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Fonte: noticias.r7.com |
Prof. Dr. Valter Machado
da Fonseca*
Há pouco
tempo atrás, a região metropolitana do Rio de Janeiro foi abalada por uma
grande tragédia na região serrana do estado, mais especificamente na baixada
fluminense. A catástrofe que provocou dezenas de vítimas fatais e deixou
centenas de pessoas desabrigadas, voltou a se repetir no período chuvoso deste
ano de 2013, embora as medidas para a recuperação das moradias dos familiares
das vítimas da tragédia passada ainda não tivessem sido tomadas. É uma
verdadeira vergonha o descaso com que os governantes deste país (em níveis
federal, estadual e municipal) tratam destas questões. Aproveitam destes
eventos (tristes e dolorosos para as vítimas) para se promoverem e/ou fazerem
lobbies político-eleitoreiros.
À época
da primeira tragédia, a Defesa civil chegou a “ordenar” que as famílias
atingidas pelos deslizamentos de solo saíssem da região e procurassem moradia
em outros locais. Aí é que nos vem à mente a indagação que não quer calar: Onde estas pessoas irão morar? Para onde
elas irão? O que farão para recomeçar suas vidas? O pior de tudo, é que tem
muita gente que acha que estas pessoas moram nas encostas dos morros porque
querem. Na verdade, elas o fazem porque são segregadas do espaço habitável das
grandes cidades. Elas são expulsas das áreas planas e habitáveis, pela força do
preço abusivo das terras, pela especulação imobiliária (os chamados “terrenos
de engorda”), indo parar nos locais inabitáveis, nas áreas insalubres e de
risco.
E,
por que estes locais são susceptíveis a desmoronamentos? As
encostas e vertentes de morros são locais inclinados: estes locais são marcados
pela inclinação do terreno, o que o torna vulnerável, susceptível aos
deslizamentos de massas: pela força da gravidade somada à declividade do
terreno e pelo solo raso que não se fixa sobre a rocha matriz que o sustenta. Todos
estes problemas, somados à falta de estrutura física dessas residências
marcadas pela precariedade das fundações, pelo material barato e de segunda mão
nelas utilizados e pela ausência de qualquer tecnologia de construção civil,
pois são feitas geralmente em regime de mutirão, não obedecendo a quaisquer
técnicas. Esta série de problemas, adicionados à ausência completa de planejamento
urbano e à total falta de orientação das autoridades competentes, deixam estas
edificações em condições de risco permanentes. Então, são problemas que não
podem ser solucionados pelas comunidades carentes, mas que deveriam contar com
o apoio dos poderes públicos (nos três níveis: federal, estadual e municipal).
Então,
nossos governantes deveriam em primeiro lugar, antes de sugerir a mudança e
deslocamento das comunidades para locais que nem eles sabem onde ficam,
auxiliar essas populações com o planejamento de moradias dignas, em locais
planos, onde se levem em consideração estudos e pesquisas embasados no uso
correto do solo urbano. Trata-se, antes de tudo, de uma política correta de
prevenção de riscos, que atendam os interesses das comunidades carentes e não
aos anseios daqueles que vivem da especulação imobiliária em nosso país.
Mal
acabamos de chorar pelas vítimas da imprudência em Santa Maria (RS) e
continuamos a contar a dor e o sofrimento. Até quando vamos ter que tolerar
estes descasos? Se nossos governantes e
autoridades não chamarem para si esta responsabilidade, todos os anos, com toda
a certeza, contaremos nossos mortos e desabrigados, em tragédias como as da
região serrana do Rio de Janeiro e colocando tapumes para esconder nossas favelas
para não “poluírem” os olhares dos turistas que certamente virão gastar seus
dólares na copa do mundo de 2014 e nas olimpíadas de 2016 na cidade ainda
maravilhosa.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
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