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Fonte: blogdoratis.blogspot.com |
Prof. Dr. Valter Machado
da Fonseca*
Neste último
sábado (08/06/13) fui debatedor do filme (A guerra de um homem). Trata-se de um
excelente filme dirigido por Sérgio Toledo e que tem como protagonista o
consagrado ator Antony Hopkins. Ele faz uma severa crítica aos desmandos da
ditadura militar nos anos de chumbo de Stroessner que governou o Paraguai à
custa da tortura e dos assassinatos na década de 70/80. O filme serve de modelo
para o debate sobre o processo de instalação das ditaduras militares
sanguinárias em toda a América Latina, inclusive no Brasil.
Mas, o
fato que mais chamou a atenção no debate foi a presença de uma pessoa que
estava da plateia que fez o discurso genuíno dos militares, defendendo, inclusive,
os métodos de tortura utilizados por eles. Tivemos a infeliz oportunidade de
ouvir frase do tipo: “naquele tempo éramos felizes, não havia violência, reinava
a ordem e a harmonia”, “todos viviam em paz”, “hoje as pessoas reclamam que
tomavam um tapinha na cara e diziam que eram torturadas”, “não era uma
ditadura, mas sim um governo legítimo dos militares e que deveria ter
permanecido até hoje”. Existem algumas possíveis explicações para a ousadia de
uma pessoa ir a público e evocar tais discursos: ou se trata de alguém
totalmente despolitizado que desconhece profundamente a história dos regimes
militares (acho pouco provável pela convicção com que evocou os discursos em
defesa dos generais), pode também se tratar de alguém que foi ao evento com o
firme propósito de desarticular o processo democrático em curso no país, ou
ainda pode ser parente de algum remanescente do regime e, por último pode ser
uma saudosista do tempo dos militares e que tem a esperança de que o regime
pode ressurgir das cinzas como a Fênix. Segundo ela própria, é advogada. Se ela
milita no campo do direito me parece estranho tal posicionamento e a defesa intransigente
das ditaduras militares em nosso continente.
Mas,
uma coisa ficou muito clara: de ingênua a “moça” não tem nada, muito pelo
contrário, ela sabia exatamente o que estava fazendo. São acontecimentos como
esse que evidenciam a barbárie dos novos tempos como, por exemplo, o ateamento
de fogo no cacique Galdino, o assassinato cruel de trabalhadores sem terra, a
exemplo de Chico Mendes, Dorothy Stein, a chacina de Corumbiara e de El Dourado
dos Carajás, os assassinatos de prostitutas e de homossexuais que constantemente
ganham as páginas dos principais jornas de nosso país. Isto pode explicar o ressurgimento, das cinzas,
do neonazismo e de organizações nazifascistas em todas as partes do mundo. Enfim,
devemos tomar as devidas precauções e os devidos cuidados, pois os monstros que
se esconderam por anos a fio no lamaçal do ódio à própria humanidade emergem
novamente para assombrar o mundo e ameaçar a nossa frágil e incipiente
democracia.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor
pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da
Universidade de Uberaba (UNIUBE). pesquia.fonseca@gmail.com
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