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Foto: Espécie vegetal "Serra da Canastra" (MG). Fonte: Arquivo pessoal Prof. Valter Fonseca (2013) |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca
APRESENTAÇÃO
Este
anteprojeto visa ao estudo de espécies nativas do bioma cerrado, objetivando a
possibilidade da utilização de tais espécies na recuperação de áreas degradadas
e minimização de processos erosivos em áreas no interior do próprio bioma. A
pesquisa aqui proposta visa, em primeiro lugar, realizar um estudo das espécies
vegetais do cerrado que possuam as características necessárias para a
recuperação das referidas áreas degradadas e/ou deformadas pela retirada da
vegetação original.
A
proposta deste estudo é de grande importância para a recuperação de áreas
degradadas do cerrado, tais como processos de formação de ravinas e voçorocas,
bem como reposição de matas ciliares e recuperação de áreas de nascentes e
zonas de recargas dos aquíferos subterrâneos. Este estudo será proposto à
Central Energética de Minas Gerais, com vistas a ser desenvolvido na Estação
Ambiental da Usina Hidrelétrica de Volta Grande (EAVG/UHE/Volta Grande).
Este
anteprojeto propõe ainda um estudo de espécies vegetais visando à urbanização,
em especial em cidades pequenas e médias. Para tanto, é preciso pesquisar as
espécies que possuam as características próprias para arborização urbana,
identificando espécies próprias para ruas e avenidas, praças, parques e
jardins.
No
caso específico de matas ciliares é necessário identificar os fatores físicos,
químicos e biológicos que interferem no sistema aquático/terrestre. Diante
disso, é fundamental analisar o grau de Eutrofização das águas, nutrientes
presentes no solo e a microfauna que compõem este ecossistema.
Justificativa
deste tipo de projeto
Conforme
Rodrigues et. al (2007, p.74) existem diferenças entre áreas degradadas e áreas
que sofreram perturbações. “áreas degradadas referem-se a ecossistemas
alterados, onde perdas e/ou excessos são as formas mais comuns de degradação
ambiental”. Neste sentido interpretativo os autores continuam sua argumentação ao
afirmar que a retirada da cobertura vegetal, dependendo da intensidade, pode
ser considerada uma forma de degradação ou uma perturbação ambiental. No caso
da incapacidade de recuperação natural do ecossistema, “diz-se que está
degradado e necessita de intervenções, porém, se mantém sua capacidade de
regeneração, diz-se que o ambiente está perturbado e intervenções poderão
acelerar o processo de recuperação” (CORREA &MELO, 1998).
Ainda
segundo os (RODRIGUES et. al 2007, p.74):
A
qualidade do sistema solo é definida por suas funções, que representam uma
combinação de suas propriedades físicas, químicas e biológicas, as quais, por
sua vez, provêm um meio para o crescimento de plantas, regulam o fluxo de água
no ambiente e servem como tampão na formação, atenuação e degradação de
compostos nocivos ao ambiente, pois sustentam uma enorme população de
microrganismos (Doran & Parkin, 1994; Sposito, 1998). Ressalta-se que são
raras as pesquisas que procuram avaliar a qualidade do solo sob o enfoque de
degradação; certamente é uma área por meio da qual as pesquisas precisam
evoluir para que rotinas sejam estabelecidas e o monitoramento e diagnóstico
sejam facilmente realizáveis, pois a reabilitação de áreas degradadas não
consiste de ações isoladas mas, sim, de um conjunto de atividades que têm, por
objetivo, recompor a paisagem que foi perturbada (Dias Filho, 1998; Dias &
Griffith, 1998).
Então,
podemos verificar que a recuperação de ares degradadas e/ou minimização de
processos erosivos dependem de uma série de fatores físicos, químicos e
biológicos que atuam sobre a composição e/ou estruturação do solo erodido ou
degradado. Desta forma, as pesquisas que tratam desta temática devem levar em
consideração uma série de variáveis que se interrelacionam e incidem diretamente
sobre as micro e/ou macro estruturas do solo em avaliação.
As
áreas erodidas, degradadas e a escolha das espécies vegetais
Segundo
Marimon Júnior; Haridasan (2005, p.914), vários são os fatores a serem
observados quando se realizam pesquisas no cerrado:
A
distribuição e a manutenção das diferentes fitofisionomias do Bioma Cerrado
estão relacionadas com fatores edáficos e topográficos, além da ocorrência de
fogo e perturbações antrópicas (Eiten 1972; RADAMBRASIL 1981; Oliveira-Filho et
al. 1990). A profundidade efetiva, a drenagem, a presença de concreções no
perfil, a profundidade do lençol freático e a fertilidade do solo são
considerados os principais fatores determinantes da diversidade fitofisionômica
(Eiten 1972; Haridasan 1992). O cerrado sensu stricto é uma vegetação
savânica composta por um estrato arbóreo-arbustivo e outro herbáceo-graminoso
(Eiten 1994). Normalmente, ocorre sobre Latossolos e Neossolos Quartzarênicos
profundos, bem drenados, distróficos, ácidos e álicos e raramente sobre solos
mesotróficos (Haridasan 1992). O cerradão é uma vegetação florestal que ocorre
tanto em solos distróficos quanto mesotróficos, sendo sua composição florística
variável conforme a fertilidadedo solo (Ratter 1971; Ratter et al. 1973;
1977; Araújo & Haridasan 1988).
A composição litológica do cerrado e os solos
dela derivados decorrem de uma série de fatores que devem ser observados tais
como grau de acidez do solo (os solos do cerrado possuem uma grande quantidade
de alumínio), drenagem da área a ser trabalhada, composição
química/mineralógica do solo em questão, dentre outros fatores. É importante
destacar ainda que a tipologia vegetacional do cerrado é adaptada à acidez do
solo, bem como ao tipo de drenagem, profundidade do lençol freático, regime de precipitações
pluviométricas, dentre outros fatores.
Da
mesma forma, é preciso um olhar atento sobre o conjunto de microorganismos
presentes nos solos e que participam do processo de aeração, de fixação de
nutrientes, bem como do processo de decomposição de matéria orgânica presente
no substrato edáfico do cerrado. Neste sentido, (RODRIGUES, et. al 2007)
afirmam que:
A
qualidade do sistema solo é definida por suas funções, que representam uma
combinação de suas propriedades físicas, químicas e biológicas, as quais, por
sua vez, provêm um meio para o crescimento de plantas, regulam o fluxo de água
no ambiente e servem como tampão na formação, atenuação e degradação de
compostos nocivos ao ambiente, pois sustentam uma enorme população de
microrganismos (Doran & Parkin, 1994; Sposito, 1998).
Portanto, a compreensão
da população funcional de microorganismos presentes no solo é fundamental para
o entendimento das interrelações que ocorrem no substrato edáfico dos
ecossistemas cerradeiros e, consequentemente, das formas e manejo mais
eficientes destes solos e dos processos de minimização de impactos, recuperação
de áreas degradadas neste ecossistema.
Assim, para quaisquer
estudos acerca de recuperação de áreas degradadas no bioma cerrado, da
recomposição de matas ciliares e minimização de processos erosivos no interior
do bioma é fundamental compreender as particularidades e singularidades do
bioma. Nesta vertente, e preponderante a escolha de espécies vegetais nativas
que tenham por características: sistema radicular agregador de partículas de
solo, sistema radicular capaz de manter a umidade do solo, espécies que não
interfiram na comunidade de microrganismos presentes no solo, espécies com boa
capacidade de sombreamento, dentre outras características.
Segundo (PINTO et. AL
2008, p.2):
[...]
muitas áreas na região de domínio do Cerrado ainda não foram florística e
estruturalmente estudadas. Neste caso, a análise estrutural da vegetação, por
meio de levantamentos fitossociológicos, coloca-se como uma das alternativas
para se conhecer as variações florísticas, fisionômicas e estruturais a que as
comunidades vegetais estão sujeitas (Scolforo 1993). De acordo com Martins
(2004), os estudos fitossociológicos consistem na investigação das causas e
efeitos da co-habitação de plantas em um dado ambiente e abrange desde a
descrição de uma comunidade vegetal local até investigações de padrões
recorrentes da vegetação numa escala geográfica. Além disso, esses estudos
permitem comparações entre áreas distintas com a mesma fitofisionomia, ou
distintas fitofisionomias numa mesma área (Martins 1991).
Conforme a contribuição de Pinto et. al. (2008), verifica-se ainda que
além dos aspectos edáficos, os estudos referentes á recuperação de áreas
degradadas e/ou alteradas do cerrado reclamam ainda um exame dos estratos
vegetais (fitofisionomias) presentes no bioma. Desta forma, as pesquisas sob
esta vertente demandam a interpretação e análise das diversas variáveis que
compõem o bioma como uma totalidade.
OBJETIVOS:
Objetivo Geral:
Ø Compreender
o funcionamento dos ecossistemas edáficos do cerrado, sua relação com os
ambientes aquáticos, visando à seleção de espécies vegetais nativas para
recuperação de áreas degradadas, recuperação de matas ciliares e minimização de
processos erosivos no interior do bioma.
Objetivos específicos:
Ø Diagnosticar
e delimitar uma área degradada do cerrado para a realização da pesquisa;
Ø Estudar
a interrelação da microfauna presente no solo do cerrado com as condições
naturais do bioma;
Ø Analisar,
descrever e classificar as espécies vegetais do cerrado que possuam o sistema
radicular eficiente na agregação de partículas e sedimentos do solo do cerrado;
Ø Analisar
as principais espécies vegetais do cerrado que possuam eficiência na
preservação da umidade do solo;
Ø Verificar
as espécies vegetais di bioma cerrado e sua capacidade de sombreamento para
arborização urbana;
Ø Selecionar
espécies vegetais do cerrado para recuperação de áreas degradadas e minimização
de processos erosivos no interior do bioma.
Referências
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