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Fonte: morangonomel.com |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
“Eu
quero uma casa no campo! Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus
livros e nada mais!”. Estes singelos versos da letra da canção de Zé Rodrix
e Tavito são magníficos e apropriados para uma bela reflexão acerca dos grandes
problemas e abalos decorrentes dos stresses gerados a partir do fenômeno da
urbanização na sociedade dos tempos d’agora.
Vivemos num modelo de sociedade que prima
pela “vida enlatada” das cidades e dos grandes centros urbanos. Nos grandes
centros urbanos, característicos das metrópoles e megalópoles, cada dia, cada
rotina do dia a dia torna-se uma aventura. Mas, não uma aventura prazerosa, mas
uma sequência de riscos, onde a manutenção da vida torna-se um combate final,
uma batalha perigosa. Ao sairmos para o trabalho rotineiro, não temos a mínima
certeza se regressaremos ao nosso lar, se voltaremos para o seio da família,
enfim, quando saímos de manhã, não temos nenhuma certeza do nosso retorno à
noitinha.
O ambiente urbano da modernidade, um
amontoado de insignificâncias, é marcado, fundamentalmente, pela marginalidade,
pelo medo, pelo caos e pela pressa. Já não sobra nenhum tempo para fazermos uma
boa refeição prazerosa, nem tomarmos um café da manhã lendo notícias
significativas nos jornais. Ficamos totalmente à mercê do tempo, escravos do
relógio. O jornal já não traz mais nenhuma notícia prazerosa, significativa,
interessante, mas, traz, no netanto, estampado na capa, em letras garrafais, a
morte e a violência. Aliás, esta sociedade consegue transformar a violência em
algo desejável por muitos, em mercadoria fresca, pronta para o consumo. Existem
grandes fatias do mercado midiático que infelizmente sobrevivem à custa da
desgraça humana, fazem dela seu meio de sobrevivência. A violência de muitos se
transforma no lucro de alguns poderosos.
Estas são as mazelas urbanas dos tempos
presentes. Já vão longe os tempos onde se podia passear tranquilamente nos bondinhos
de Santa Teresa (na cidade maravilhosa) ou mesmo tomar um bom chá nos bares da
Urca. E, o pior de tudo é que existe um monte de gente que tenta nos convencer
de que tudo isto é qualidade de vida. Que não podemos ser felizes sem esta
parafernália toda, que não podemos viver sem os ruídos estridentes, sem o “neon” da poluição visual e sem o veneno
dos enlatados que consumimos nos Shoppings Centers. Aliá, ele (o shopping Center)
é a marca maior desta sociedade do supérfluo e do descartável. Ele não tem
janelas para que percamos propositalmente a noção do tempo. Trata-se de um
ambiente sinteticamente acondicionado para que não sintamos frio nem calor e
fiquemos em seu interior e consumamos o máximo possível de tempo. E, para isso,
as lojas são estrategicamente localizadas em todos os lados dos corredores para
que jamais as percamos de vista. Por isto, os Shoppings são os símbolos máximos
das metrópoles, os símbolos máximos do “bem-estar” desta sociedade onde tudo é
coisificado.
Então, a cidade enquanto uma porção do
espaço de “natureza ausente”, do sintético, do superficial, é um artifício
poderoso para afastar o homem das coisas naturais e realmente belas. Criam-se
valores estéticos de acordo com as regras do consumo, onde todos os nossos atos
são milimetricamente controlados pela “estética” artificialmente induzida,
forçada, que tem com principal função determinar o que é belo ou feio, o que
está na moda ou fora dela, do que devemos gostar e o que devemos desprezar. Já não
podemos escolher, escolhem por nós. Já não podemos pensar, pensam por nós.
Bem, meus caros leitores! Estes são os
valores encontrados como marca do bem-estar desta sociedade, como símbolo maior
dos valores que escolheram para dar significação à nossa existência. E, é por
tudo isto que eu reafirmo a canção de Zé Rodrix: “Eu quero uma casa no campo! Onde eu possa ficar no tamanho da paz [...].
Onde eu possa plantar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais!”
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisador
e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
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