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terça-feira, 26 de julho de 2011

Analfabetismo e analfabetos! [1]

Prof. Valter M. da Fonseca (2011)

Por Valter Machado da Fonseca*
Há anos que o assunto analfabetismo vem sendo discutido no Brasil, em especial em períodos eleitorais. Nesta época, os mais despreparados se sentem com autoridade máxima para discursar sobre o tema. Se 1% das promessas relativas à área tivesse sido colocada em prática, provavelmente o Brasil não ocuparia uma vergonhosa 88ª colocação no ranking mundial da educação.
Aproveitando o descompasso entre o discurso e a prática, quero analisar alguns aspectos interessantes acerca dos termos “analfabetismo” e “analfabetos”. No Brasil, o analfabetismo se mede por um parâmetro muito simples: a capacidade de a pessoa saber ler e escrever minimamente. Àqueles que não conseguem ler e escrever minimamente dá-se o nome de analfabetos. Vamos refletir sobre isso! Será que o simples fato de uma pessoa saber ler e escrever minimamente faz com que ela seja de fato alfabetizada?
Lembro-me de meu saudoso pai que cursou apenas o terceiro ano do Ensino Fundamental [na época se falava 3º ano de grupo], concluído numa escola da zona rural [ou da roça, conforme diziam seus contemporâneos]. Com apenas este baixo grau de escolarização, ele resolvia quaisquer tipos de operações matemáticas, lia e escrevia fluentemente. Fez, já maduro, um curso de contabilidade por correspondência no denominado Instituto Universal Brasileiro (IUB) e fazia balanços comerciais perfeitos, declarações de rendimentos e tinha uma clientela invejável. Além disso, depois de sofrer uma série de acidentes em diversas serrarias [que ele mesmo montou] e que lhe custou três dedos das mãos [dois na direita e um na esquerda] ainda tocava violão e acordeom maravilhosamente. Mas, não era isso que o fazia alfabetizado. O que o fazia alfabetizado era o fato de ele conseguir ler e interpretar, não os livros, mas, sua imensa capacidade de ler, entender e interpretar a vida e o mundo. Era um sujeito que tinha a rara qualidade de compreender o mundo e se posicionar diante dele com extrema sabedoria. Isto sim, o fazia uma pessoa altamente alfabetizada.
Chamo à atenção para estes aspectos, pois, muitas vezes vemos pessoas que tiveram todas as oportunidades na vida, com formação superior e, no entanto, não sabem absolutamente nada sobre a leitura do mundo e da vida. Muitos, inclusive, utilizam do conhecimento apenas para garantir uma cela especial nos presídios, pois a educação formal que lhes foi dada não serviu para absolutamente nada. Serviu apenas para a sedução dos caminhos mais fáceis: do crime, do tráfico, dos atos ilícitos e da capacidade de passar por cima de outros para “subir” na escala social. Estes são os piores analfabetos, como dizia o nosso saudoso Paulo Freire. Para Freire, alfabetizados são aqueles que sabem ler, interpretar a vida e o mundo e se posicionarem diante deles. Alfabetizados são aqueles que usam o conhecimento com instrumento a serviço não somente de sua libertação, mas, sobretudo, a serviço da libertação do outro. 
Por isso, existem analfabetismos e analfabetos! É interessante lembrar que nos países que levam a sério a educação, a alfabetização ocorre quando a pessoa possui o Ensino Médio completo e não apenas o Ensino Fundamental. Na verdade, analfabetos maiores são aqueles que tapam os olhos para a realidade, que fecham os olhos e lavam as mãos diante das injustiças da vida. São aqueles que colocam o conhecimento adquirido a serviço da corrupção, do desvio de verbas, das falcatruas, da apropriação indébita dos recursos da população e das maracutaias. E, pasmem meus caros leitores (as)! São exatamente estes que sobem nos palanques eleitorais e falam em educação. Esses analfabetos diante da vida e do mundo, que colocam seu conhecimento a serviço do crime e do banditismo, são os mesmos que se dizem os paladinos da justiça e os grandes defensores da educação em nosso país. Onde é que vai chegar nossa educação com defensores como estes. Mais uma vez eu digo: Coitadas de nossas crianças!!! Pobre de nossa nação se ela depender da educação que estes senhores propõem!       


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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