomias que compõem o bioma cerrado estão entre as espécies florísticas mais antigas do mundo e que determinam a história recente do planeta Terra. Não são somente os aspectos fitofisionômicos que constituem as particularidades do bioma, a eles se somam os solos ácidos (ricos em alumínio), profundos, plainos e de boa drenagem. A isto também se somam duas estações climáticas bem distribuídas (pelo menos até há pouco tempo), uma seca e outra chuvosa.
Aliás, o clima foi um aspecto preponderante para o processo de adaptação do bioma cerrado ao longo do tempo geológico. O processo de perfeita adaptação do mosaico de espécies vegetais que compõem o cerrado se deu por intermédio da longa convivência com extremos climáticos, isto é, períodos extremamente secos e áridos alternando com fases de intensos índices de precipitações pluviométricas caracterizando intervalos geológicos extremamente chuvosos. O enfretamento e a convivência com extremos climáticos levaram as espécies vegetais do cerrado a uma alta especialização, o que permitiu o desenvolvimento de plantas preparadas para o convívio com clima seco alternado com estações chuvosas.
As folhas ásperas das plantas do cerrado garante às espécies vegetais a capacidade de retenção de água o que as nutrirão em épocas de períodos de chuvas escassas. No mesmo sentido, as raízes profundas de suas espécies vegetais lhe conferem a propriedade de extração de água diretamente dos lençóis e reservatórios subterrâneos possibilitando sua convivência com a estação seca. Do mesmo modo que esta água é extraída dos reservatórios subterrâneos ela é lançada na atmosfera por meio da evapotranspiração, garantindo a circulação de água que, ao mesmo tempo em que mantém vivas as vegetações cerradeiras, também mantém equilibrados os níveis dos aquíferos e lençóis subterrâneos.
Os pacotes tecnológicos justificados pela “Revolução Verde” nos anos 1960 e que perduram até os dias atuais, inverteram toda a lógica do processo de funcionamento natural do cerrado, afetando o regime de chuvas, o ciclo biogeoquímico e, consequentemente, dando um golpe fatal nos principais reservatórios de água, os quais deram ao bioma o status de grande caixa d’água da América do Sul. A quebra do equilíbrio natural do bioma cerrado veio na forma de alterações definitivas nas propriedades dos solos, do relevo, e da vegetação do ecossistema. Neste sentido, o cerrado entrou em sua fase derradeira de extinção definitiva (em estágio de não retorno), o que consequentemente também coloca em extinção os reservatórios superficiais e subterrâneos de água existentes no bioma.            


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O PLANETA EM CHAMAS...Filosofando!!!

imagensacervo.blogspot.com (2015)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
O “Aquecimento Global” é o tema do momento. Mas, desta vez não se trata de mais um “modismo”, como aconteceram em várias oportunidades com o sensacionalismo dado pela rede de comunicação de massas, inúmeras vezes, às temáticas ambientais. Vários estudiosos sérios, de diversos ramos das ciências da Terra, há muito já chamavam a atenção para o drástico grau de enfermidade do planeta. O planeta dá claros sintomas de seu estado febril, de seu estado de agonia.
Mas não se trata de uma febre qualquer, mas de uma reação ao vírus da prepotência humana. A terra responde da única forma que lhe resta, com a única alternativa que lhe é oferecida. Quando um organismo de qualquer forma de vida encontra-se em estado febril, com a consequente elevação de temperatura, é sintoma da existência de alguma infecção, de algum elemento pernicioso ao seu funcionamento, ou, simplesmente, uma reação à presença de quaisquer corpos estranhos, incompatíveis, contraditórios com seu metabolismo. O aquecimento dos corpos é o sintoma da reação dos anticorpos que agem para expulsar os vírus estranhos, que podem ser letais para esses organismos, podendo levá-los à morte. Isto ocorre com a saúde do Planeta, ele está febril.
Não existe mistério para explicar o “Aquecimento Global”, os fatos falam por si mesmos. O homem experimentou o paladar saboroso do lucro proporcionado com a exploração desmedida dos recursos da natureza e, acreditou que não existiam limites para sua ganância. Afinal de contas, a natureza existe para servi-lo, unicamente para isso, imagina ele, na sua infinita e “infalível racionalidade”. Afinal, a terra pode suportar tudo, ela é “matéria morta”, “natureza inanimada”, não possui a infinita capacidade de raciocínio do homo sapiens. E é, exatamente contra este vírus letal da prepotência humana, que a Terra reage e lança seus anticorpos. O avanço sem precedentes da tecnologia, a racionalidade técnica e científica dão poderes ilimitados à prepotência gananciosa da espécie humana. É dentro deste contexto que o Planeta reage.
Mas, a reação do Planeta é altamente democrática. Ele não separa os “homens bons” dos “homens maus”, os sensatos dos insensatos, os ricos dos pobres, os poderosos dos miseráveis, pelo contrário, sua ira atinge todos os homens indistintamente. Esta é sua suprema e sábia democracia. A “natureza morta”, que o homem acreditava dominar e explorar dá mostras de sua força, de sua sapiência, de sua vida, de sua supremacia.
A espécie humana, apesar de possuir apenas alguns segundos de existência, geologicamente falando, já causou danos e estragos nunca dantes conhecidos. Estas mesmas pesquisas apontam para a extinção da espécie humana em apenas mais alguns segundos (em tempo geológico) de existência sobre a face da Terra. Após a extinção do homem, a terra, com certeza, se recomporá de uma forma mais saudável, sem a ameaça da existência humana. Aí, a Terra terá conseguido levar a cabo sua reação, terá expulsado de seu organismo, da forma mais dolorosa, o vírus pernicioso da prepotência humana, o grande responsável por suas enfermidades e seu estado febril.


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

CERRADO: A CAIXA D’ÁGUA DA AMÉRICA DO SUL ESTÁ SECANDO

Foto: Nascente do São Francisco     Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011)

Foto: Nascente do São Francisco     Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011)

Foto: Nascente do São Francisco     Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011)

Foto: Nascente do São Francisco     Fonte: Arquivo V. M. Fonseca (2011)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
O cerrado brasileiro é um dos biomas mais antigos do mundo. Suas fitofisionomias são o resultado da combinação de uma série de fatores que evoluíram ao longo do tempo geológico em função de condições climáticas adversas, as quais alternavam períodos extremamente secos, seguidos por períodos extremamente chuvosos. Então, as formações climáticas que incidiram sobre as condições evolutivas do cerrado compreendiam épocas de clima úmido e quente com fases de clima quente e seco.
É importante salientar que os estudos sobre o bioma cerrado têm demonstrado que o ecossistema apresenta peculiaridades e particularidades que fazem dele um ambiente ímpar, que demonstra grande estabilidade, pois, é resultante de um processo evolutivo determinado por condições especiais de pluviosidade, temperatura, características geomorfológicas e condições climáticas, ao longo de um amplo período geológico (estimado em milhares de anos) que o fazem um ambiente ímpar, diferente dos demais ecossistemas brasileiros.
Por ser um bioma altamente especializado e adaptado às adversidades climáticas com grandes amplitudes térmicas, sua vegetação, solos, relevo, enfim suas particularidades deram as condições favoráveis para a acomodação de grandes aquíferos subterrâneos além das condições necessárias para a formação de importantes corpos d’água de superfície (rios) e configuração de relevantes bacias hidrográficas. Estas condições especiais do cerrado fizeram dele a grande caixa d’água do continente sul americano. Das doze maiores bacias hidrográficas da América do Sul, dez atravessam o cerrado brasileiro e dessas dez, oito possuem seus principais rios nascendo no interior do bioma. Isto sem mencionar o aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de águas subterrâneas confinadas do mundo.
A política agrícola traçada para a ocupação do cerrado brasileiro fez do bioma a grande cobaia da indústria agroquímica e seus experimentos visando à produção de insumos agrícolas, agrotóxicos, pesticidas e herbicidas. Isto, combinado com as estratégias de ocupação do bioma, levou a práticas extremas de desflorestamento de sua vegetação original, destruição das áreas de nascentes e recargas de rios e aquíferos, queimadas para a abertura de pastagens e plantio de monoculturas de exportação. Este conjunto de fatores vem afetando o bioma cerrado desde os anos de 1960, levando-o ao declínio total. Por se tratar de um ecossistema que já atingiu seu clímax evolutivo, o cerrado pode ser considerado, atualmente, um bioma já em estágio de extinção praticamente definitivo. O desequilíbrio socioambiental do bioma já atingiu um estágio de não retorno.
Diante dessa série de impactos socioambientais, as condições de preservação e conservação dos aquíferos e de seus principais corpos d’água de superfície também acompanham o processo de extinção do cerrado. As pesquisas científicas mais sérias demonstram que o rebaixamento do níveis dos lençóis e dos aquíferos subterrâneos, uma vez consolidados, sob estas condições de forte agressão ambiental, não voltam a atingir seus níveis normais de produção de água. Estas evidências nos levam a afirmar que com a extinção do bioma cerrado e a perda total de suas particularidades e peculiaridades, a grande caixa d’água do continente sul americano está literalmente secando. As águas do bioma cerrado, definitivamente, estão migrando para localidades e áreas onde podem fluir de forma natural sem as condições de desequilíbrio ambiental impostas ao, outrora imponente, bioma do Sudeste e planalto central do Brasil.     


* Escritor. Geógrafo, mestre e doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). Membro e líder do grupo de pesquisas “Energia e Interações Complexas nos Ecossistemas Terrestres (GEICET) – UNIUBE/CNPq.