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Ilustração do planeta em chamas Fonte: bomambiente.com |
Valter Machado da Fonseca
O “Aquecimento
Global” é o tema do momento. Mas, desta vez não se trata de mais um “modismo”,
como aconteceram em várias oportunidades com o sensacionalismo dado pela rede
de comunicação de massas, inúmeras vezes, às temáticas ambientais. Vários
estudiosos sérios, de diversos ramos das ciências da Terra, há muito já
chamavam a atenção para o drástico grau de enfermidade do planeta. O planeta dá
claros sintomas de seu estado febril, de seu estado de agonia.
Mas
não se trata de uma febre qualquer, mas de uma reação ao vírus da prepotência
humana. A terra responde da única forma que lhe resta, com a única alternativa
que lhe é oferecida. Quando um organismo de qualquer forma de vida encontra-se
em estado febril, com a conseqüente elevação de temperatura, é sintoma da
existência de alguma infecção, de algum elemento pernicioso ao seu funcionamento,
ou, simplesmente, uma reação à presença de quaisquer corpos estranhos,
incompatíveis, contraditórios com seu metabolismo. O aquecimento dos corpos é o
sintoma da reação dos anticorpos que agem para expulsar os vírus estranhos, que
podem ser letais para esses organismos, podendo levá-los à morte. Isto ocorre
com a saúde do Planeta, ele está febril.
A
situação está tão séria que o inatingível George W. Bush, o “juiz supremo da
humanidade”, aquele que paira sobre o conjunto dos povos, como “polícia do
mundo”, pasmem: o mesmo que há poucos anos se recusou a assinar o Protocolo de
Kioto, já admite reduzir em 20% a emissão de poluentes para a atmosfera. A
rendição do “Senhor da Guerra” diante dos fatos é outra evidência do grau de
enfermidade da Terra.
Não
existe mistério para explicar o “Aquecimento Global”, os fatos falam por si
mesmos. O homem experimentou o paladar saboroso do lucro proporcionado com a
exploração desmedida dos recursos da natureza e, acreditou que não existiam
limites para sua ganância. Afinal de contas, a natureza existe para servi-lo,
unicamente para isso, imagina ele, na sua infinita e “infalível racionalidade”.
Afinal, a terra pode suportar tudo, ela é “matéria morta”, “natureza
inanimada”, não possui a infinita capacidade de raciocínio do Homo sapiens. E é, exatamente contra
este vírus letal da prepotência humana, que a Terra reage e lança seus
anticorpos. O avanço sem precedentes da tecnologia, a racionalidade técnica e
científica dão poderes ilimitados à prepotência gananciosa da espécie humana. É
dentro deste contexto que o Planeta reage.
Mas,
a reação do Planeta é altamente democrática. Ele não separa os “homens bons”
dos “homens maus”, os sensatos dos insensatos, os ricos dos pobres, os
poderosos dos miseráveis, pelo contrário, sua ira atinge todos os homens
indistintamente. Esta é sua suprema e sábia democracia. A “natureza morta”, que
o homem acreditava dominar e explorar dá mostras de sua força, de sua sapiência,
de sua vida, de sua supremacia. E é sob esta ótica que este texto pretende
debater e discutir o fenômeno do “Aquecimento Global”. É dentro desta lógica
que se pretende construir este texto, desnudando a hipocrisia humana, colocando
às claras sua prepotência e irracionalidade.
O que é o progresso e o desenvolvimento
que a humanidade tanto cultuam?
Para
iniciar este tópico é importante recorrer à brilhante formulação de Carlos
Walter Porto Gonçalves (2004):
Com a questão
ambiental estamos diante de questões de claro sentido ético, filosófico e
político. Que destinos dar à natureza, à nossa própria natureza de seres
humanos? Qual é o sentido da vida? Quais os limites da relação da humanidade
com o planeta? O que fazer com o nosso antropocentrismo[1]
quando olhamos do espaço o nosso planeta e vemos como ele é pequeno e quando
entendemos que somos apenas uma dentre tantas espécies vivas de que nossas
vidas dependem? (GONÇALVES, 2004, p.18)
A
citação de Gonçalves leva à reflexão sobre as relações da humanidade com a
natureza, com o Planeta. Tudo hoje se justifica em nome do “progresso” e do
(des)envolvimento.
Que progresso é este, que se justifica por
meio da destruição do planeta? Que progresso é este, que para se sustentar tem
que destruir vidas alheias?
Que desenvolvimento é esse que leva
continentes inteiros à situação de miséria, para sustentar o bem-estar social
das nações ditas desenvolvidas? Que desenvolvimento é esse, onde as nações
“desenvolvidas” utilizam as nações pobres como depósito de lixo? Que
desenvolvimento é esse, onde as nações para demonstrar supremacia econômica têm
que produzir armamentos nucleares, transformando o planeta num depósito de lixo
atômico?
A humanidade precisa responder, urgentemente,
a estas questões, se quer, realmente, alcançar o tão almejado “progresso” e o
tão cobiçado “desenvolvimento”. Para se alcançar o bem-estar, é preciso
primeiro compreender o significado da vida.
É notório que a problemática ambiental acirrou-se,
basicamente, a partir da Revolução Industrial e, seus efeitos mais gritantes
começaram, de fato, a serem percebidos a partir da década de 1960, quando o
Planeta começou a dar respostas às agressões contra ele dirigidas. Estas
respostas vieram na forma de grandes catástrofes, às quais o homem chama de
“naturais” como: o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio, as “chuvas
ácidas”, o aumento considerável na temperatura e no nível dos oceanos, o aquecimento
global, as alterações climáticas, as grandes enchentes, maremotos, furacões,
terremotos, o derretimento das calotas polares, dentre outras.
Desta forma, a necessidade da reflexão sobre os laços que
unem a sociedade à natureza se faz urgente, no sentido de se evitar o colapso
total. É preciso resgatar, acima de tudo, o verdadeiro significado da vida,
significado este há muito perdido diante da lógica irracional da ação do homem
sobre a natureza. É preciso o entendimento de que a vida vai muito além da
existência ou não do homem: vai desde suas formas mais simples até as mais
complexas.
A própria
legislação desvirtua o sentido da vida, ao resgatar o homem como centro do
universo, esta visão antropocêntrica demonstra a miopia política que reveste o
ser humano e, ao mesmo tempo legitima as suas ações degradantes sobre a
natureza, permitindo a exploração de seus recursos a seu bel prazer, não
importando as conseqüências dessas ações
O sertão pode virar mar, o
mar pode virar sertão!
Diferentemente do que propagam os veículos de
comunicação de massa, a terra é um sistema complexo, vivo, dinâmico. Apesar de
sua aparência estática, o planeta Terra está sempre em movimento, seguindo sua
própria dinâmica, a qual, por sua vez, está em sintonia com a dinâmica do
universo. Desta forma, a Terra se movimenta e está em constante transformação,
daí, pode-se afirmar que o planeta não é estável, o que significa que ele pode
construir um novo desenho em suas estruturas e até mesmo na disposição dos
continentes em seu mapa. Assim como num passado não muito remoto,
geologicamente falando, os continentes se desmembraram, em curto espaço de
tempo eles podem, novamente, adquirir novo desenho, nova configuração. Tudo
depende da correlação entre as forças internas e externas que atuam sobre o
planeta. Por isso, as teorias que afirmam que a Terra já atingiu sua
estabilidade, ou caminha para ela, não se constituem numa verdade. O
desaparecimento de uma espécie inteira de seres vivos, os dinossauros, é um
fato cientificamente comprovado.
A dinâmica é o movimento da terra, onde cada força,
que incide sobre este movimento, interage com outra força, no sentido de
garantir o frágil e complexo equilíbrio do grande ecossistema global. Assim,
existem forças que atuam internamente sobre a Terra e aquelas que atuam na
porção externa do planeta. Por isso, diz-se que a Terra possui uma dinâmica
interna e outra externa.
Existem cinco elementos
fundamentais para a manutenção do equilíbrio do ecossistema terrestre,
interdependentes e interligados entre si, são eles: o sol, água, atmosfera,
clima e organismos. Estes cinco elementos atuam, diretamente, sobre a dinâmica
da terra regulando-a, são primordiais para a manutenção do equilíbrio do
ecossistema planetário, bem como para garantir a continuidade de todas as
formas de vida no ambiente terrestre. A interferência brusca e desordenada
sobre estes elementos, seja em seu conjunto ou sobre cada um deles
separadamente, pode ser letal para a saúde ambiental do planeta. O fenômeno do
aquecimento global interfere, diretamente, sobre estes elementos,
principalmente sobre a atmosfera. A intervenção humana sobre a atmosfera
contribui, de forma decisiva, para as alterações climáticas e, conseqüentemente
para o “Aquecimento Global”
Aquecimento Global: um dos maiores problemas ambientais de
todos os tempos.
O fenômeno do “Aquecimento
Global” nada mais é do que o resultado da interferência gananciosa do homem
sobre o ambiente. O homem começa a colher os frutos de sua própria imprudência.
A própria Física explica brilhantemente este fenômeno, que é resultado do
desequilíbrio do conjunto de forças que sustentam o ecossistema planetário. “A
cada ação corresponde uma reação, de mesmo módulo e sentido contrário”.
O processo de desenvolvimento industrial, a fabricação de
automóveis em série, os desmatamentos, as queimadas, a prática das monoculturas
e a urbanização desordenada, estes fatores deram início à poluição atmosférica,
por meio da emissão de gases nocivos para a atmosfera, a exemplo do monóxido de
carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), o metano e óxido nitroso.
A emissão de gases poluentes para a atmosfera tem
aumentado, de forma nunca vista, o número e o agravamento de doenças
respiratórias, além do aparecimento de novas doenças. A emissão desses gases
provoca o chamado efeito estufa, que tem influência direta sobre o “Aquecimento
Global”.
O
efeito estufa é provocado fundamentalmente pela emissão de poluentes
(principalmente gases tóxicos) para a atmosfera. As grandes fontes de emissão
destes gases são os automóveis, as queimadas (provocadas e espontâneas), os
desmatamentos, a queima de combustíveis fósseis pelos grandes pólos
industriais. Dentre estes, os automóveis têm um papel decisivo, pois circulam
sem nenhum controle, muitas vezes em condições precárias e aumentam em
quantidade, quase que de forma exponencial. Estima-se, segundo fontes das
Nações Unidas que a população mundial, nos dias de hoje, atinja a casa dos 6,5
bilhões de habitantes, a frota de automóveis atinja a casa de 725 milhões e a
emissão de gás carbônico (CO2) para a atmosfera atinja a marca de
7,3 bilhões de toneladas (Fonte: Organização das Nações Unidas, 2006). Estes
números demonstram bem o tamanho do problema e a dimensão dos estragos causados
pela queima dos combustíveis fósseis e seus derivados. Na verdade, segundo a
opinião da própria ONU, este já é um quadro quase que irreversível.
O
“efeito estufa” se forma pelo acúmulo de gases tóxicos na atmosfera da Terra. O
gás carbônico (CO2) e outros gases formam uma espécie de capa na atmosfera
que funciona como uma estufa: permite a entrada de raios solares, mas retém
parte do calor refletido pela superfície terrestre, que de outra forma se
dissiparia no espaço. Isso manteria a temperatura amena e permitiria a vida na
Terra. A poluição provocada pelo homem aumenta a concentração de gases do
efeito estufa, rompendo o equilíbrio climático. O descontrole na produção de
automóveis, de atividades industriais e agroindustriais, as queimadas, a
remoção da vegetação, dentre outros fatores, aumentam, de forma drástica, a
quantidade de poluentes emitidos para a atmosfera agravando, cada vez com mais
intensidade, o problema do efeito estufa. O efeito estufa interfere de forma
direta nas alterações climáticas e no “Aquecimento Global”, um dos maiores
problemas ambientais, detectado nestes últimos tempos.
O
Brasil, apesar de defender a diminuição da quantidade destes gases poluentes,
ocupa um lugar de destaque (4º lugar, com 5,4% da emissão total de gases
poluentes) no ranking dos países que mais poluem a atmosfera planetária, os EUA
ocupam o 1º lugar, com 15,8% do total. É importante destacar que, para a
poluição atmosférica não existem fronteiras, pois as massas de ar se deslocam
tanto verticalmente como horizontalmente. Desta forma a poluição atmosférica
produzida no Brasil atinge também outros países e vice-versa. Portanto,
qualquer ação de combate a este tipo de poluição, tem que envolver o conjunto
de países responsáveis por ela, caso contrário elas não terão nenhum efeito.
KLINTOWITZ, 2006 destaca algumas sérias
conseqüências, às quais ele chama de “as seis pragas do aquecimento”, são elas:
1 – O derretimento do Ártico: A cobertura
de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três
décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979,
uma redução de 1,3 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos
territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido.
2 – Os furacões estão mais fortes: Devido
ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os
mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que
destruiu Nova Orleans, é uma amostra dessa realidade.
3 – O Brasil na rota dos ciclones: Até
então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do Brasil foi varrido por
um forte ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras
tempestades similares, ainda que de menor intensidade, mostra que o problema
veio para ficar.
4 – O nível do mar subiu: A elevação do
nível dos oceanos, desde o início do século passado está entre 8 e 20 cm. Em certas áreas
litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 m na maré alta. Um estudo
da ONU estima que o nível das águas suba 1 metro até o fim do
século. Cidades à beira-mar como Recife, precisarão de diques de contenção.
5 – Os desertos avançam: O total de áreas
atingidas por secas dobrou em trinta anos. Um quarto da superfície do planeta é
agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 km2/ano,
o equivalente ao território do Líbano.
6 – Já se contam os mortos: A organização
das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morram anualmente por causa de
secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao aquecimento
global. Em 2030, o número dobrará. (KLINTOWITZ, 2006, p.76-77)
Para não concluir: considerações
parciais.
Os
mais antigos não precisavam de previsão do tempo, diziam: hoje vai chover,
chovia. É tempo de plantar, plantavam e colhiam. Hoje vai esfriar, esfriava.
Hoje vai dar boa pesca, pescavam o peixe fresco.
Mas,
hoje o homem tenta prever o imprevisto. Tem seca na Amazônia, morrem milhões de
peixes. Tem enchente no Nordeste e seca no Sul. Tem inundação pra todo gosto,
no Norte, no Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste. Tem furacão, Tsunami,
terremoto, tornados, pragas, chuva ácida, muitas doenças (novas e a volta das
antigas). E, o homem, ainda, tenta jogar a culpa na natureza. Enquanto isso
continua fabricando milhões de automóveis, desmatando a Amazônia, desertificando
o Nordeste e o Sul, brigando por petróleo, contaminando as águas e os solos.
Nos tempos modernos,
transformações que a natureza levaria centenas, milhares e até milhões de anos
para processar, acontecem em poucos anos, ou até mesmo em dias, sob a ação
humana. O planeta está seriamente enfermo. Estudos mostram a gravidade do atual
estágio de degradação ambiental do planeta, ao mesmo tempo em que apontam para
soluções incertas e duvidosas. Cientistas chegaram à desoladora conclusão que a
problemática do “Aquecimento Global” tornou-se um processo irreversível.
Chegaram a afirmar que a floresta amazônica vai virar savana, o cerrado (as
manchas que ainda restam), os campos e o sertão do semi-árido vão virar desertos. Chegaram mesmo a afirmar que a espécie humana,
tem um comportamento inédito (no sentido de destruição e desequilíbrio), dentre
todas as espécies, cujas vidas já foram registradas no planeta, em todos os
tempos.
A espécie
humana, apesar de possuir apenas alguns segundos de existência, geologicamente
falando, já causou danos e estragos nunca dantes conhecidos. Estas mesmas
pesquisas apontam para a extinção da espécie humana em apenas mais alguns
segundos (em tempo geológico) de existência sobre a face da Terra. Após a
extinção do homem, a terra, com certeza, se recomporá de uma forma mais
saudável, sem a ameaça da existência humana. Aí, a Terra terá conseguido levar
a cabo sua reação, terá expulsado de seu organismo, da forma mais dolorosa, o
vírus pernicioso da prepotência humana, o grande responsável por suas enfermidades
e seu estado febril.
Referências:
GONÇALVES, C. W. P. O desafio ambiental. Emir Sader (org.). Rio de Janeiro: Record,
2004. __ (Os porquês da desordem mundial. Mestres explicam a globalização).
KLINTOWITZ,
J. APOCALIPSE JÁ. In: Rev. VEJA.
1961 ed. Ano 39. Nº. 24 de 21 de junho de 2006, p. 68-83.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS (ONU). Relatórios ambientais
oficiais, 2006.
[1] Grifo meu. Antropocentrismo refere-se à concepção da corrente filosófica
que considera o homem como o centro do universo.
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