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Fonte: www.inesc.org.br |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
O debate sobre
a crise alimentar ganhou ênfase desde a década de 1960 do século XX e vem
ganhando as manchetes da mídia nacional e internacional desde então. A partir
daí, são diversas correntes que reivindicam do pensamento e das ideias de
Thomas Malthus acerca da
necessidade da produção de alimentos em acompanhar o crescimento exponencial da
população mundial. A teoria e o discurso malthusiano foram elaborados a partir
do crescimento vertiginoso da população entre os anos 1650 e 1850, em função
dos avanços tecnológicos em todo o planeta, o que proporcionou um maior tempo e
maior qualidade de vida para amplos setores da população planetária.
Na verdade, esta constatação,
aparentemente verdadeira, caiu por terra em função das mudanças de
comportamento de amplos contingentes da população do planeta acerca da
necessidade efetiva de um planejamento familiar, diante da realidade
sócio-econômica e cultural dos povos de diferentes nações, em especial dos
países mais desenvolvidos e mais industrializados. O que passou a ser percebido
a partir de então foi a estabilização e mesmo a queda dos índices de natalidade
nos principais centros desenvolvidos em nível de planeta. Mesmo em países da
América Latina, onde anteriormente havia um número descontrolado de natalidade
infantil, percebe-se esta acomodação, principalmente a partir dos anos 1980.
Mas, esta tendência mundial não consegue
minimizar e, muito menos esconder, os graves problemas decorrentes da
gigantesca desigualdade social em diversos países em diferentes continentes. Varias
são as nações marcadas pela fome, pelo déficit de energia alimentar. Podemos
destacar os países africanos com a Etiópia, Somália, Chade, Sudão, Zimbábue,
Níger, Botsuana, Quênia, dentre outros. A fome também se faz presentes em
localidades como Coréia do Norte, Afeganistão, uma parte da Índia, Haiti e
outras nações caribenhas. Mesmo no Brasil, onde o problema da fome já foi
bastante minimizado, em diversas regiões como o semi-árido e o Polígono das
Secas ele se manifesta de maneira bastante expressiva.
Neste sentido, afere-se que o problema da
fome, diferentemente do que pensam os defensores do discurso malthusiano, se
liga intrinsecamente, nos dias atuais, à questão da desigualdade social
decorrente da má distribuição de renda nos países pobres, à impossibilidade de
acesso à educação, a um sistema efetivo de saúde pública, a condições
extremamente precárias de saneamento e, muitas vezes, à má administração dos
parcos recursos econômicos dessas localidades onde habitam um número
considerável de pessoas famintas e miseráveis.
Por outro lado, é possível perceber que
existem localidades com grande produção de alimentos, porém, esta produção não
visa ao atendimento das necessidades das localidades atingidas pela fome, mas,
ao atendimento de fatias altamente lucrativas do mercado consumidor
internacional que clamam por produtos agrícolas. A produção agrícola em
diversos continentes e países que primam por produtos de exportação, também
gera um alto índice de desperdício alimentar. Neste trabalho, a preocupação
central é mapear, por intermédio de pesquisa de campo as maneiras como ocorre o
desperdício de alimentos e, ao mesmo tempo, quantificar e analisar este
desperdício. Diante disso, este trabalho é muito significativo, no sentido de
debater as reais possibilidades de enfrentamento a este gigantesco problema da
fome, que infelizmente toma conta de extensas regiões e atingem milhões homens,
mulheres e crianças em todo o mundo.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Professor e pesquisador da Universidade
de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
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