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Fonte: poesiaprosaemais.blogspot.com |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
É doce morrer no mar! Assim diz a canção de Dorival Caymmi. Na
verdade, o mar tem um significado enorme para a maioria da população de seres
humanos, muito embora grande parte das pessoas resida distante dele. A estreita
ligação entre o mar e os seres vivos é explicada justamente pelo fato de a vida
ter tido seu início exatamente no mar. Os primeiros organismos unicelulares
evoluíram a partir da água, em especial dos mares e oceanos.
A comprovação destas evidências
científicas está registrada nas características e nos modos de vida de diversas
espécies animais como focas, leões marinhos, morsas e nos próprios anfíbios. Estas
espécies guardam características que evidenciam serem elos de transição entre a
água e a terra (entre o oceano e os continentes) tais como nadadeiras ao invés
de patas, organismos adaptados para dividirem o tempo de vida entre o mar e as
terras emersas. O próprio ser humano, quando de sua estada no útero materno,
encontra-se submerso em uma bolsa d’água (a placenta) até quase a hora do
nascimento. Então, é intrínseca a ligação entre os seres vivos e o mar.
Por outro lado, o mar também faz parte da
cultura humana há séculos. Nesta direção interpretativa, é importante
evidenciar os mitos e lendas que fazem parte da cultura humana, ligando-o
umbilicalmente ao mar, como as crenças em Iemanjá, nos contos de sereias,
monstros marinhos, caboclos d’água, dentre diversas outras crenças. O próprio
batismo católico e de outras religiões, tem como elemento simbólico essencial a
água, enquanto elemento de purificação da “alma” e do “espírito” humanos. Muitas
tribos já adoravam o mar desde muitos séculos atrás. Levavam oferendas ao “Deus
do Mar”, como forma de agradecimento a muitas dádivas recebidas.
O mar ainda foi e ainda é, o grande
instrumento de admiração das artes, como a música, a literatura, o cinema, a
poesia, dentre tantas outras formas de expressão artística do povo em geral,
inclusive de uma boa parcela da intelectualidade. Quantos poemas já não foram
feitos tendo o mar como referência? Quantas películas não tiveram seu enredo
desenrolado no oceano ou, então, não tiveram o mar como “pano de fundo”? Quantas
canções não tiveram o mar como fonte de inspiração? Quantas melodias não
reverenciam o mar?
É por tudo isso, que a letra da canção de
Caymmi vem a calhar. É doce morrer no mar!
Ele talvez tenha sido o compositor brasileiro que mais se utilizou do mar como
fonte de inspiração para compor suas lindíssimas canções e arranjos. O mar como
fonte da vida, também pode ser um local plenamente belo para o repouso eterno. Como
fonte de toda a vida neste planeta azul, ele pode, perfeitamente, ser o melhor
local para fechar o “Ciclo da Vida”. As águas tranquilas do oceano, o tom de
intenso azul do Atlântico, o verde/azulado do Pacífico, talvez seja a evidência
mais forte de que suas águas escorrem por entre os labirintos e pelas entranhas
da arte, da cultura humana, enfim, da essência da existência humana. Talvez,
por tudo isto, Dorival Caymmi esteja coberto de razão: deve ser realmente doce
descansar no imenso azul de infinita beleza. Deve ser realmente doce morrer no
mar.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
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