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Fonte: comoze2.blogspot.com |
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
Pode
parecer saudosismo, mas que seja! Lembro-me com nostalgia dos tempos em que
podíamos passear livremente pela cidade, sentarmo-nos nas portas das casas, num
belo final de tarde. Já se vão longe aqueles tempos em que se dava valor a uma
boa prosa, um cafezinho à beira do fogão de lenha. Já são idos os tempos em
apreciávamos uma bela fogueira em tempos de inverno, onde a prosa corria solta
à beira da lareira ou podíamos apreciar as quitandas da avó, feitas no forno de
barro. Aqueles sim! Aqueles eram tempos felizes de mocidade, em que se dava
valor à “moda” de viola sertaneja de raiz, às belas canções regionais, que
falavam das coisas simples da roça, do gado, da gente simples do campo e do
sertão. Enfim, já se foram aqueles dias em que éramos realmente felizes e não
sabíamos.
Pois bem, meus caros leitores! Hoje, os
tempos são outros. São os tempos denominados de modernidade, nos quais as
pessoas dão valor a outras coisas, a coisas e objetos sintéticos, a valores
banais, e se travestem com ilusões superficiais e ilusórias. A boa música foi
substituída pelo som agudo e estridente, a melodia foi trocada por xingamentos
intempestivos e os acordes se transformaram em ruídos ensurdecedores. As pessoas
já não têm tempo para as outras pessoas, elas já não têm tempo para uma boa
prosa, pois, a Net é mais interessante, a desconversa virtual é muito mais
empolgante. O prazer para as pessoas e a gente moderna está no fetiche e no
consumo, a satisfação está em comprar banalidades, em se entupir de
futilidades. E com isso, o homem se desumaniza, se coisifica, se transforma em
mercadoria disputada pela ânsia do lucro desmedido. A cada dia que passa o
homem se torna mais distante de suas raízes e de sua essência.
Então, torna-se extremamente necessário
recorrermos, vez em quando, às velhas lembranças, retornarmos ao saudosismo,
pois ele é o retalho das recordações que restam dos tempos felizes de outrora. É
urgente, vez em quando, remexermos o velho baú das recordações, é relevante que
o exploremos em busca de uma dose de nostalgia e de momentos de felicidade,
pois, eles são importantes para mantermos acesa a chama da esperança de tempos
vindouros melhores, mais significativos. É preciso, vez em quando, vasculharmos
bem os cantinhos do nosso ser, talvez em busca de uma velha recordação, de um
suspiro de inspiração e saudade. Talvez, por debaixo da poeira que invade o
nosso íntimo, quem sabe não jaz, quieto, um pingo de humanidade que
ressignifique nossa razão de ser neste mundo e neste universo infinito e de
infinita beleza.
É por tudo isso, ou seja, talvez por
acreditarmos na existência de uma dose (pequena que seja) de esperança, é que
valha a pena insistirmos na crença nos humanos. Quem sabe, no meio de todos
estes valores fictícios, nos interstícios e nos labirintos dos tempos modernos,
não esteja escondida aquela faísca de esperança que seja capaz de avivar o fogo
da volta do homem à sua condição humana. Quem sabe, bem no íntimo dos cérebros em
desconstrução, em desumanização, não esteja esquecida, num canto qualquer, a
fagulha necessária para reascender a chama da transformação desta realidade
bestial desses tempos d’agora, denominados de tempos modernos.
Se observarmos do espaço, do firmamento,
veremos que a Terra continua azul, que o planeta ainda resiste a toda a estupidez
humana. De longe, do espaço sideral, podemos perceber que, mesmo com a presença
de um homem disforme, bestial, desumanizado, o planeta continua belo e
resplandecente, dando-nos a certeza de que o homem, ao invés de uma “criação suprema”,
talvez seja fruto de uma aberração da natureza, como um feto mal formado no
ventre de uma bela criatura chamada “Gaia”.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Pesquisador
e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com
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