Prof. Dr. Valter
Machado da Fonseca
O genial arquiteto
Oscar Niemeyer foi um dos marcos mais significativos no campo das artes desde
meados do século XXI até os tempos d’agora. Sua genialidade se expressa,
sobretudo, na leveza de seus traços que, ao introduzir as curvas e sinuosidades
também subverteu a ordem dos elementos tradicionais da arquitetura fundada, essencialmente,
em figuras geométricas duras, compostas basicamente de retas e ângulos.
Estas
formas geométricas que determinaram as principais escolas da arquitetura
tradicional marcaram o urbanismo formal, o espaço tomado por construções
retilíneas que, em seu conjunto, constituíram as cidades como autênticas “selvas
de pedras”, um amontoado de edificações repetitivas, um aglomerado de
construções que não se distinguem umas das outras, que apontam para a quebra da
harmonia dos elementos naturais. Esse conjunto simétrico, tedioso, repete a
lógica do positivismo que, em nome do “progresso” e do “(des)envolvimento”
tenta ignorar a beleza da estética natural, fazendo absoluta questão de
sublinhar a supremacia do homem sobre o que é natural. Em suma, as retas e
ângulos que marcam a arquitetura tradicional, em nome de uma suposta
funcionalidade, transformam definitivamente o espaço em mercadoria, combinando
esta suposta praticidade com a lógica do reprodutivismo funcional da sociedade
do supérfluo e do descartável.
Assim,
neste modelo arquitetônico, marcado pela supremacia da formalidade, as cidades
e os grandes centros urbanos transformam-se cada dia mais em paisagens ainda
mais ásperas, mais duras, mais cruéis e mais desumanas. São os verdadeiros
espaços de “natureza ausente”, do sintético, do superficial, do irrisório e do
ilusório, onde o homem e seu entorno se coisificam de maneira estupendamente
ridícula. O homem utiliza-se desses elementos retilíneos e angulosos como mais
uma forma de afirmar sua supremacia não somente sobre os elementos naturais,
mas, sobretudo, sobre o conjunto dos seres vivos e até mesmo sobre sua própria
espécie. Essas edificações são, na verdade, os grandes invólucros, as grandes
caixas de ressonância e de acomodação da mais-valia capitalista.
A
arte do grande Niemeyer veio de forma avassaladora para dizer um sonoro não à
bestialização da natureza. Como ele próprio disse suas curvas e sinuosidades se
inspiraram nos meandros de nossos rios, nos cumes de nossos morros e de nossas
montanhas e nas saliências e reentrâncias suaves de nossas mulheres. Neste sentido,
sua genialidade buscou definitivamente o retorno à natureza, a reconquista da
harmonia natural das coisas, o combate intransigente a estética deselegante e
que tem como cume a própria negação da criatividade e potencialidade da arte
humana e de todas as suas formas sensíveis de se expressar.
A
negação das retas e dos ângulos trouxe de volta a noção de espaço adaptado aos
elementos naturais, em contraposição aos recortes espaciais forçados pelas
retas, pelos segmentos de retas e pelas figuras angulosas sintéticas e
superficiais, sem essência e muito menos sem a marca do potencial da
criatividade humana. As curvas de Niemeyer desmontaram, de maneira altamente
significativa, as linhas de montagem (aos moldes do Taylorismo/Fordismo) nas
quais vinham se transformando as criações arquitetônicas advindas da escola
tradicional.
Por fim, para se
compreender as novas concepções espaciais de Niemeyer é preciso muito mais que
a razão, é necessário, fundamental acima de tudo, a capacidade de perceber a
relação harmônica existente entre o homem criador, leitor do mundo e da vida e
sua essência genuína. Para se compreender a arte do traço sinuoso de Oscar
Niemeyer é preciso, acima de qualquer coisa, conceber o ser humano em sua
totalidade, escavando a realidade em busca de sua própria beleza diante da
sintonia natural das coisas da Terra em perfeita harmonia com a dinâmica e com
a essência plena de um universo curvo de Albert Einstein (como diz o próprio Niemeyer).
Um universo irradiante de energia pura, fonte que ilumina e sustenta a vida e
toda a beleza da criação humana. Portanto, compreender a verdadeira arte deste
genial arquiteto demanda um olhar astuto para dentro de nossa própria e efêmera
existência na infinitude deste universo em constante expansão.
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