Por Valter Machado da
Fonseca
Lá fora o vento frio desafia a noite
Vultos se esgueiram
fugitivos
Mendigos vadios,
encharcados, tentam em vão se abrigar
Na penumbra amarelada das
chamas quase extintas
Transparecem os rostos
tristes e cansados dos andarilhos
No quarto frio da pequena
pousada
Contrastando com o vento
gélido lá de fora
Corpos se encontram, se
abraçam com loucura
No furor, incontrolável do
desejo ardente dos amantes
Botões se soltam, roupas se
rasgam bruscamente
Deixando a mostra os corpos
nus enegrecidos
A cor morena realça o tom
de encanto celestial
Dos corpos ardentes do
desejo e do delírio
Mãos se apertam, acariciam,
se intrometem
Nos recantos íntimos,
proibidos, imorais
Os corpos se encaixam com
perfeita precisão
Unhas e dentes cortam a
carne com as garras da paixão
Línguas ávidas se
contorcem, se devoram
Lambem as bocas, os corpos
suados e ousados
Os pelos eriçados, os seios
rígidos enfurecidos
Não escapam à volúpia das
carícias desmedidas
Peitos ofegantes, gargantas
secas, bocas entreabertas
Deixam escapar o som rouco
das palavras obscenas
Gemidos e sussurros
se misturam, se confundem
Nas paredes úmidas e
geladas da pousada adormecida
Grutas se abrem, molhadas
pelo fogo da paixão
Abrindo espaço para a
língua ansiosa, rígida e voraz
Que audaciosa suga a seiva
transparente, adocicada
Que jorra da fonte
indecente dos afagos escondidos
Dentro do quarto frio e
úmido da pequena pousada
Só existe o calor ardente
dos corpos suados
O côncavo e o convexo se
expressam em plenitude
Arrancando gritos e
suspiros profanos, despudorados
As pulsações descontínuas
dos corações acelerados
Provocam o ritmo frenético,
dos corpos apaixonados
Enquanto lá fora, o vento
frio corta a noite acinzentada
Chicoteando os corpos
cansados dos mendigos fugitivos
Enquanto as chamas das
fogueiras quase apagadas pela chuva
Encobrem os vultos, os
rostos tristes dos andarilhos
Na intimidade do quarto
aquecido pela chama do intenso amor
Os corpos explodem no
sublime orgasmo do esplendor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário