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sexta-feira, 29 de março de 2013

O Aedes aegypti e a Dengue: uma epidemia quase irreversível

Fonte: drauziovarella.com.br


Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Hoje pela manhã, ouvi por uma rádio local a chamada de uma campanha de combate à dengue. Confesso que fiquei aterrorizado e surpreso com a suposta frase de efeito utilizada pela locutora da referida emissora: “não seja responsável pela morte de outras pessoas”. Esta frase aparentemente ingênua e simples, na verdade tem um conteúdo que escamoteia a realidade e, ao mesmo tempo, tenta jogar a responsabilidade da epidemia da doença nas costas da população. Não quero dizer com isso que a população não deva fazer sua parte, muito pelo contrário, Porém, o que quero enfatizar é que o eixo, os motivos e as consequências desta doença não devem ser deslocados, ou seja, a verdade deve ser dita, doa a quem doer e a sociedade é a menos culpada por este estado de coisas.
Na verdade, o surgimento do (Aedes aegypti) vetor (transmissor da dengue) nos centros urbanos é fruto direto do desequilíbrio ambiental provocado pelas atividades humanas no campo, isto é, a intervenção antropogênica (humana) no espaço agrário brasileiro, sob a forma de atividades diversificadas como agropecuária, mineração, desmatamentos desordenados, dentre outros fatores, acabaram com o hábitat natural do mosquito, deslocando-o para os centros urbanos. Ele vivia naturalmente nas matas e, ao removermos a vegetação, quebramos seu hábitat, e, consequentemente suas fontes de alimentos e sobrevivência.  Ao quebrarmos seu hábitat natural, ele veio para as cidades em busca de novas fontes de sobrevivência. Na verdade, o homem já perdeu o total controle sobre a proliferação do Aedes aegypti. A dengue já se tornou uma moléstia epidêmica em diversas áreas e regiões do país. Então, podemos dizer que a dengue é fruto do desequilibro ambiental provocado pela ação humana no espaço agrário (no campo).
No caso das regiões produtoras de alimentos de exportação (monoculturas), como é ocaso da mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o problema da contaminação pelo mosquito se torna mais grave. A prática das monoculturas (soja, cana-de-açúcar, dentre outros produtos) demanda a remoção das vegetações. Ao removê-las, substituí-las por espécies de monocultura, na verdade, está se promovendo uma homogeneização das espécies vegetais, o que irá promover o desequilíbrio biológico entre as espécies, criando, assim, condições propícias para o surgimento de pragas e de espécies de insetos resistentes às próprias pragas, em decorrência da eliminação de competidores. Ou seja, estaremos, na prática, criando as condições para que uma espécie seja hegemônica em uma determinada área ou região, em função do desequilíbrio da biodiversidade regional, com a eliminação de espécies competidoras potenciais.
As ações criadas pelo poder público para o combate à epidemia como o lançamento de fumaça inseticida (fumacê) surtiu algum efeito apenas no início do processo. Tal prática acabou propiciando a seleção de mosquitos mais resistentes ao inseticida, os quais iniciaram um novo ciclo de vida de vetores selecionados e mais resistentes. Então, infelizmente, o combate ao vetor (Aedes aegypti) tem se tornado, cada dia mais complicado. O combate às fontes de incubação do inseto (águas paradas) já está se tornando ineficaz, em função das novas características da subespécie de inseto que se torna mais resistente. Então, a solução real para o problema do controle do Aedes aegypti e, consequentemente da dengue, pode estar muito mais relacionado com as formas de minimizar o desequilíbrio ambiental no campo do que com o combate aos próprios criadouros urbanos (fontes de água parada). Nas reais condições de desequilíbrio ambiental provocado pelo próprio ser humano, o pequenino Aedes aegypti tem se tornado um gigante diante do todo poderoso homo sapiens, que tem se tornado ínfimo e irrisório diante deste frágil e delicado inseto.          


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

quinta-feira, 28 de março de 2013

Desmatamento da Amazônia sobe 26% nos últimos sete meses, diz INPE

Foto: Desmatamento Porto Velho (RO).                                                                                                    Fonte: G1.Globo.com



Por NTV
Os alertas de desmatamento na Amazônia Legal subiram 26% nos últimos sete meses, no intervalo entre 1º de agosto de 2012 e 28 fevereiro de 2013, em comparação com o mesmo período anterior, de 1º de agosto de 2011 a 28 de fevereiro de 2012, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgadas nesta quinta-feira (28).
Os dados, que incluem a degradação (desmatamento parcial) e o corte raso (desmatamento total) da floresta, foram registrados pelo sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Inpe, o Deter, que usa imagens de satélite para analisar a perda da mata em nove estados.
No total, 1.695 km² da floresta foram destruídos ou degradados nos últimos sete meses, área pouco maior do que o tamanho da cidade de São Paulo, de 1.521 km², de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já entre 2011 e 2012, foram perdidos 1.339 km² de mata, no mesmo intervalo de tempo.
Quatro meses
Só nos últimos quatro meses, de novembro de 2012 a fevereiro de 2013, houve alertas de desmatamento em 615 km² da floresta amazônica, segundo o INPE. O número é 15% maior do que o registrado anteriormente: 536 km² desmatados, entre novembro de 2011 e fevereiro de 2012.
A cobertura de nuvens na região amazônica prejudica a análise do Deter, afirma o INPE. Em novembro de 2012, 34% da floresta estava coberta por nuvens; já em dezembro, a cobertura foi de 54%. Em janeiro, 67% da Amazônia estava coberta por nuvens, enquanto em fevereiro o índice foi de 64%.
Por estado
Os dados do INPE apontam que o estado com o maior registro de alertas de desmatamento nos últimos sete meses foi o Mato Grosso (734 km²), seguido do Pará (428 km²), Rondônia (270 km²), Amazonas (151 km²) e Roraima (50 km²).
Os primeiros três estados também foram os "líderes" em destruição da floresta: Mato Grosso (604 km²), Pará (300 km²) e Rondônia (232 km²) tiveram mais desmatamento entre agosto de 2011 e fevereiro de 2012, segundo o Inpe.
Proporcionalmente, o aumento do desmate foi grande no Maranhão (crescimento de 121%) e no Tocantins (81%), aponta o INPE.
Fiscalização
Segundo o diretor de proteção ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Luciano de Meneses, o órgão teve que encontrar novos métodos de fiscalização após constatar o aumento no número de alertas de desmate.
"Entramos com a Operação Onda Verde, ocupamos as seis áreas críticas que respondem hoje por 54% de todo o desmatamento da Amazônia. Colocamos bases móveis com autonomia. Essas bases tem agentes do IBAMA, agentes da Força Nacional de Segurança, agentes da Polícia Rodoviária Federal", afirmou o diretor.
Fiscais do IBAMA na Operação Onda Verde apreenderam mais de 65 mil m³ de madeira em toras que circulavam de forma clandestina pela floresta, entre 1º de agosto de 2012 e 25 de março de 2013. Desse total, quase 38 mil m³ de madeira foi encontrada no estado do Pará, e 15,7 mil m³, em Mato Grosso.
Além de madeira, o IBAMA confiscou 110 tratores, 60 caminhões, 216 motosserras e 32 armas de fogo na Amazônia Legal. A maior apreensão de motosserras ocorreu também no estado do Pará (137), seguido do Mato Grosso (39) e de Roraima (19).
No total, o órgão aplicou 3.180 autos de infração entre agosto de 2012 e março de 2013, cujo valor de multas, somadas, ultrapassa R$ 1,4 bilhão.
"Mato Grosso e Pará sempre foram os 'campeões' do desmatamento", disse o diretor do Ibama. "Esses alertas, a gente entende que eles possam estar sendo impulsionados pelo boom das commodities agrícolas, pelo aumento [do preço] do ouro e pelo aumento do preço da terra."
Análise em campo
Técnicos do Ibama foram a campo para analisar os dados de desmatamento, e checaram 1.053 polígonos com suspeita de devastação, de um total de 2.072 informados pelo Deter.
Em 46% dos polígonos analisados, o IBAMA constatou que houve corte raso, isto é, a remoção total da mata. Em outros 47%, os técnicos encontraram degradação parcial da floresta. No restante, 7% dos polígonos, o IBAMA afirma ter identificado um "falso positivo", áreas como espelho d'água ou afloramento rochoso que não correspondem à degradação.
Balanço anual
O último balanço anual de desmatamento divulgado pelo Inpe apontou que 4.656 km² da Amazônia haviam sido perdidos entre agosto de 2011 e julho de 2012. A área, calculada pelo sistema Prodes, equivale a mais de três vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
O Prodes consolida dados coletados ao longo de um ano por satélites, capazes de detectar regiões desmatadas a partir de 6,25 hectares, e não pode ter suas informações comparadas com o sistema Deter. São computadas apenas áreas onde ocorreu remoção completa da cobertura florestal – característica denominada corte raso.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro continua

Fonte: noticias.r7.com 
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Há pouco tempo atrás, a região metropolitana do Rio de Janeiro foi abalada por uma grande tragédia na região serrana do estado, mais especificamente na baixada fluminense. A catástrofe que provocou dezenas de vítimas fatais e deixou centenas de pessoas desabrigadas, voltou a se repetir no período chuvoso deste ano de 2013, embora as medidas para a recuperação das moradias dos familiares das vítimas da tragédia passada ainda não tivessem sido tomadas. É uma verdadeira vergonha o descaso com que os governantes deste país (em níveis federal, estadual e municipal) tratam destas questões. Aproveitam destes eventos (tristes e dolorosos para as vítimas) para se promoverem e/ou fazerem lobbies político-eleitoreiros.
À época da primeira tragédia, a Defesa civil chegou a “ordenar” que as famílias atingidas pelos deslizamentos de solo saíssem da região e procurassem moradia em outros locais. Aí é que nos vem à mente a indagação que não quer calar: Onde estas pessoas irão morar? Para onde elas irão? O que farão para recomeçar suas vidas? O pior de tudo, é que tem muita gente que acha que estas pessoas moram nas encostas dos morros porque querem. Na verdade, elas o fazem porque são segregadas do espaço habitável das grandes cidades. Elas são expulsas das áreas planas e habitáveis, pela força do preço abusivo das terras, pela especulação imobiliária (os chamados “terrenos de engorda”), indo parar nos locais inabitáveis, nas áreas insalubres e de risco.
E, por que estes locais são susceptíveis a desmoronamentos? As encostas e vertentes de morros são locais inclinados: estes locais são marcados pela inclinação do terreno, o que o torna vulnerável, susceptível aos deslizamentos de massas: pela força da gravidade somada à declividade do terreno e pelo solo raso que não se fixa sobre a rocha matriz que o sustenta. Todos estes problemas, somados à falta de estrutura física dessas residências marcadas pela precariedade das fundações, pelo material barato e de segunda mão nelas utilizados e pela ausência de qualquer tecnologia de construção civil, pois são feitas geralmente em regime de mutirão, não obedecendo a quaisquer técnicas. Esta série de problemas, adicionados à ausência completa de planejamento urbano e à total falta de orientação das autoridades competentes, deixam estas edificações em condições de risco permanentes. Então, são problemas que não podem ser solucionados pelas comunidades carentes, mas que deveriam contar com o apoio dos poderes públicos (nos três níveis: federal, estadual e municipal).
Então, nossos governantes deveriam em primeiro lugar, antes de sugerir a mudança e deslocamento das comunidades para locais que nem eles sabem onde ficam, auxiliar essas populações com o planejamento de moradias dignas, em locais planos, onde se levem em consideração estudos e pesquisas embasados no uso correto do solo urbano. Trata-se, antes de tudo, de uma política correta de prevenção de riscos, que atendam os interesses das comunidades carentes e não aos anseios daqueles que vivem da especulação imobiliária em nosso país.
Mal acabamos de chorar pelas vítimas da imprudência em Santa Maria (RS) e continuamos a contar a dor e o sofrimento. Até quando vamos ter que tolerar estes descasos?  Se nossos governantes e autoridades não chamarem para si esta responsabilidade, todos os anos, com toda a certeza, contaremos nossos mortos e desabrigados, em tragédias como as da região serrana do Rio de Janeiro e colocando tapumes para esconder nossas favelas para não “poluírem” os olhares dos turistas que certamente virão gastar seus dólares na copa do mundo de 2014 e nas olimpíadas de 2016 na cidade ainda maravilhosa.   


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

domingo, 24 de março de 2013

É preciso saber viver!

Fonte: atalaiadesiao.blogspot.com
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Vivemos na sociedade denominada de “moderna” ou “sociedade da modernidade”. Os percalços da evolução tecnológica que dariam a marca contundente destes tempos d’agora, foram brilhantemente desvendados por Charles Chaplin (o “Carlitos”) numa película encenada e dirigida por ele mesmo sob o título de “Tempos Modernos” (Modern Times). Nesta peça cinematográfica, ele apresenta sob o prisma do humor, o que prometia o novo modelo de sociedade que se descortinava para a humanidade: a sociedade urbano-industrial. Na visão de Chaplin, a Revolução Industrial daria um golpe duríssimo nos aspectos sócio-econômicos e culturais até então experimentados pelo homem. O modelo de sociedade apresentado pelo capitalismo emergente não deixaria “pedra sobre pedra” nos costumes, modos de vida, hábitos e crenças milenarmente consagrados e experimentados pela humanidade. Na verdade, a obra exuberante de “Carlitos” extrapolou as telas do cinema, vindo se acomodar na realidade dos novos tempos que se apresentavam em termos concretos para um mundo em evolução (ou será involução?).
De fato, de lá para cá, a sociedade moderna superou (e muito) o que dela se esperava em termos de desenvolvimento tecnológico. A promessa de felicidade humana apregoada pelas três palavras da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) descortinou uma enorme gama de novas possibilidades para uma parcela da população mundial, enquanto que, por outro lado, também descortinou uma gama incalculável de mazelas sociais que iriam abalar o mundo, colocando amplos setores da humanidade em condições subumanas de sobrevivência. Nos tempos presentes, enquanto o capital na tentativa de perpetuar sua mais-valia abre novas possibilidades para um ínfimo setor da população do planeta, em contrapartida, joga na miséria e na fome, amplos setores da população planetária, ao mesmo tempo em que inventa mercadorias e supérfluos que não se encaixam nas demandas primárias (e mesmo secundárias) das necessidades humanas. Primeiro, cria-se o produto (mercadoria), depois se inventa a sua necessidade de consumo.
O mais irônico na tal sociedade da modernidade é que passamos a ser bombardeados diuturnamente por uma quantidade inimaginável de informações, as quais o nosso cérebro é incapaz de processar no instante em que as recebe, mas que ficam armazenadas em nosso subconsciente, para retornar à tona no momento em que o capital necessite para se reproduzir, mantendo acesa a chama reluzente da mais-valia. O capital conseguiu misturar os conhecimentos acerca do funcionamento do psicológico (mente) humano com os conhecimentos de marketing dos novos mecanismos tecnológicos da informação e comunicação. Com isso, ele inaugura uma fase poderosa de potencializar seu poder de fetiche em induzir as pessoas ao consumo exacerbado de seus supérfluos e descartáveis. Esta é a nova lógica da sociedade moderna prevista por Chaplin nos “Tempos Modernos”.
Diante dessa lógica quase ilógica, é preciso que consigamos separar o joio do trigo, ou seja, é necessário que agucemos nossa percepção acerca do que é real, do que é supérfluo e descartável, separando-os do que é importante e necessário, sob pena de sermos tragados, engolidos pelas artimanhas construídas pelo fetiche do consumo capitalista. Se concordarmos com este estilo, com este padrão de vida proposto pelos “Tempos Modernos” é preciso que saibamos viver no meio deste labirinto que não faz a distinção entre o real e o ilusório. Agora, se não concordamos com este paradigma, é preciso que saibamos resistir às tentações da sociedade do supérfluo. Por isso, neste modelo de sociedade que confunde o racional com o irracional, é preciso, mais do que nunca, saber viver.    


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

segunda-feira, 18 de março de 2013

AS DIVERSAS FORMAS DE AMAR

Fonte: www.flickr.com
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
O que é o amor? Esta é uma excelente pergunta, porém, de dificílima resposta. Muitos confundem o ato de amar as pessoas, com a simples transferência de responsabilidades dos outros para si. Há os que acham que amar é decidir caminhos para outros trilharem. Quantas vezes não vemos pais escolhendo profissões para seus filhos, como se esta fosse uma fórmula mágica capaz de desvendar os caminhos para a felicidade. Às vezes, bem lá no íntimo, talvez estas pessoas, estejam esperando resolver suas próprias frustrações, ou então tentando fazer com que seus filhos sejam à sua imagem e semelhança. Existem, ainda, aquelas pessoas que confundem o amor com super-proteção, ou seja, tentam isolar as pessoas que amam de todos os perigos do mundo e da vida, como se elas pudessem viver em um mundo paralelo, distante da realidade da vida. Este talvez seja um dos piores equívocos que alguém pode cometer, pois, ao agir assim, ao isolar a pessoa da realidade concreta, na verdade estar-se-á ceifando dessa pessoa a capacidade de lidar com o real, de enfrentamento dos problemas do mundo e da vida.
Então, insistimos, o que é o amor? Esta é uma palavra abstrata, subjetiva, que poucas pessoas podem ter uma singela noção do seu significado, outras nem isso. Para se construir a idéia desta noção, é preciso, em primeiro lugar, desarmar o coração. O amor talvez seja o ato da busca de compreensão do outro sem pedir nada em troca. Talvez seja a capacidade de ouvir o outro, solidarizar-se com ele e se entregar com ele na busca de soluções para seus problemas. Possivelmente seja a capacidade de enxergar a beleza num lugar onde a maioria enxerga o escuro, o feio. Pode ser a capacidade de compreender o mundo por intermédio da simplicidade, talvez seja o poder de ver o “belo” no simples, fugir da luxúria, da avareza, da arrogância barata, da hipocrisia. Amar pode ser o simples ato de perceber e admirar as coisas belas do mundo e da vida. Mas, para que cheguemos próximo da noção do ato de amar, em primeiro lugar é necessário que nos aceitemos, que percebamos a nós mesmos como pessoas que sejam sujeitos de sua própria história. Talvez, o amor seja o desejo de exercitar nossa capacidade de “ser”, em detrimento do “estar” no mundo e participando ativamente da dinâmica desse mundo.
Então, podemos inferir que existem centenas de maneiras de construirmos a noção de amor. E, todas elas passam pelo exercício de desarmar o coração, de buscar no fundo de nossa existência, a nossa essência, enquanto sujeitos atuantes no sentido de transformação da realidade individual e, acima de tudo, do coletivo, da sociedade ou do grupo social no qual vivemos. É preciso, antes de tudo, termos a convicção de nosso estado de incompletude e, adquirindo tal concepção, construir o esforço para alcançar a percepção de nossas tarefas e de nosso lugar neste mundo de homens e de coisas. Assim, ao avançarmos no sentido de compreender o nosso lugar no mundo, estaremos, sem dúvida alguma, justificando nossa existência e, ao fazermos isto, com certeza estaremos dando um passo decisivo para a apreensão da noção da subjetividade existente na noção do vocábulo chamado de amor. O amor pode ser simples como uma bela canção! Basta que estejamos de coração aberto para ouvi-la! 


* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com