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sábado, 19 de setembro de 2015

O ÚLTIMO GUERREIRO

Fonte: tudosobretodasascoisas.com (2015)



Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
É noite de lua cheia na floresta de árvores douradas A brisa da madrugada sopra de mansinho, com um pouco de carinho Lá em baixo, como um eco, o som da cascata é um breve sussurro Que relembra o tormento, o lamento do povo que ali vivia Era um povo nobre, de coração de aço que prosperava liberto Viviam sem tristeza em harmonia com a natureza
Lá longe, no alto do morro, no pico mais alto da floresta
Sob o clarão esfuziante da lua, sentado sozinho, o velho cacique
Traz na face enrugada, os traços marcantes da nobreza
De um povo corajoso e forte que noutros desconheciam a vaidade
Viviam livres como o falcão, que nas alturas constrói o ninho da liberdade
Hoje, ali está ele, solitário, triste, vivendo as lembranças doloridas
No cume do pico, o velho não fala, não grita, não chora
Dos seus olhos cansados, apenas um brilho opaco, embaçado
As rugas na testa, são as marcas da valentia de um povo ousado
Destemido, que durante toda a vida lutou contra a covardia
Os sulcos profundos dos cantos da boca, mostram a grandeza
Do bote certeiro, do guerreiro que lutou contra o cativeiro
Do seu assento, no alto do morro o guerreiro relembra
Da antiga aldeia, cheia de valentes irmãos ao redor da fogueira
Das mulheres nuas, sem as roupas imundas da hipocrisia
Mas, a nudez expressava a liberdade, de recusar o manto da covardia
Das crianças que se banhavam, castas, nas águas puras do grande rio
Como era bela a sua aldeia, como eram livres seus guerreiros!
Durante o dia, a aldeia inteira trabalhava, se agitava
As mulheres novas enfrentavam, com coragem, a labuta da lavoura
As velhas sábias teciam redes de pesca, ensinavam as crianças
Os homens jovens iam à mata em busca da caça e do pescado
Os irmãos fumavam cachimbos, traçavam destinos
Do povo guerreiro, que se preparava para o desafio do inverno
Hoje, o velho cacique não tem mais esperança, só lembrança
Dos tempos felizes de liberdade, dos tempos de outrora
Foram-se os jovens, as mulheres, os anciãos
A mão branca ambiciosa da covardia destruiu sua nação
Hoje, não há mais alegria, nem festa nem dança, nem caça
Das lembranças do velho guerreiro, no alto do morro
Só sobraram fragmentos surrados de saudade
Não existe mais a aldeia do povo feliz e valente
No lugar da antiga aldeia, só sobraram as marcas da trapaça
E, no alto do morro, o velho cacique é o último representante
Da ousadia, coragem, audácia e nobreza de uma raça.

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