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terça-feira, 11 de junho de 2013

Os resquícios das ditaduras militares emergem das sombras

Fonte: blogdoratis.blogspot.com
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Neste último sábado (08/06/13) fui debatedor do filme (A guerra de um homem). Trata-se de um excelente filme dirigido por Sérgio Toledo e que tem como protagonista o consagrado ator Antony Hopkins. Ele faz uma severa crítica aos desmandos da ditadura militar nos anos de chumbo de Stroessner que governou o Paraguai à custa da tortura e dos assassinatos na década de 70/80. O filme serve de modelo para o debate sobre o processo de instalação das ditaduras militares sanguinárias em toda a América Latina, inclusive no Brasil.
Mas, o fato que mais chamou a atenção no debate foi a presença de uma pessoa que estava da plateia que fez o discurso genuíno dos militares, defendendo, inclusive, os métodos de tortura utilizados por eles. Tivemos a infeliz oportunidade de ouvir frase do tipo: “naquele tempo éramos felizes, não havia violência, reinava a ordem e a harmonia”, “todos viviam em paz”, “hoje as pessoas reclamam que tomavam um tapinha na cara e diziam que eram torturadas”, “não era uma ditadura, mas sim um governo legítimo dos militares e que deveria ter permanecido até hoje”. Existem algumas possíveis explicações para a ousadia de uma pessoa ir a público e evocar tais discursos: ou se trata de alguém totalmente despolitizado que desconhece profundamente a história dos regimes militares (acho pouco provável pela convicção com que evocou os discursos em defesa dos generais), pode também se tratar de alguém que foi ao evento com o firme propósito de desarticular o processo democrático em curso no país, ou ainda pode ser parente de algum remanescente do regime e, por último pode ser uma saudosista do tempo dos militares e que tem a esperança de que o regime pode ressurgir das cinzas como a Fênix. Segundo ela própria, é advogada. Se ela milita no campo do direito me parece estranho tal posicionamento e a defesa intransigente das ditaduras militares em nosso continente.
Mas, uma coisa ficou muito clara: de ingênua a “moça” não tem nada, muito pelo contrário, ela sabia exatamente o que estava fazendo. São acontecimentos como esse que evidenciam a barbárie dos novos tempos como, por exemplo, o ateamento de fogo no cacique Galdino, o assassinato cruel de trabalhadores sem terra, a exemplo de Chico Mendes, Dorothy Stein, a chacina de Corumbiara e de El Dourado dos Carajás, os assassinatos de prostitutas e de homossexuais que constantemente ganham as páginas dos principais jornas de nosso país.  Isto pode explicar o ressurgimento, das cinzas, do neonazismo e de organizações nazifascistas em todas as partes do mundo. Enfim, devemos tomar as devidas precauções e os devidos cuidados, pois os monstros que se esconderam por anos a fio no lamaçal do ódio à própria humanidade emergem novamente para assombrar o mundo e ameaçar a nossa frágil e incipiente democracia.


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE). pesquia.fonseca@gmail.com

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