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Fonte: paginadepoesia.blogspot.com |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca*
Nada melhor
do que ter um local para regressar. Assim como o navio procura o caís, todos
nós temos a necessidade de retornar a um porto seguro, ao local que nos acolhe,
onde podemos nos recolher em nossa intimidade mais profunda, onde podemos
vasculhar nossas lembranças, realizar nossos balanços cotidianos.
É sempre
bom atracarmos em um porto seguro, onde possamos restituir nossa força interna,
mergulharmos nas águas puras e cristalinas de nossa essência humana. Em nosso
porto seguro, é importante encontrarmos a energia que nos renova, é essencial
nos juntarmos à energia da pessoa que mais amamos, que nos completa na
existência e na essência, que traz consigo aquela luz, a energia necessária à
nossa sobrevivência, a qual vai muito além de nossa manutenção enquanto
espécie, mas como autênticos seres humanos. E o que é ser um humano?
Ser um
humano vai muito além de nossa percepção enquanto raça humana (aliás, a única
raça que existe no terreno da “razão”), ou seja, vai no sentido de nossa
percepção como parte de um todo constituído de múltiplas essências, ao contrário
de outro todo fragmentado em infinitas aparências. A nossa condição humana é a força
energética que nos diferencia do mundo de superfluidades e superficialidades,
de banalidades. A condição humana é constituída de projetos que tenham por base
a significação mais íntima da verdadeira essência humana. E, estes projetos
devem se edificar sobre processos de busca interior que nos levem aos caminhos
da construção de alternativas significativas de formas de consciência de se
perceber dentro de um mundo onde o “ser” deve prevalecer sobre o “estar” e o “ter”.
Somente quando conseguirmos decifrar o significado da nobreza de nossa real
essência no mundo construiremos, de fato, um caminho para avançar na direção da
edificação de nossa condição humana.
Então,
para alcançarmos nossa condição humana é preciso que decifremos nossa real
essência enquanto seres viventes no mundo. E, para isso, torna-se altamente
relevante o retorno ao nosso porto seguro. Por isso, faz-se urgente, sempre,
regressar. Mas, para que regressemos também é imprescindível que tenhamos um
local que nos complete como seres inacabados, que nos energize e que nos dê os
fluídos essenciais para a caminhada preponderante rumo à edificação de nossa
própria condição humana. Então, a busca da condição humana se liga,
diretamente, ao ir e vir às nossas origens, o que requer um balanço total e
cotidiano de nossa existência no mundo. Caso contrário, passaremos no mundo
simplesmente por passar. Passaremos sem jamais nos apercebermos nosso objetivo
real num mundo onde predomina a aparência em detrimento da essência. Num mundo
onde o verdadeiro significado da condição humana é constantemente substituído
pela banalidade, superficialidade e pela condição bestial de tentar a
realização ilusória do “ter” em detrimento do “ser”. Assim, o homem perde para
sempre sua condição humana, para aceitar sua condição medíocre de apenas mais
um ser vivo sobre a face do Planeta Terra.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador e professor da
Universidade de Uberaba (UNIUBE). pesquisa.fonseca@gmail.com
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