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domingo, 24 de março de 2013

É preciso saber viver!

Fonte: atalaiadesiao.blogspot.com
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Vivemos na sociedade denominada de “moderna” ou “sociedade da modernidade”. Os percalços da evolução tecnológica que dariam a marca contundente destes tempos d’agora, foram brilhantemente desvendados por Charles Chaplin (o “Carlitos”) numa película encenada e dirigida por ele mesmo sob o título de “Tempos Modernos” (Modern Times). Nesta peça cinematográfica, ele apresenta sob o prisma do humor, o que prometia o novo modelo de sociedade que se descortinava para a humanidade: a sociedade urbano-industrial. Na visão de Chaplin, a Revolução Industrial daria um golpe duríssimo nos aspectos sócio-econômicos e culturais até então experimentados pelo homem. O modelo de sociedade apresentado pelo capitalismo emergente não deixaria “pedra sobre pedra” nos costumes, modos de vida, hábitos e crenças milenarmente consagrados e experimentados pela humanidade. Na verdade, a obra exuberante de “Carlitos” extrapolou as telas do cinema, vindo se acomodar na realidade dos novos tempos que se apresentavam em termos concretos para um mundo em evolução (ou será involução?).
De fato, de lá para cá, a sociedade moderna superou (e muito) o que dela se esperava em termos de desenvolvimento tecnológico. A promessa de felicidade humana apregoada pelas três palavras da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) descortinou uma enorme gama de novas possibilidades para uma parcela da população mundial, enquanto que, por outro lado, também descortinou uma gama incalculável de mazelas sociais que iriam abalar o mundo, colocando amplos setores da humanidade em condições subumanas de sobrevivência. Nos tempos presentes, enquanto o capital na tentativa de perpetuar sua mais-valia abre novas possibilidades para um ínfimo setor da população do planeta, em contrapartida, joga na miséria e na fome, amplos setores da população planetária, ao mesmo tempo em que inventa mercadorias e supérfluos que não se encaixam nas demandas primárias (e mesmo secundárias) das necessidades humanas. Primeiro, cria-se o produto (mercadoria), depois se inventa a sua necessidade de consumo.
O mais irônico na tal sociedade da modernidade é que passamos a ser bombardeados diuturnamente por uma quantidade inimaginável de informações, as quais o nosso cérebro é incapaz de processar no instante em que as recebe, mas que ficam armazenadas em nosso subconsciente, para retornar à tona no momento em que o capital necessite para se reproduzir, mantendo acesa a chama reluzente da mais-valia. O capital conseguiu misturar os conhecimentos acerca do funcionamento do psicológico (mente) humano com os conhecimentos de marketing dos novos mecanismos tecnológicos da informação e comunicação. Com isso, ele inaugura uma fase poderosa de potencializar seu poder de fetiche em induzir as pessoas ao consumo exacerbado de seus supérfluos e descartáveis. Esta é a nova lógica da sociedade moderna prevista por Chaplin nos “Tempos Modernos”.
Diante dessa lógica quase ilógica, é preciso que consigamos separar o joio do trigo, ou seja, é necessário que agucemos nossa percepção acerca do que é real, do que é supérfluo e descartável, separando-os do que é importante e necessário, sob pena de sermos tragados, engolidos pelas artimanhas construídas pelo fetiche do consumo capitalista. Se concordarmos com este estilo, com este padrão de vida proposto pelos “Tempos Modernos” é preciso que saibamos viver no meio deste labirinto que não faz a distinção entre o real e o ilusório. Agora, se não concordamos com este paradigma, é preciso que saibamos resistir às tentações da sociedade do supérfluo. Por isso, neste modelo de sociedade que confunde o racional com o irracional, é preciso, mais do que nunca, saber viver.    


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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