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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

MICRO-CLIMAS OU “ILHAS DE CALOR”

Foto: O descaso urbano                                                                                                                                          Fonte: tvsaj.net

Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*

As “alterações climáticas” têm sido tema de importantes debates nos tempos presentes, principalmente no momento em que são registradas temperaturas cada vez mais altas em todos os locais do planeta. Estes eventos climáticos têm aumentado de intensidade, em especial a partir da segunda metade do século XX e, agora, no início do século XXI vem ganhando contornos de grande gravidade, em função de uma série de ações antropogênicas sobre a natureza e seus recursos. Grande parte dessas anomalias climáticas se deve à retirada desmedida das vegetações em áreas essenciais para o equilíbrio do grande ecossistema planetário. Aliado à remoção das fitofisionomias dos mais diversos biomas, ocorrem, ainda, a intervenção antrópica sobre os recursos hídricos, solos e atmosfera, aumentando exponencialmente o grau de drasticidade desta problemática. Nas cidades, o fenômeno das anomalias climáticas fica ainda mais evidente, em função da remoção da vegetação urbana, do aumento exorbitante dos veículos automotivos e das atividades industriais. Podemos dizer que esta série de ações humanas sobre o espaço urbano constitui o escopo da problemática socioambiental urbana. Um dos efeitos mais nocivos desta onda de ações inconsequentes no espaço urbano é o que denominamos micro-climas ou “ilhas de calor”.

Mas, o que vem a ser os micro-climas ou “ilhas de calor”, afinal? Podemos dizer que são anomalias climáticas da era moderna. São mudanças climáticas urbanas pontuais, geralmente associadas à urbanização desordenada, fruto da retirada da vegetação, plantios de monoculturas de exportação, em especial a cana-de-açúcar. É notório e cientificamente comprovado que as vegetações estão diretamente associadas ao processo de refrigeração do planeta, ao aumento da umidade do ar e, consequentemente, à manutenção da estabilidade do regime de chuvas. Além de estarem associadas aos processos da dinâmica climática, as vegetações também têm influência direta sobre a fertilidade dos solos, à manutenção da biodiversidade e à estabilidade dos níveis dos corpos d’água de superfície (lagos, rios, córregos, riachos e ribeirões).

Os micro-climas ou “ilhas de calor” são formados especialmente a partir da remoção das vegetações (fitofisionomias) de praças, avenidas, ruas jardins, áreas verdes municipais e do entorno das cidades. A retirada destas formações vegetais provoca o aumento localizado (pontual) da temperatura em diversos locais das cidades e dos centros urbanos. O fato é muito comum em grandes centros urbanos e em locais onde existem grandes cultivos de monoculturas para exportação, a exemplo da cana-de-açúcar. Estas anomalias pontuais já são bastante percebidas em cidades como Ribeirão Preto, Ourinhos, Sertãozinho, Uberaba, Conceição das Alagoas, dentre outras, onde há a predominância deste tipo de monocultura. Nestes locais pode-se perceber nitidamente a diferença de temperatura entre as áreas arborizadas e não arborizadas, entre áreas onde as formações vegetais foram removidas em função das monoculturas e áreas onde estas fitofisionomias foram preservadas. Às áreas que sofreram o desequilíbrio climático recente, dão-se o nome de áreas de micro-clima ou “ilhas de calor”.

A ocorrência dessas anomalias climáticas urbanas pontuais serve como elemento de reflexão altamente significativo acerca da importância do planejamento urbano ambiental correto e eficiente. Se a retirada pontual da vegetação pode provocar a mudança da temperatura em determinado ponto isolado, imaginem vocês o que ocorrem em locais onde existem atividades antrópicas intensas sobre os recursos florestais, a exemplo dos grandes desmatamentos, da retirada das formações vegetais que compõem as matas ciliares, da remoção das vegetações que protegem as nascentes dos corpos d’água? Além de provocar as “ilhas de calor”, as remoções inconsequente das formações vegetais ainda provocam o aumento das pragas e a superpopulação de animais peçonhentos, em função do desequilíbrio ambiental promovido nas cidades devido a estas práticas. Neste sentido, o homem deve repensar, urgentemente suas ações sobre o uso e manejo corretos do solo urbano sob pena de, em curto espaço de tempo, transformar as cidades em locais inabitáveis e impróprios para se viver, sintomas que já se fazem altamente perceptíveis nos tempos presentes.      



* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).  Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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