Total de visualizações de página

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

NIEMEYER: AS CURVAS SINUOSAS E O RETORNO À NATUREZA!


Fonte: colunamodaqui.wordpress.com


Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca


O genial arquiteto Oscar Niemeyer foi um dos marcos mais significativos no campo das artes desde meados do século XXI até os tempos d’agora. Sua genialidade se expressa, sobretudo, na leveza de seus traços que, ao introduzir as curvas e sinuosidades também subverteu a ordem dos elementos tradicionais da arquitetura fundada, essencialmente, em figuras geométricas duras, compostas basicamente de retas e ângulos.

Estas formas geométricas que determinaram as principais escolas da arquitetura tradicional marcaram o urbanismo formal, o espaço tomado por construções retilíneas que, em seu conjunto, constituíram as cidades como autênticas “selvas de pedras”, um amontoado de edificações repetitivas, um aglomerado de construções que não se distinguem umas das outras, que apontam para a quebra da harmonia dos elementos naturais. Esse conjunto simétrico, tedioso, repete a lógica do positivismo que, em nome do “progresso” e do “(des)envolvimento” tenta ignorar a beleza da estética natural, fazendo absoluta questão de sublinhar a supremacia do homem sobre o que é natural. Em suma, as retas e ângulos que marcam a arquitetura tradicional, em nome de uma suposta funcionalidade, transformam definitivamente o espaço em mercadoria, combinando esta suposta praticidade com a lógica do reprodutivismo funcional da sociedade do supérfluo e do descartável.

Assim, neste modelo arquitetônico, marcado pela supremacia da formalidade, as cidades e os grandes centros urbanos transformam-se cada dia mais em paisagens ainda mais ásperas, mais duras, mais cruéis e mais desumanas. São os verdadeiros espaços de “natureza ausente”, do sintético, do superficial, do irrisório e do ilusório, onde o homem e seu entorno se coisificam de maneira estupendamente ridícula. O homem utiliza-se desses elementos retilíneos e angulosos como mais uma forma de afirmar sua supremacia não somente sobre os elementos naturais, mas, sobretudo, sobre o conjunto dos seres vivos e até mesmo sobre sua própria espécie. Essas edificações são, na verdade, os grandes invólucros, as grandes caixas de ressonância e de acomodação da mais-valia capitalista.

A arte do grande Niemeyer veio de forma avassaladora para dizer um sonoro não à bestialização da natureza. Como ele próprio disse suas curvas e sinuosidades se inspiraram nos meandros de nossos rios, nos cumes de nossos morros e de nossas montanhas e nas saliências e reentrâncias suaves de nossas mulheres. Neste sentido, sua genialidade buscou definitivamente o retorno à natureza, a reconquista da harmonia natural das coisas, o combate intransigente a estética deselegante e que tem como cume a própria negação da criatividade e potencialidade da arte humana e de todas as suas formas sensíveis de se expressar.

A negação das retas e dos ângulos trouxe de volta a noção de espaço adaptado aos elementos naturais, em contraposição aos recortes espaciais forçados pelas retas, pelos segmentos de retas e pelas figuras angulosas sintéticas e superficiais, sem essência e muito menos sem a marca do potencial da criatividade humana. As curvas de Niemeyer desmontaram, de maneira altamente significativa, as linhas de montagem (aos moldes do Taylorismo/Fordismo) nas quais vinham se transformando as criações arquitetônicas advindas da escola tradicional.
 
Por fim, para se compreender as novas concepções espaciais de Niemeyer é preciso muito mais que a razão, é necessário, fundamental acima de tudo, a capacidade de perceber a relação harmônica existente entre o homem criador, leitor do mundo e da vida e sua essência genuína. Para se compreender a arte do traço sinuoso de Oscar Niemeyer é preciso, acima de qualquer coisa, conceber o ser humano em sua totalidade, escavando a realidade em busca de sua própria beleza diante da sintonia natural das coisas da Terra em perfeita harmonia com a dinâmica e com a essência plena de um universo curvo de Albert Einstein (como diz o próprio Niemeyer). Um universo irradiante de energia pura, fonte que ilumina e sustenta a vida e toda a beleza da criação humana. Portanto, compreender a verdadeira arte deste genial arquiteto demanda um olhar astuto para dentro de nossa própria e efêmera existência na infinitude deste universo em constante expansão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário