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sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Escola/Educação e a frieza dos números [2]

Valter Machado da Fonseca*
Prezados (as) leitores (as)! Os números divulgados pelas siglas oficiais [os IDEBs da vida!] tentam mostrar que o Brasil está no caminho certo, que a educação no país está evoluindo, que o percentual de analfabetos está diminuindo, segundo os números e estatísticas oficiais do Estado brasileiro.
Porém, antes de tentar ler o que os números aparentemente nos mostram, é preciso saber interpretar o que está por detrás deles. Estatísticas e números podem muito bem ser alterados e/ou manipulados, conforme os interesses de quem os têm sob seu controle. Por outro lado, eles [por serem símbolos matemáticos] não conseguem fazer leituras abstratas, subjetivas, próprias do pensamento humano. Os números apenas quantificam, jamais qualificam. Existe um imenso abismo entre quantidade e qualidade. Observem como a própria língua pode ocultar uma falsificação, ilusão ou uma banalização. Observemos a frase: “De uma população de 188.298.099 habitantes [em 2006], o Brasil possui apenas 10 % de analfabetos, segundo dados do senso”. Agora vejamos a mesma informação formulada de maneira diferente: “Em 2006, o censo apontou a existência de astronômicos 18.829.810 analfabetos no Brasil”.
Observem que a mesma informação pode ser anunciada de maneiras diferentes. São dois discursos diferenciados sobre as mesmas informações, pois os 18.829.810 correspondem aos 10%. Notem como os números podem ser facilmente manipulados, de acordo com os interesses de quem os controla. Aliás, história do Brasil está repleta de manipulações de dados estatísticos: sejam em campanhas eleitorais, na economia, índices de escolaridade, desemprego, analfabetismo, dentre inúmeros outros dados. Destaco esses aspectos para enfatizar que números frios não podem servir de parâmetros para quaisquer tipos de análises acerca de temas qualitativos. A educação é séria demais para servir de joguete na mão de pessoas que não têm o mínimo de compromisso para com ela.
Outro dia mesmo, quando lia o JM [edição do dia 28 de junho de 2011], me deparei com uma matéria que me chamou a atenção. Referia-se à Rede Pública Municipal de Ensino de Uberaba. A chamada da matéria é “Pesquisa contratada pela PMU diz que pais aprovam apostilas”. Gostaria de explorar alguns dados desta matéria: ela não especifica a metodologia utilizada, apenas diz que foram utilizados questionários escritos e ligações telefônicas. Aponta ainda os seguintes resultados: Numa comparação com a administração anterior, 65,1 % dos pais entrevistados aprovam a educação atual, 28% a consideram igual à anterior e 3,8% a consideram pior. Informa ainda que pouco mais de 52% dos pais sabiam que o novo material didático era de uma determinada escola privada de Uberaba.
Vejamos as contradições, equívocos e ilusões embutidos nesta suposta “pesquisa”: é inadmissível uma pesquisa acerca de um tema de extrema relevância como a educação, ser feita por ligações telefônicas. E a amostragem, como foi feita? Embasou-se em quais parâmetros científicos? Foi realizada com qual justificativa? Foi visando à melhoria do sistema de ensino? Ou foi uma disputa politica com a administração anterior? Pelos realces da matéria me parece que foi uma comparação de cunho eleitoreiro. Se 52% dos pais [mais da metade dos participantes] sabiam que se referia a material didático de uma determinada escola privada e adotado pela Rede Pública, então os resultados da pesquisa foram contaminados.
Agora vamos ao extremamente grave: o material didático foi adotado há menos de seis meses e já querem avaliar? O que se pode avaliar de um processo que envolve o ensino/aprendizagem em menos de seis meses? O que querem fazer com a educação? Pesquisas que envolvem os processos de ensino e de aprendizagem demandam estudos sérios e devem ser feitas ao longo de 5, 6, 10 anos. Nunca em seis meses. E quem deve participar deste tipo de pesquisa educacional? Com certeza, professores (as) que estão na sala de aula, no dia-a-dia da escola. Especialistas e pedagogos competentes. Pesquisadores e estudiosos do campo da educação. Jamais, pais de alunos! Eles não têm quaisquer condições de opinar sobre questões didático-pedagógicas de fundo. Com todo o respeito que merecem, em sua maioria, não possuem nenhum subsídio e formação mínima na área [salvo raras exceções] para analisar temas complexos ligados, diretamente, à “Teoria da Educação”. Incrível! Esta é a primeira vez na vida que vejo tamanha insensatez e tamanho despreparo para se tratar de educação. Caros (as) leitores (as)! E ainda sobem no palanque para afirmar que o futuro de nosso país está nas mãos da educação. Dá para acreditar nisso? O que será que eles chamam de educação?  De qual educação será que estão falando? Ufa! Ainda bem que não frequentei a mesma escola na qual eles aprenderam! Coitadas das nossas crianças!!!  


* Escritor. Geógrafo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre e doutorando em Educação também pela UFU. Professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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