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terça-feira, 26 de julho de 2011

O Pensamento Complexo de Edgar Morin e o Materialismo Histórico e Dialético de Marx

Prof. Valter Machado da Fonseca (2011)

Por Valter Machado da Fonseca*
Hoje quero falar um pouco de um dos grandes filósofos do século XXI: Edgar Morin. Francês, apaixonado por Paris, ele reside na própria cidade-luz. Morin construiu, ainda no século XX, as bases do Pensamento Complexo ou Teoria da Complexidade [como prefere a maioria de pesquisadores e pensadores da modernidade], a qual foi concluída neste limiar de século XXI.
O Pensamento Complexo foi fruto de quase toda uma vida totalmente dedicada à pesquisa do pensador e filósofo francês, Edgar Morin. Esta teoria veio revolucionar e mudar os dogmas equivocadamente construídos sobre as “verdades científicas” e as formas de se fazer ciência. Embora, a teoria do Pensamento Complexo possua como princípios as bases de uma teoria aparentemente inversa aos princípios defendidos por Karl Marx, na minha singela concepção acerca da ciência, ela não é contraditória com as bases do materialismo científico ou dialético. Vou tentar mostrar o porquê.  
Morin, diferentemente de Marx, que toma por base a compreensão e análise do todo social, do contexto da totalidade, como uma necessidade para a compreensão das partes, parte [segundo diversos estudiosos] da análise das partes, das particularidades para a compreensão do todo. Em primeiro lugar, isto, para mim, não está claro, nem evidente. Em minha concepção, o epicentro nevrálgico, o eixo principal da Teoria da Complexidade de Edgar Morin se situa sobre a necessidade do entendimento da relação todo/partes e partes/todo, o que, a meu ver não contraria em nada os princípios de Karl Marx. Muito pelo contrário, vejo no Pensamento Complexo de Morin, uma âncora, uma ferramenta importantíssima que pode auxiliar [e muito] na compreensão dos fundamentos de Marx que têm por base a visão da totalidade. Considero que os estudos de Morin podem complementar os postulados de Marx, pois, entender como se dá e se processa essa relação todo/partes e partes/todo só vem reforçar a apreensão da totalidade defendida pelos princípios marxistas. Vejamos esta constatação na formulação do próprio Edgar Morin (2005):
O global é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional. Dessa maneira, uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte. O planeta Terra é mais do que um contexto: é o todo organizador e desorganizador de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições do todo. [...] É preciso efetivamente recompor o todo para conhecer as partes. (MORIN, 2005, p.37)
A citação de Morin (2005) deixa claro que não existe essa preferência pelas particularidades, mas, afirma a necessidade do entendimento dessa relação todo/partes e partes/todo.
Mas, o ponto mais importante na obra de Edgar Morin situa-se exatamente em sua desconstrução das verdades e dogmas estabelecidos pela ciência, em especial pelas ciências naturais. O ponto mais significativo de sua obra está na afirmação de que a ciência navega sobre zonas de incertezas e que não devemos nos apoiar nas supostas verdades científicas, mas, ao contrário, é preciso compreender e analisar estas zonas de incertezas no sentido de sua superação. Vejamos esta brilhante formulação de Morin (2005):
As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incerteza. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísicas, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas. [...] Seria preciso ensinar princípios de estratégia que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza. (MORIN, 2005, p.16, passim)

Observem que a formulação de Morin (2005) destaca, coloca o acento exatamente sobre a necessidade da exploração das zonas de incertezas do conhecimento. Esta visão, no meu entendimento, não contraditória com os fundamentos de MARX, é fundamental para a compreensão da totalidade da contextualização dos aspectos históricos e sociais, fundamentais para a compreensão do movimento não linear, dialético em toda sua essência e imprescindível para a compreensão do movimento constante das forças que movem a sociedade de classes, tal qual defendida por Karl Marx na “Introdução à Crítica da Economia Política”. Além disso, esta abordagem de Morin sobre as incertezas das ciências é um ponto extremamente forte para a superação da visão positivista/cartesiana de ciência. Assim, o Pensamento Complexo ou a Teoria da Complexidade de Edgar Morin é um instrumento fundamental que pode auxiliar, sobremaneira, na compreensão e complementação dos fundamentos da obra marxiana.  
Referência:
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 10 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2005.


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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