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Fonte: atalaiadesiao.blogspot.com |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Vivemos
na sociedade denominada de “moderna” ou “sociedade da modernidade”. Os percalços
da evolução tecnológica que dariam a marca contundente destes tempos d’agora,
foram brilhantemente desvendados por Charles Chaplin (o “Carlitos”) numa
película encenada e dirigida por ele mesmo sob o título de “Tempos Modernos” (Modern Times). Nesta peça
cinematográfica, ele apresenta sob o prisma do humor, o que prometia o novo
modelo de sociedade que se descortinava para a humanidade: a sociedade
urbano-industrial. Na visão de Chaplin, a Revolução Industrial daria um golpe
duríssimo nos aspectos sócio-econômicos e culturais até então experimentados
pelo homem. O modelo de sociedade apresentado pelo capitalismo emergente não
deixaria “pedra sobre pedra” nos costumes, modos de vida, hábitos e crenças
milenarmente consagrados e experimentados pela humanidade. Na verdade, a obra
exuberante de “Carlitos” extrapolou as telas do cinema, vindo se acomodar na
realidade dos novos tempos que se apresentavam em termos concretos para um
mundo em evolução (ou será involução?).
De
fato, de lá para cá, a sociedade moderna superou (e muito) o que dela se
esperava em termos de desenvolvimento tecnológico. A promessa de felicidade humana
apregoada pelas três palavras da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade) descortinou uma enorme gama de novas possibilidades para uma
parcela da população mundial, enquanto que, por outro lado, também descortinou
uma gama incalculável de mazelas sociais que iriam abalar o mundo, colocando
amplos setores da humanidade em condições subumanas de sobrevivência. Nos
tempos presentes, enquanto o capital na tentativa de perpetuar sua mais-valia
abre novas possibilidades para um ínfimo setor da população do planeta, em
contrapartida, joga na miséria e na fome, amplos setores da população
planetária, ao mesmo tempo em que inventa mercadorias e supérfluos que não se
encaixam nas demandas primárias (e mesmo secundárias) das necessidades humanas.
Primeiro, cria-se o produto (mercadoria), depois se inventa a sua necessidade
de consumo.
O
mais irônico na tal sociedade da modernidade é que passamos a ser bombardeados
diuturnamente por uma quantidade inimaginável de informações, as quais o nosso
cérebro é incapaz de processar no instante em que as recebe, mas que ficam
armazenadas em nosso subconsciente, para retornar à tona no momento em que o
capital necessite para se reproduzir, mantendo acesa a chama reluzente da
mais-valia. O capital conseguiu misturar os conhecimentos acerca do
funcionamento do psicológico (mente) humano com os conhecimentos de marketing
dos novos mecanismos tecnológicos da informação e comunicação. Com isso, ele
inaugura uma fase poderosa de potencializar seu poder de fetiche em induzir as
pessoas ao consumo exacerbado de seus supérfluos e descartáveis. Esta é a nova
lógica da sociedade moderna prevista por Chaplin nos “Tempos Modernos”.
Diante
dessa lógica quase ilógica, é preciso que consigamos separar o joio do trigo,
ou seja, é necessário que agucemos nossa percepção acerca do que é real, do que
é supérfluo e descartável, separando-os do que é importante e necessário, sob
pena de sermos tragados, engolidos pelas artimanhas construídas pelo fetiche do
consumo capitalista. Se concordarmos com este estilo, com este padrão de vida
proposto pelos “Tempos Modernos” é preciso que saibamos viver no meio deste
labirinto que não faz a distinção entre o real e o ilusório. Agora, se não
concordamos com este paradigma, é preciso que saibamos resistir às tentações da
sociedade do supérfluo. Por isso, neste modelo de sociedade que confunde o
racional com o irracional, é preciso, mais do que nunca, saber viver.
*
Escritor. Geógrafo, Mestre
e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
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