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Fonte: www.publico.pt |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca
Basta
de desmandos! Esta é a palavra de ordem que exprime o fundo de indignação que
toma conta da população brasileira. As manifestações espontâneas que tomam
conta das principais cidades do país tem um significado político profundo e
exprime o sentimento de revolta entalado na garganta do povo brasileiro contra
as maracutaias, os desvios de verbas, o descaso para com a coisa pública e a
subserviência do governo brasileiro aos ditames e aos anseios do grande
capital, em detrimento dos interesses da grande massa de jovens e trabalhadores
brasileiros.
À primeira
vista, a grande mídia capitalista tentou secundarizar o movimento legítimo que
ganha as ruas das grandes cidades e que se alastram por todo o país, como se
fosse uma singela insatisfação contra o aumento das tarifas dos transportes
coletivos urbanos. Isto foi apenas a ponta do iceberg! Na verdade, estas
manifestações assumem a quebra do imobilismo do movimento sindical, engessado e
colocado sob a tutela dos diversos governos (em todos os níveis). A massa
começa a atropelar o pacto social costurado entre as elites (agrária e
industrial) e o governo brasileiro que trabalha em favor dos megagrupos
capitalistas mundiais.
A gente não quer só comida!
Apesar das
tentativas desesperadas da mídia capitalista em secundarizar as manifestações,
em transformar a essência do movimento em simples reivindicações econômicas e
pontuais como o aumento da tarifa dos transportes, a população começa a resgatar
o verdadeiro sentido de pertencimento de classe da juventude trabalhadora do
Brasil. O povo nas ruas vem colocar a nu a política entreguista do governo de
diversos matizes que expressam apenas os anseios e desejos das elites. O povo
nas ruas denuncia, ainda que de forma espontânea, a insatisfação contra a
corrupção, as propinas, o imobilismo e a podridão das instituições carcomidas
das elites econômicas brasileiras e, acima de tudo, expressam seu total
descontentamento contra a ausência de liberdade engessada num projeto repressor
travestido de democracia. Não, meus caros leitores! Existe por trás deste
movimento um sentimento muito maior de repúdio contra o desgoverno de um país
que vem tratando seu povo como acéfalo, desprovido da capacidade de reação. O povo vem dizer num brado extremamente
retumbante: “a gente não quer só comida”.
O cassetete democrático do
governo das elites!
No momento
em que os olhos do mundo se voltam para o nosso país, o povo não se deixa
enganar pelo ópio da “indústria do futebol” e vai às ruas. As vaias
generosamente distribuídas ao presidente da FIFA, Joseph Blatter e à presidente
do Brasil, Dilma Rousseff na abertura da Copa das Confederações foram uma
demonstração que o ópio do futebol já não passa de uma injeção com o prazo de
validade vencido. Por outro lado, vemos a polícia (braço armado do Estado
capitalista) atuar de forma desesperada, utilizando-se das “velhas” formas de
repressão para conter o avanço das massas nas ruas. O “cassetete democrático”
do Estado capitalista é novamente utilizado contra o povo brasileiro.
O significado das manifestações
É preciso
que façamos a leitura correta do real significado das manifestações que tomam
conta do país. O Estado brasileiro foi tomado de surpresa, pois o movimento
surgiu de forma espontânea, silencioso e, rapidamente, as centenas de
manifestantes se transformaram em milhares. Estas manifestações vieram para
dizer que estes sindicatos atrelados ao aparelho de Estado já não servem para
mais nada. Vieram para dizer que este parlamento não representa os anseios da população
marginalizada e oprimida de nosso país, que este modelo de justiça só serve
para as elites econômicas e para defender os interesses dos megagrupos
inter/multi/transnacionais, dos quais o nosso governo não passa de capacho.
Enfim,
as manifestações apontam que o nosso povo cansou e que agora diz basta a toda
esta podridão implantada em nosso país. O movimento nas ruas se espalha e
mostra que a saída passa, assim como a história já comprovou centenas de vezes,
pela mobilização dos setores mais expressivos da juventude e da classe da
trabalhadora. Este movimento que se expressa nas ruas das principais cidades do
país, mostra que nem tudo está perdido e que novos tempos hão de chegar,
trazendo consigo os ares outrora esquecidos da liberdade. Assim, “o povo num heroico
brado retumbante fará brilhar a esperança do sol da liberdade neste instante”.
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