Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
RESERVATÓRIOS
DE ÁGUA DA TERRA
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RESERVATÓRIO
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%
DO TOTAL
|
VOLUME
EM
QUILÔMETROS CÚBICOS |
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Oceano
|
97,25%
|
1.370.000.000
|
|
Calotas
polares/geleiras
|
2,05%
|
29.000.000
|
|
Água
subterrânea
|
0,68%
|
9.500.000
|
|
Lagos
|
0,01%
|
125.000
|
|
Solos
|
0,005%
|
65.000
|
|
Atmosfera
|
0,001%
|
13.000
|
|
Rios
|
0,0001%
|
1.700
|
|
Biosfera
|
0,00004%
|
600
|
|
TOTAL
|
100%
|
1.408.700.000
|
|
|
|
|
Fonte:
MMA[1],
2001
Org.:
V.
M. da Fonseca, 2006.
Analisando
os dados da tabela , nota-se que apesar de o planeta ser constituído em sua
maioria absoluta por água, a maioria dela é imprópria para o consumo humano e
de diversas espécies de seres vivos. Percebe-se que 97,25% dela estão nos mares
e oceanos o que corresponde a 1.370.000.000 Km3, seguido pelas
calotas polares (29.000.000 de Km3) que corresponde a 2,05% do total
de água do planeta. A água disponível
para o consumo humano[2]
encontra-se nos reservatórios subterrâneos, nos lagos e nos rios.
PRINCIPAIS
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS
A
água é uma substância imprescindível à existência e continuidade da vida no
planeta Terra. Ao contrário do que pensam muitos, a vida não começou na terra
(nos continentes), mas nos ecossistemas aquáticos e depois evoluiu para os continentes.
Daí pode-se inferir sua importância para a vida de todas as espécies presentes
em nosso planeta. A mídia comumente afirma que a água no planeta vem
diminuindo. Trata-se de uma informação errônea. O que vem diminuindo é a
quantidade de água potável, devido à sua contaminação pela ação antrópica. A
quantidade total de água no planeta se mantém constante e é regulada por um
mecanismo denominado “Ciclo da Água.. No mundo todo, as principais nações
estabelecem mecanismos de controle,
gestão e regulação de seus recursos hídricos[3],
pois, já preveem a escassez de água potável, num futuro próximo.
OS
MARES E OCEANOS
Os
mares e oceanos, além de serem os ecossistemas mais ricos do planeta em
biodiversidade, influem de maneira direta na formação dos vários tipos
climáticos do planeta. São também nestes ecossistemas que ocorrem a presença
dos alimentos primários para a “Cadeia ou Teia da vida”, os plânctons
e fitoplanctons[4].
Os mares e oceanos estão diretamente ligados ao processo de precipitação
pluviométrica (regime de chuvas), à formação das massas de ar, responsáveis
pela regulação climática e à formação das correntes marinhas, outro componente
essencial nos processos climáticos e na regulação térmica das águas dos
oceanos.
Este
complexo e importante ecossistema é habitado por milhões de espécies tanto
animais quanto vegetais. Pesquisas científicas apontam que a origem de todas as
espécies de seres vivos ocorreu nestes ecossistemas.
Os
mares e oceanos representam um importante mosaico, que serve de registro
histórico das atividades geológicas durante vários períodos da história da
dinâmica da terra. A oceanografia é o ramo das ciências responsável pelos
estudos marinhos. Apesar do avanço das pesquisas, o relevo submarino,
principalmente o das regiões mais profundas (abissais) ainda não é
suficientemente conhecido, se comparado com as pesquisas realizadas nos
continentes. A litologia[5] do
fundo dos oceanos não é conhecida por processos diretos, mas sim por intermédio
de dragas e sondas especiais e de conhecimentos e experiências na área de sismologia[6].
Os
mares e oceanos apresentam as seguintes feições topográficas principais, a
saber:
1
– As margens continentais, formadas pelo talude continental, plataforma
continental;
2
– A elevação continental;
3
– Os assoalhos oceânicos;
4
– Os sistemas de cordilheiras oceânicas.
A
vida de todas as espécies que habitam os ecossistemas continentais está
diretamente ligada à vida marinha, pois os mares e oceanos além de fornecer
inúmeros nutrientes para as demais espécies que habitam os continentes, também
são elementos que interferem diretamente nas formações climáticas, no processo
de precipitações pluviométricas e na formação das correntes de ar.
É
importante destacar que este vasto ecossistema, em especial nos dias atuais, tem
sido afetado por desastres ecológicos que ameaçam a vida de suas espécies, a
exemplo de derramamento de óleos, poluição das águas litorâneas, acúmulo de
dejetos nas águas, ações de despejos de resíduos domésticos e industriais,
dentre outras ações degradantes do ambiente marinho. A degradação do ambiente
marinho tem despertado a atenção de importantes setores da sociedade,
Organizações Não Governamentais (ONGs), as quais tem se empenhado na proposição
de ações preservacionistas para minimizar os efeitos da ação humana sobre este
ecossistema.
OS
MANGUEZAIS: ECOSSISTEMAS DE TRANSIÇÃO
Muitos
estudiosos afirmam que os mangues ou manguezais são ecossistemas de transição
entre os ecossistemas terrestres e aquáticos. Mas, o que sabe de fato e que, no
fim das contas é mais importante, é que se constituem em ecossistemas
riquíssimos em espécies responsáveis pelo equilíbrio de vários outros
ecossistemas, apesar de serem extremamente frágeis.
O
Manguezal também é conhecido pelo nome de Mangal ou Mangue. Trata-se de um
ecossistema litorâneo, de transição entre os ambientes terrestres e marinhos.
São zonas úmidas próprias de regiões tropicais ou subtropicais.
Os
Manguezais cumprem papéis preponderantes na manutenção das espécies, pois são
responsáveis pelo fornecimento de matéria orgânica para os estuários,
auxiliando, dessa forma, como produtores primários de nutrientes na zona
costeira dos continentes. Estão entre os ecossistemas complexos e os mais
férteis e diversificados do planeta. A sua rica diversidade biológica faz
destas áreas grandes “berçários” naturais, tanto para espécies do próprio
ecossistema, como para outros animais, aves, moluscos, peixes e crustáceos, que
encontram nestes ambientes, as condições ideais para sua reprodução e
sobrevivência. Daí sua importância ecológica e/ou econômica. Esses ambientes
são responsáveis pela produção de cerca de 95% dos alimentos que o homem
captura no mar. Sua manutenção é vital para as comunidades pesqueiras que
habitam o seu entorno. Em relação aos solos, a vegetação dos mangues funciona
como fixadores dos solos, impedindo a erosão e servindo como estabilizador da
linha costeira. As raízes do manguezal funcionam como filtros para retenção dos
sedimentos. Os manguezais constituem-se em importantes bancos genéticos para a
recuperação de áreas degradadas, principalmente às afetadas por metais pesados.
É
possível a exploração sustentável dos manguezais?
Sim!
Os manguezais podem ser explorados de maneira sustentável, desde que se
observem certas particularidades. Diversas atividades podem ser realizadas de
forma sustentável nos manguezais:
-
Pesca esportiva, artesanal ou de subsistência, desde que se respeitem as épocas
de criação e procriação das espécies;
-
Utilização de madeira das árvores, desde que se assegure o correto
reflorestamento;
-
Cultivo de ostras, caranguejos e outros seres aquáticos;
-
Cultivo de plantas ornamentais, como orquídeas e bromélias;
-
Atividades de apicultura;
-
Exploração do potencial turístico, recreativo, educacional e de pesquisa
científica.
Segundo
estimavas, existem 170.000 de Km2 de manguezais, em todo o planeta.
Deste total, aproximadamente 15% (26.000 Km2) estão distribuídos no
litoral brasileiro do Estado do Amapá até Santa Catarina. Vários destes
manguezais estão sendo transformados em áreas de preservação.
AS
GELEIRAS
Cerca
de 10% (uma extensão aproximada de 15 milhões de Km2) das áreas
ocupadas pelos continentes, no globo terrestre, são cobertas de gelo
perene[7], sem contar as áreas que
se cobrem temporariamente de gelo e neve. As geleiras constituem-se em
relevantes agentes de formação geológica, que agem sobre os processos de
modelagem do relevo terrestre, além de serem imprescindíveis para a manutenção
do equilíbrio do grande ecossistema planetário, agindo como controladoras do
nível de água dos oceanos. Elas também possuem incidência direta sobre o clima
global, uma vez que controla o nível dos oceanos, além do que, as regiões
polares e/ou de clima frio constituírem um ecossistema riquíssimo em
diversidade biológica e responsável, ainda, pela refrigeração (ao lado da
vegetação) e controle térmico do planeta.
Há
aproximadamente 1 (um) milhão de anos atrás, quase 30% da superfície dos
continentes esteve coberta por gelo perene, portanto uma superfície quase 3
vezes maior que a cobertura atual. Mesmo no Brasil, isento hoje da ação do
gelo, já sofreu no passado remoto, há cerca de 200 milhões de anos, intensas
atividades glaciais, deixando numerosos vestígios em todo o sul do país. Estes
elementos e dados demonstram a importância do gelo para a compreensão das
condições climáticas das remotas eras do planeta Terra. As atividades do gelo
são muito importantes para os estudos paleoclimáticos, possibilitando, muitas
vezes ter-se uma idéia do ambiente em tempos passados, às vezes bastante
remotos.
Hoje,
estudos avançados demonstram que as calotas[8] polares
(geladas) e o gelo permanente de altitude, são elementos fundamentais para
manter o equilíbrio da dinâmica da Terra. Alterações significativas nestas
condições podem mexer com a estabilidade climática de todo o planeta, e
comprometer seriamente o equilíbrio do ambiente terrestre.
As
formas arredondadas nas pontas das montanhas de gelo indicam a ocorrência do
fenômeno do degelo destas geleiras. Nos dias atuais este fenômeno vem se
tronando mais intenso em função do aquecimento global, ocasionado pela emissão
de gases poluentes para a atmosfera do planeta. As geleiras são constituídas de
água doce, mas que quando se derretem suas águas se incorporam às águas
salgadas dos oceanos. O derretimento das geleiras, além de interferir no
equilíbrio climático do planeta, também provoca o aumento do nível dos mares e
oceanos. O derretimento das geleiras também tem interferido na vida de diversas
espécies que habitam as regiões no entorno das calotas polares do planeta. Além
dos polos, as geleiras são encontradas também em zonas de grandes altitudes e
são chamadas de gelo de altitude.
Nas
regiões frias e temperadas encontramos ecossistemas típicos chamados tundra e
taiga, respectivamente. São vegetações típicas de clima frio que abrigam
importantes espécies, tanto animais quanto vegetais.
O
TRATADO DA ANTÁRTIDA
A
Antártida, também conhecida como Polo Sul, ou “Continente Gelado”, é um
ecossistema de grande importância para todas as nações e um potencial objeto de
investigação científica. O continente situado na extremidade do Hemisfério Sul
do planeta, é um rico mosaico que abriga importantes espécies que servem de
parâmetros para as pesquisas sobre o estágio de preservação ambiental do
planeta. A investigação de sua fauna e flora pode levar a importantes indícios
sobre a qualidade da saúde ambiental do ecossistema planetário.
As
Nações Unidas e o Tratado da Antártida
O
continente gelado adquiriu grande importância para as diversas nações do mundo.
Tanto é que um número significativo de nações possuem bases de pesquisas
científicas no continente, visando realizar observações sobre diversos aspectos
relativos à fauna, flora, solo, paisagens, alterações climáticas, dentre
outras.
O
Tratado da Antártida é um compromisso oficial datado de 1º de dezembro de 1959,
pelas nações que reivindicavam a posse de partes do continente, visando a
realização de pesquisas de caráter meramente científicos. Os países/membros se
comprometeram a realizar tais pesquisas em regime de cooperação internacional
entre as diversas nações integrantes do acordo.
O
Brasil possui uma base de pesquisas científicas no continente gelado. É a base
militar Comandante Ferraz. Esta base já forneceu elementos e observações
significativas para o desenvolvimento de pesquisas científicas no Brasil, bem
como para o desenvolvimento de ações de preservação ambiental em nosso país.
Países que possuem base de pesquisas científicas na Antártida: África do Sul,
Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Bulgária, Chile, China, Coreia
do Norte, Coreia do Sul, Equador, Espanha, EUA, Finlândia, França, Índia,
Itália, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Peru, Polônia, Portugal,
Reino Unido, Rússia, Suécia, Turquia, Ucrânia, Uruguai.
O Tratado
adota as seguintes regras reguladoras das atividades na região:
·
Assegura
a liberdade de pesquisa, cujos resultados devem ser permutados e tornados
livremente utilizáveis, estando prevista a presença de observadores das Partes
Contratantes com acesso irrestrito a qualquer tempo e em qualquer lugar, aí
incluídas todas as estações, instalações e equipamentos existentes na Antártica;
·
Permite
que equipamento ou pessoal militar possa ser introduzido na região, desde que
para pesquisa científica ou para qualquer outro propósito pacífico;
·
Exorta
as Partes Contratantes a empregarem esforços apropriados, de conformidade com a
Carta das Nações Unidas, para que ninguém exerça, na Antártica,
qualquer atividade contrária aos princípios do Tratado;
·
Admite
a modificação ou emenda do Tratado a qualquer tempo, por acordo unânime das
Partes, ou após decorridos trinta anos de vigência, por solicitação de qualquer
uma das Partes Contratantes;
·
Elege
o governo dos Estados Unidos como depositário dos
instrumentos de ratificação do Tratado e concede a possibilidade de adesão a
qualquer Estado que seja membro das Nações Unidas;
·
Define
a área de jurisdição do Tratado como aquela situada ao sul de sessenta graus de
latitude
sul, incluindo as plataformas de gelo, ressalvando, contudo, a preservação do direito
internacional aplicável ao alto-mar;
·
Estabelece
que nenhuma nova reivindicação, ou ampliação de reivindicação existente,
relativa à soberania territorial na Antártica,
será apresentada enquanto o presente Tratado estiver em vigor e;
·
Proíbe a realização
de explosões nucleares
e o depósito de resíduos radioativos (primeiro acordo nuclear
internacional).
Então se pode
concluir que as ações desenvolvidas pelas diversas nações que fazem parte do
Tratado da Antártida são extremamente relevantes para os estudos dos diversos
ecossistemas terretres, bem como das diversas espécies que os compõem. Assim,
por intermédio de observações do comportamento dos elementos da fuana, da
paisagem, do fenômeno do derretimento das geleiras, podem-se inferir
importantes diagnósticos sobre a saúde ambiental do planeta. Por meio destes
diagnósticos podem se promover ações, visando à preservação de diversos
ecossistemas e suas em várias partes do globo terrestre. A triste constatação
que se tem observado nos últimos anos, em investigações científicas no
“Continente Gelado” é o elevado índice de derretimento de geleiras e Icebergs,
em decorrência do aquecimento global, fruto da ação predadora do homem sobre o
ambiente.
As
regiões alagadas e pantanosas
Outros
ecossistemas relevantes e responsáveis por manter o nível do lençol freático
são as áreas alagadas e/ou pantanosas. Estas áreas geralmente apresentam
vegetação exuberante, composta por espécies vegetais cujas raízes se adaptam às
áreas de alagamento. Possuem uma fauna rica e composta de mamíferos (que
geralmente vivem nas copas das árvores, a exemplo dos primatas), répteis,
anfíbios, crustáceos, além de uma grande variedade de insetos. Estas áreas
geralmente possuem razoável estado de conservação, por serem de difícil acesso
e pouco propícia á ocupação humana.
Outro ecossistema importante das
áreas alagadas são as Veredas, muito comuns no Cerrado brasileiro. Segundo
MALHEIROS et. aL (2004, p.19) “Vereda é o espaço brejoso ou encharcado, que
contém nascentes ou cabeceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos[9],
caracterizado predominantemente por renques de buritis[10]
do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação
típica”. Alguns estudiosos consideram as veredas como um subsistema dentro do
Cerrado. A Agência Nacional das Águas estuda uma legislação específica para
regular a exploração das veredas, uma vez que grande parte das vezes a
existência das veredas está associada à existência de nascentes de água doce,
ou estão próximas dos corpos d’água.
O Pantanal Mato-Grossense
O pantanal mato-grossense é
considerado um dos mais belos e mais ricos biomas do mundo. É considerado por
muitos um “santuário ecológico da humanidade. O professor Aziz Ab’Sáber, um dos
maiores geomorfólogos do mundo e professor da Universidade de São Paulo (USP),
assim disserta sobre este importante ecossistema:
Na categoria de uma grande e
relativamente complexa planície de coalescência detrítico-aluvial, o Pantanal
Mato-Grossense inclui ecossistemas do domínio dos Cerrados e ecossistemas do
Chaco, além de componentes bióticos do Nordeste seco e da região periamazônica.
Do ponto de vista fitogeográfico, trata-se de um velho “complexo” regional, que
os mapeamentos de vegetação, elaborados a partir de documentos de imagens de
sensoriamento remoto, transformaram em um mosaico perfeitamente compreensível
da organização natural do espaço, e, em nada, “complexo”. [...] Decorrem, disso
tudo, novas e maiores responsabilidades para os que se dedicam ao conhecimento
dessa grande depressão aluvial, localizada no centro do continente
sul-americano (AB’SÁBER, 2006, p.12).
A citação de Ab’Sáber (2006)
demonstra que o ecossistema pantaneiro é um autêntico mosaico composto por
aspectos comuns a vários outros ecossistemas brasileiros, como o Cerrado, a
Caatinga, o Chaco, a Amazônia. Assim sendo, ele se torna um ecossistema ímpar,
com particularidades não encontradas em nenhum outro ecossistema de alagamento
do planeta. Sua vegetação é adaptada ao ambiente aquático durante o verão e
terrestre em alguns locais, no inverno. Nele habitam mais de uma centena de
espécies de aves com plumagens de todas as cores e matizes, uma grande
variedade de mamíferos, em especial os que habitam as copas das árvores como os
primatas, diversas espécies de repteis (jacarés e serpentes), quelônios
(tartarugas de diversas espécies, cágados), além de centenas de espécies de
peixes.
Por sua exuberante beleza e pelo
enorme potencial turístico e paisagístico o Pantanal Mato-Grossense e regiões
adjacentes têm chamado a atenção de turistas do mundo todo. Muitos
proprietários de terras da região têm abandonado as atividades econômicas
tradicionais da região para investir em atividades ligadas ao ecoturismo, à
pesca esportiva e recreativa, dentre outras atividades ligadas ao setor
turístico. Outros trocam as atividades tradicionais pela construção de reservas
ecológicas voltadas á exploração sustentável das atividades de turismo e lazer.
Isto tem feito com a população local e os proprietários dos estabelecimentos
rurais passem a enxergar o ecossistema com outros olhos. Conseguem perceber o
potencial turístico-paisagístico regional, como forma de investimentos em
atividades sustentáveis, preservando, desta maneira, as espécies que valorizam
o ecossistema.
A grande maioria dos produtores
rurais pantaneiros já consegue aliar suas atividades agropecuárias com a
preservação dos recursos naturais da região. Nota-se, com esta lógica, que as
atividades turísticas quando possuem uma gestão correta e eficiente pode
auxiliar, sobremaneira, para a preservação dos recursos naturais e das espécies
que habitam os ecossistemas naturais. É claro que o Pantanal enfrenta, como
todo ecossistema nos dias atuais, problemas de degradação, como a matança
indiscriminada de jacarés, a pesca predatória, o desmatamento indiscriminado, o
tráfico de animais silvestres, dentre outras formas de degradação. Mas seus moradores
têm dado passos decisivos no sentido de superação destes problemas.
Rios, lagos, riachos, córregos e ribeirões
Os corpos d’água superficiais, em
especial os rios, riachos e ribeirões são originados de afloramentos dos
reservatórios de água subterrâneas, denominados de nascentes. Estes corpos
d’água possuem canais de drenagem protegidos por vegetações que os margeiam
denominadas matas ciliares[11].
Estes corpos d’água superficiais são as principais fontes de água potável para
o consumo humano. Hoje em dia, infelizmente, as fontes de água potável estão
sendo cada vez mais ameaçadas pela ação degradante do homem sobre a natureza.
É muito comum, na atualidade, o
despejo de dejetos domésticos e industriais diretamente nos corpos d’água. A
remoção das matas ciliares deixa as margens dos rios totalmente expostas aos
processos erosivos e ao assoreamento do leito dos rios. A destruição da
vegetação das nascentes, do mesmo modo, deixam-nas expostas aos processos de
degradação e poluição, chegando por muitas vezes, à própria extinção de várias
nascentes. Estes processos de poluição e degradação das águas superficiais fez
com que os órgãos fiscalizadores criem legislações fiscalizadoras, reguladoras,
além de mecanismos que visem a gestão mais eficiente dos recursos hídricos. A
legislação atual transforma as nascentes, por exemplo, em Áreas de Proteção
Permanente (APPs), com legislação e regulamentação próprias. Em grande parte
das vezes os produtos químicos advindos dos insumos agrícolas e agrotóxicos, os
resíduos industriais provenientes dos polos industriais, das atividades de
mineração, dentre outras, acabam por extinguir a vida de todas as espécies
desses ecossistemas, em longos percursos desses corpos d’água.
O acúmulo de matéria orgânica dentro
dos rios faz aumentar o número de microorganismos e bactérias consumidoras de
oxigênio. Com a falta de oxigênio há extinção de todos os seres vivos
aeróbicos. Nesses locais se faz necessário as pesquisas para verificar a DQO[12] e
DBO[13],
visando garantir a capacidade de auto-purificação das águas. Nestes casos é
comum a introdução de espécies vegetais, como microorganismos e algas
(anaeróbicas) produtoras de oxigênio. A introdução dessas espécies faz com que
a produção de oxigênio volte aos níveis anteriores (antes do acúmulo de matéria
orgânica) devolvendo novamente ao rio, sua capacidade de auto-purificação.
Neste sentido, em alguns locais é
necessário a recomposição da vegetação de nascentes e matas ciliares dos rios e
seus afluentes. Em outros locais é preciso realizar todo o processo de
revitalização desses ecossistemas. Neste tópico trataremos da análise das ações
relativas à proteção das nascentes e das matas ciliares.
RECOMPOSIÇÃO DE MATAS CILIARES
Em
locais onde não existem matas ciliares ou estão muito degradadas, elas devem
ser repostas. Existem espécies vegetais próprias para recomposição dessas
matas. Mas, antes de se iniciar o replantio deve-se realizar um estudo para
verificar as espécies que existem ou que existiram nas proximidades, de maneira
a realizar o reflorestamento com as mesmas espécies que existiam no local.
Porém, é recomendável a utilização
de, pelo menos uma boa parcela, de mudas de espécies frutíferas. As árvores
frutíferas têm a finalidade de trazer de volta a fauna, principalmente aves e insetos
(a abelha, em especial, é muito importante para a polinização). As árvores
frutíferas, além de trazer de volta a fauna regional, também produzem alimentos
para diversas espécies de peixes que se alimentam de seus frutos. Cuidar das
matas ciliares é uma das formas de manter a vida das espécies do ecossistema,
além de proteger o curso d’água dos processos erosivos e do assoreamento.
Os ecossistemas
formados pelas matas ciliares desempenham suas funções hidrológicas das
seguintes formas:
·
Estabilizam
a área crítica, que são as ribanceiras do rio, pelo desenvolvimento e
manutenção de um emaranhado radicular;
·
Funcionam
como tampão e filtro entre os terrenos mais altos e o ecossistema aquático, participando do
controle do ciclo de nutrientes na bacia hidrográfica, através de ação tanto do
escoamento superficial quanto da absorção de nutrientes do escoamento
subsuperficial pela vegetação ciliar;
·
Atuam
na diminuição e filtragem do escoamento superficial impedindo ou dificultando o
carregamento de sedimentos para o sistema aquático, contribuindo, dessa forma,
para a manutenção da qualidade da água nas bacias hidrográficas;
·
Promovem
a integração com a superfície da água, proporcionando cobertura e alimentação
para peixes
e outros componentes da fauna aquática;
O principal papel desempenhado pela mata ciliar na
hidrologia
de uma bacia hidrográfica pode ser verificado na
quantidade de água do deflúvio. Em estudos realizados para verificar o processo
de filtragem superficial e subsuperficial dos nutrientes, nitrogênio,
fósforo,
cálcio,
magnésio
e cloro;
através da presença da mata ciliar, as conclusões foram as seguintes:
·
A
manutenção da qualidade da água em microbacias agrícolas
depende da presença da mata ciliar;
·
A
remoção da mata ciliar resulta num aumento da quantidade de nutrientes
no curso de água;
·
Esse
efeito benéfico da mata ciliar é devido à absorção de nutrientes do escoamento
subsuperficial pelo ecossistema.
PRESERVAÇÃO DAS NASCENTES
Entende-se por nascente o
afloramento do lençol freático, que vai dar origem a uma fonte de água de
acúmulo (represa), ou cursos d’água (regatos, ribeirões e rios).
Em virtude de seu valor inestimável dentro de uma
propriedade agrícola, deve ser tratada com cuidados especiais.
Segundo Calheiros et. al
(2004, p.13):
[...] além da quantidade de água produzida pela
nascente, é desejável que tenha boa distribuição no tempo, ou seja, a variação
da vazão situe-se dentro de um mínimo adequado ao longo do ano. Esse fato
implica que a bacia não deve funcionar como um recipiente impermeável, escoando
em curto espaço de tempo toda a água recebida durante uma precipitação pluvial.
Ao contrário, a bacia deve absorver boa parte dessa água através do solo,
armazená-la em seu lençol subterrâneo e cedê-la, aos poucos, aos cursos d’água
através das nascentes, inclusive mantendo a vazão, sobretudo durante os
períodos de seca.
As nascentes,
cursos d’água e represas, embora distintos entre si por várias particularidades
quanto às estratégias de preservação: apresentam como pontos básicos comuns o
controle da erosão do solo por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais
de contenção, minimização de contaminação química e biológica e ações
mitigadoras de perdas de água por evaporação e consumo pelas plantas. Deve-se
estar ciente de que a adequada conservação de uma nascente envolve diferentes
áreas do conhecimento, tais como hidrologia, conservação do solo,
reflorestamento, etc.
Importante!
As nascentes localizam-se em encostas ou depressões
do terreno ou ainda no nível de base representado pelo curso d’água local;
podem ser perenes (de fluxo contínuo), temporárias (de fluxo apenas na estação
chuvosa) e efêmeras (surgem durante a chuva, permanecendo por apenas alguns
dias ou horas).
Cobertura vegetal das
nascentes
Toda nascente, por sua importância, é considerada pela
legislação que regula a gestão de recursos hídricos, como Área de Preservação
Permanente (APP). Sendo assim, existem leis que regulam a disposição da
cobertura vegetal de proteção das nascentes, locais e disposição de construções
e edificações em áreas de nascentes, localização de estradas, dentre outros
fatores que visem a proteção da APP.
A Figura, a seguir, mostra como deve ser a
disposição, bem como o tipo de vegetação de proteção das nascentes.

Figura
11: Distribuição esquemática adequada das diferentes
coberturas vegetais e usos em relação à nascente.
Fonte:
Calheiros et. al (2004, p.27)
Então,
a partir deste dia 22 de março vamos procurar aliar nossa consciência com ações
práticas efetivas, no sentido de preservação do grande tesouro hídrico
brasileiro, em especial os reservatórios de água potável. Pois, ela (a água) é
a essência da existência da vida em todas as suas formas, desde as mais simples
até as mais complexas, inclusive a espécie humana.
Referências:
A’B SÁBER, Aziz Nacib. Brasil:
paisagens de exceção: o litoral e o Pantanal Mato-Grossense: patrimônios
básicos. Cotia (SP): Ateliê Editorial, 2006.
______. Os domínios de natureza no
Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Preservação dos Recursos Hídricos. Brasília (DF), 2008.
CALHEIROS
R. de Oliveira et. al. Preservação e
Recuperação das Nascentes. Piracicaba: Comitê das Bacias Hidrográficas dos
Rios PCJ – CTRN, 2004.
FONSECA, Valter Machado da. SINAL DE ALERTA:Amazônia, o bioma ameaçado.
In: IV Fórum Ambiental da Alta Paulista, 21 a 24 de julho de 2008, Estância
Turística de Tupã (SP), CD-ROM (Anais).
ISSN: 1980-0827.
________.Um bioma em extinção: a expansão da fronteira agrícola no
Cerrado Brasileiro. In: IV Fórum Ambiental da Alta Paulista, 21 a 24 de julho
de 2008, Estância Turística de Tupã (SP), CD-ROM
(Anais). ISSN: 1980-0827.
ROSS,
Jurandir Luciano Sanches (Org.). Geografia
do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995. – (Didática; 3).
[1]Brasil - Ministério do Meio Ambiente – Governo
Federal.
[2] Do total de água potável disponível na
Terra, 12% estão em território brasileiro.
[3] No
Brasil, o organismo responsável pela gestão e controle dos recursos hídrico é a
Agência Nacional das Águas (ANA).
[4]
São tipos de algas e/ou organismos microscópicos presentes nas águas dos mares
e oceanos, que se constituem em fonte primária de alimentação de espécies
animais e necessários também para o início do processo da fotossíntese, enfim,
são organismos essenciais para o início da cadeia alimentar.
[5] O
termo litologia refere-se à composição das rochas e das estruturas geológicas.
[6]
Sismologia é o ramo do conhecimento científico que trata, especificamente, do
estudo das ondas sonoras e eletromagnéticas, principalmente as ondas sísmicas.
[7]
Gelo perene é aquele gelo que permanece durante todo o ano, são permanentes.
São extremamente importantes para o equilíbrio ecológico do planeta e pelo controle
e regulagem do atual nível dos oceanos.
[8]
Denominam-se Calotas Polares às regiões situadas em torno dos pólos,
constituídas essencialmente de gelo perene.
[9]
Solos hidromórficos são aqueles que possuem afinidade para a retenção de água.
[10]
Espécie de palmeira muito comum nos brejos e nas regiões alagadas,
principalmente nas veredas. É um excelente indicador da presença de água e de
ambientes preservados. Infelizmente, grande parte das veredas tem sido
destruída com a ocupação agrícola do Cerrado.
[11] O
termo “ciliares” é uma analogia aos cílios que protegem os nossos olhos. Assim
como os cílios protegem os olhos, a vegetação que acompanha os canais de
drenagem protege os rios, riachos, ribeirões e lagos.
[12]
Demanda Química de Oxigênio.
[13]
Demanda Biológica de Oxigênio.
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