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Fonte: www.rondoniavip.com.br |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Observando
os acontecimentos que marcam o conturbado mundo moderno fiquei a imaginar
algumas transformações que poderiam ser realizadas e que, com certeza,
tornariam este mundo menos complicado e, talvez, os seres humanos mais felizes.
A vida cotidiana do mundo moderno faz com que o homem se enclausure, cada dia
mais, para fugir da violência urbana (marca indelével da sociedade
capitalista), dentro dos grandes condomínios, que são, na verdade, verdadeiras
prisões dissimuladas e camufladas com certo ar de “segurança” em alguns matizes
de ilusões de “liberdade”.
Ora, a ganância
criada pelo próprio ser humano para manter intactos seus falsos domínios gerados
pela sede de consumo faz o ser humano escravo de se mesmo. Este estado de
coisas introjeta em sua própria mente a ânsia e o medo da perda de bens
materiais que, no final das contas, nem o próprio proprietário sabe para que
servem. Verificamos, com isso, a perda total da liberdade humana travestida no
apego a coisas banais e artificiais. Com isso, os pobres mortais, habitantes da
terra, perdem por completo a noção de felicidade e liberdade, substituindo-as
pela noção de posse a coisas que os levam à própria solitária.
Diante disso,
imagine se não existissem fronteiras, se pudéssemos andar livremente, sem nos
preocuparmos com a insegurança, sem ficarmos presos a posses ilusórias, sem
fantasmas nem falsos valores. Imagine se pudéssemos andar pelos campos, irmos a
terras longínquas sem passaporte e não tivéssemos que ter permissão para atravessarmos
as cercas. Afinal, para que servem as cercas? Para que servem os arames
farpados? Para que servem os condomínios fechados, senão para nos escondermos
de nós mesmos? Até quando o homem vai necessitar se defender de sua própria espécie?
Qual a verdadeira lógica deste modelo de sociedade, do qual sobressaem o medo e
a insegurança?
É importante
que façamos esta reflexão. É preciso que olhemos para dentro de nós mesmos e
descubramos a chave para abrir nossos próprios grilhões. É fundamental acharmos
os instrumentos para derrubar nossas cercas internas, as quais nos impedem de
ver o mundo das coisas e as coisas belas do mundo. É preciso, urgentemente, que
achemos a chave que destrave a nossa essência, para que, a partir daí, possamos
descobrir, de uma vez por todas, que a liberdade e a felicidade não podem ser
trancafiadas dentro de um terreno cercado, que esses dois termos jamais combinarão
com a opressão e com as cercas, que só servem para decretar a nossa própria
prisão.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da
Universidade de Uberaba (UNIUBE). pesquisa.fonseca@gmail.com
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