Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Quando observamos, com cuidado, as
mazelas da sociedade capitalista dos tempos d’agora, geralmente voltamos nossa
atenção para as grandes potências capitalistas que ditam os rumos e os
“destinos” da humanidade: os EUA e a Europa. Mas, ao voltarmos o nosso olhar
para tais territórios notamos o quão desgastado eles estão. Não se detecta
nenhuma vegetação original, nenhum retalho de mata nativa. Ao analisar tais
continentes, nos deparamos com solos exauridos, terras cansadas e erodidas, que
somente sobrevivem como substrato recheado de insumos agrícolas e produtos
químicos, o que dão a elas mais uma breve etapa de sobrevida na perspectiva da
produção de alimentos.
Quando olhamos para os grandes
centros urbanos destes continentes (sinônimos da evolução da tecnologia
moderna), nos deparamos com o sintético, com a mera artificialidade enquadrada
em pedaços monótonos de natureza ausente. Locais de afirmação da espécie humana
sobre as demais espécies e elementos da cadeia trófica, de afirmação completa
do homem sobre a natureza. Mas, para que ele se afirme sobre ela (a natureza) é
preciso extingui-la, transformá-la em coisas inanimadas, roubando-lhe a vida. A
afirmação do homem sobre a natureza e seus elementos se dá da forma mais cruel
possível, por intermédio do sequestro de seus recursos da pilhagem da seiva que
mantém a vida de milhares de espécies de seres vivos. Diante disso, é
assombroso, tenebroso, sinistro, observar a totalidade da natureza ausente que
toma conta das ditas potências capitalistas da modernidade.
Porém, ainda resta-nos o esplendor
e a exuberância de uma parte do gigante sul americano. Este majestoso
continente, ainda meio adormecido, resiste (não se sabe por quanto tempo) à
voracidade e à ganância humana. Quando observamos a exuberância da Floresta
Tropical Amazônica nos damos ainda conta de quanta vida existe neste gigantesco
e majestoso continente. A vida pulula na selva tropical, expressando em todos
os tons e matizes e enorme riqueza em biodiversidade deste enorme ecossistema
natural. Mas, a ganância e voracidade do lucro facilitado já tomam conta de boa
parte de diversos biomas da América do Sul, a exemplo do cerrado (a grande
caixa d’água do continente sul americano). Boa parte da vegetação do cerrado já
foi devorada pela motosserra, pelo machado e tratores, em nome do lucro
facilitado para uma pequena parcela da humanidade. Da majestosa Mata Atlântica
só se encontram retalhos, a maior parte do bioma já está se transformando em
torrões ressecados e inférteis, em simples substratos encharcados de insumos
para sustentação de plantas geneticamente modificadas, “melhoradas”.
Podemos afirmar que o continente
sul americano é uma das últimas amostras originais dos ambientes terrestres e
pode ainda ser considerado um gigante sonolento, quase adormecido. É preciso
acordá-lo e orientá-lo, pois, sua magnífica força ainda pode deter a
imprudência humana, ainda pode frear o lucro desmedido. O gigante sul americano
talvez seja um dos últimos soldados dessa batalha altamente desigual. Talvez,
ele seja a última fronteira de resistência, a derradeira trincheira que possa
impedir o avanço vertiginoso das motosserras e machados. Por isso, é preciso
que saibamos despertá-lo, orientando sua astúcia contra as forças propulsoras
da prepotência humana. Salve a América do Sul, acorde para o combate
definitivo, pois, os sensatos necessitam de ti!
* Escritor. Geógrafo, Mestre e
Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Professor e pesquisador
da universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário