Total de visualizações de página

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A PAISAGEM DA JANELA!

Paisagem da janela                                           Fonte: boinatrilha.blogspot.com


Valter Machado da Fonseca
Na estrada empoeirada, esburacada,
Vai o ônibus, lento, fugindo dos buracos traiçoeiros
Da janela o homem de pele morena, cabelos grisalhos
As rugas na testa, nos cantos da boca os sulcos do tempo
Os olhos cansados, ainda conservam o brilho suave
Dos tempos passados, da esperança que ainda resiste

Da janela estreita do velho ônibus, observa a paisagem
Às vezes de verde exuberante, às vezes árida, sombria, vazia
Ao longe nuvens esparsas pintam o azul do céu de outono
Os olhos, fitos no infinito observavam com cuidado
À procura de algo novo, de algum detalhe que lhe relembre o passado

Da janela do ônibus, ao longe o velho casebre
Imagina as pessoas que teriam a coragem de habitá-lo
Ao redor da casa o cão vadio, magro, sem forças prá latir
Reflete a condição de penúria, talvez fome e miséria
Daqueles que ali vivem, talvez, apesar de tudo felizes
Quem sabe esperando a chuva, trazendo com ela a flor da primavera

Da janela do ônibus empoeirado, ele pensa na vida
Relembra o passado, os momentos felizes, o prazer da infância
A  ternura dos amigos e das mulheres que passaram
Os tempos tristes, as angústias e os sofrimentos que ficaram
A vida, pensa ele: é como a estrada, está sempre em movimento
Alterna paisagens alegres, às vezes tristes como um lamento

Dentro do ônibus um pequeno grupo
Cada um com seu pensamento, com sua alegria, sua aflição
Todos nas janelas observam a paisagem, forçam a visão
Será que todos eles vêem a mesma paisagem sempre fixa?
Talvez, absortos em seus pensamentos, trancados na intimidade
Nem notem o cão magro, o velho casebre com dignidade

Da janela do velho ônibus em constante movimento
A paisagem lá fora é a aquarela que mancha a tela
Da pintura do mundo, imundo, às vezes árido, às vezes fecundo
A velha aquarela, manchada, desbotada, o velho cão
É o reflexo da vida, sofrida, abalada, reflexo do mundo
O homem na janela do ônibus
Quem sabe não seja apenas o reflexo da própria solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário